Luanda - O êxodo de médicos africanos para nações ocidentais como os Estados Unidos, o Canadá e a Europa é um fenómeno que frequentemente suscita debates acesos. Por um lado, estes profissionais encontram melhores oportunidades de carreira e condições de vida no estrangeiro, o que é compreensivelmente atrativo. Por outro lado, a sua partida agrava a escassez aguda de cuidados de saúde nos seus países de origem, onde as proporções médico-doente já são terríveis.

Fonte: Club-k.net

A formação destes médicos, que muitas vezes demora mais de sete anos, é um investimento significativo para qualquer país. O facto de muitos médicos formados em África terem de passar por exames adicionais para exercerem a sua profissão no Ocidente só sublinha a sua determinação e empenho nesta área. Uma vez no estrangeiro, muitos integram-se com sucesso e destacam-se nestes novos sistemas médicos. No entanto, a questão permanece: será a migração destes médicos totalmente negativa?

Durante o meu tempo em Angola, particularmente na aldeia Camela Amões no Planalto Central de Angola, testemunhei em primeira mão as necessidades críticas de cuidados de saúde que persistem em muitas partes de África. Médicos da Igreja Copta do Egito visitavam a região e eu servi como seu tradutor. A experiência foi reveladora. Residentes de Bailundo, Huambo, Kuito e áreas circundantes acorriam a estas clínicas improvisadas, desesperados por cuidados médicos. Muitos dos problemas de saúde que enfrentavam, desde infecções parasitárias em crianças até à hipertensão não diagnosticada em adultos, eram agravados pela má qualidade da água - um problema potencialmente solucionável com melhores infraestruturas e educação.

Ao falar com estes médicos, tornou-se evidente que os cuidados de saúde vão além do tratamento de doenças; requerem uma abordagem holística que considere o ambiente, as crenças, e os recursos do paciente. Este facto reforçou a importância das práticas de higiene e saneamento que outrora eram de conhecimento comum nestas comunidades, tais como água fervida e roupa de cama seca ao sol, ensinadas por missões e escolas locais há décadas atrás.

A migração de médicos africanos é frequentemente vista através de uma perspetiva de perda para África. No entanto, é crucial reconhecer que esta não é apenas uma história sobre o que África perde; é também sobre o que o continente poderá ganhar. Estes médicos enviam frequentemente remessas que apoiam as economias locais. Além disso, tornam-se parte de redes globais através das quais conhecimentos, competências, e recursos podem potencialmente regressar aos seus países de origem.

Um fator frequentemente esquecido é que os médicos que vão para o estrangeiro para formação avançada não se esquecem de África. Na verdade, o seu tempo no exterior serve-os bem quando regressam. Ganham exposição a tecnologia médica sofisticada e investigação de ponta, imergindo nas últimas publicações e trocando conhecimentos com colegas experientes. Isto cria uma valiosa circulação de conhecimento.

Estes médicos regressam frequentemente a África não só para retomar a prática, como também para ensinar. Tornam-se canais vitais, trazendo de volta não só os seus próprios conhecimentos adquiridos, mas também uma compreensão mais profunda dos desafios específicos de cuidados de saúde enfrentados em casa. Este fluxo de mão dupla é crucial. Os médicos no estrangeiro mantêm-se frequentemente ligados a colegas em África, mantendo-se a par das questões no terreno. Além disso, os seus estudos no estrangeiro em instituições de prestígio permitem-lhes destacar doenças específicas da região africana, fomentando a colaboração internacional e a investigação centrada nestes desafios médicos únicos.

Abordar os desafios de saúde em África envolve mais do que apenas conter o fluxo de médicos emigrantes. Exige um esforço concertado para melhorar as condições locais que não só retêm estes profissionais, mas também tornam os seus trabalhos exequíveis e eficazes. Isto inclui investimentos em educação, infraestruturas, e iniciativas de saúde pública que possam aliviar os fatores ambientais e sociais que contribuem para maus resultados de saúde.

Também envolve desafiar práticas culturais prejudiciais e limitações alimentares que contribuem para problemas de saúde crónicos. É crucial abordar conceções erradas sobre alimentação, saúde, e medicina tradicional. Há uma necessidade de esforços colaborativos que incluam figuras comunitárias influentes, como líderes religiosos e tradicionais, bem como grupos de jovens, para promover práticas mais saudáveis.

Um passo vital nesta direção é a integração dos cuidados de saúde modernos com as práticas tradicionais, assegurando que as estratégias de saúde comunitária sejam culturalmente sensíveis e cientificamente sólidas. O envolvimento com as comunidades através de meios acessíveis, como rádios movidos a energia solar, e a realização de campanhas educativas pode melhorar significativamente o conhecimento em saúde pública.