Luanda - Percebendo bem, na profundidade, o raciocínio do Nélson Mandela, o «equilíbrio» emerge como «factor-chave» do seu Pensamento, que determinou sua estratégia política de acabar com o sistema de Apartheid na Africa do Sul. Presidente Nelson Mandela entendeu bem, de que, o Poder Negro não era uma alternativa à Supremacia Branca. Enquanto, nesta equação, a Supremacia Branca era inviável e insustentável. Na lógica do Nelson Mandela, o denominador comum, nesta equação, é o «Equilíbrio», capaz de estabelecer a igualdade entre as forças, para que, deste modo, haja a proporção harmoniosa entre as partes constituintes da Africa do Sul.

Fonte: Luanda

Ao reflectir-se deste modo, Nelson Mandela assentou seu Conceito Filosófico nos factos reais da realidade sociológica e étnico-cultural da Africa do Sul, um Estado- Nação, composto por Negros, Brancos, Indianos e Mestiços, de origens diferentes e de características distintas. O seu «Pensamento-Mestre» levou Africa do Sul a erradicar o sistema de Apartheid e integrar os seus Povos desavindos, que eram divididos por um muro intransponível – de segregação racial. Misturando o seu sangue, convivendo juntos e partilhando mutualmente o Poder Politico, que era apenas o domínio da Raça Branca.

 

Agora, vencido as barreiras raciais e políticas, os grandes desafios da Africa do Sul são a partilha do poder económico-financeiro e a Reforma Agrária. Pois, a Terra continua a ser o domínio da Raça Branca. Ao passo que, as Comunidades Negras continuam sem acesso às terras, como Património ou como Herança Familiar. O desequilíbrio da partilha da riqueza é evidente e ameaça fortemente o Castelo Multirracial erguido por Nelson Mandela.

 

Constata-se que, as Elites Negras, no Poder, mergulharam-se na corrupção; fazendo-se de assimilados; alinhando-se com a Burguesia Branca, que sempre dominou Africa do Sul. Esquecendo-se da «Contradição Principal» do sistema de Apartheid, que fundava-se nas desigualdades de posse de bens, da ocupação de terras e da distribuição injusta do rendimento nacional.

 

A política de «Black Empowerment», isto é, de Empoderamento Negro, ficou esquecida logo após o derrube do Tambo Mbeki, sucedido pelo Jacob Zuma. A partir daquela altura o Curso traçado por Nelson Mandela, de equilíbrio politico, cultural, económico e financeiro, ficou desviado; tomando outro rumo, caracterizado por desequilíbrios sociais; por desestabilização politica; por corrupção do Poder do Estado; e por aburguesamento de algumas Elites Negras, com acesso ao Poder Politico.

 

Na História da Humanidade, sem medo de errar, Nelson Mandela foi a primeira Figura Negra que destacou-se no Mundo, com qualidades excepcionais, bastante notável e com sabedoria singular. Era o Homem impressionante, honesto, magnético, carismático, modesto e humilde. Era um homem cheio de amor, de ternura, de afecto e de carinho. Amigo íntimo de Crianças. Na minha passagem por Lisboa, fazia comparação entre Angola e Africa do Sul. Mas, de repente, o taxista cortou-me a palavra, dizendo:

“Não compara Nelson Mandela com ninguém. Aquele homem era um «Sabio de Deus», enviado para reconciliar a Humanidade.” Fim de Citação.


De facto, sem dúvida nenhuma, Nelson Mandela é incomparável, sobretudo, nesta época em que o Mundo ficou sem nenhum Líder credível, capaz de fazer sentir a sua influência a nível Global. Todavia, a razão desta Reflexão consiste em fazer valer os «Ensinamentos Sábios» do Nelson Mandela, assentem na igualdade entre as Raças, as Etnias, os Povos e os Indivíduos. Importa realçar que, o Conceito de Igualdade entre as Raças e os Povos se não tivesse o fundamento científico, não teria sido abraçado pela Raça Branca, que tinha na Africa do Sul o enorme poder politico, económico, financeiro e know-how.

 

Nesta problemática, interessa igualmente ter em consideração que, Nelson Mandela fez esta Revolução, em referência, a partir da Cadeia do Robben Island, onde emergiu como Salvador da Africa do Sul e da Humanidade. Alias, a Victória do Barack Obama, nos Estados Unidos da América, para ser aceite pela Maioria Branca, deveu-se ao surgimento do Nelson Mandela, que abraçou a Minoria Branca, que dominava e discriminava a Maioria Negra da Africa do Sul.

 

Contudo, a convicção e o «poder-persuasivo» extraordinário do Nelson Mandela, fez valer os princípios democráticos de liberdade, de igualdade, de justiça, de mérito e de meritocracia, como fundamentos mais sólidos de convivência e de integração entre os diferentes Povos da Africa do Sul. Repare que, o mérito e a meritocracia só existem na qualidade e na personalidade do individuo. Pois, a meritocracia é uma liderança que se baseia no mérito pessoal, isto é, nas qualidades do individuo, em vez de se basear em riqueza ou no estatuto social.

 

Por natureza, a qualidade é universal, existe em todas Raças, Etnias e Povos. Por este motivo, o Poder Politico não deve ser o domínio de um estrato social, de um grupo étnico ou de uma raça. Os Critérios e as Normas do exercício do Poder Político devem ser previamente definidos, aplicados escrupulosamente e respeitados com todo rigor. A violação das Normas Constitucionais tem consequências nefastas. Nesta conformidade, não é aceitável que um grupo de pessoas viole a vontade de um Povo, através de Eleições fraudulentas e manipuladas.

 

Quando isso acontecer leva ao descredito das Instituições do Estado, com implicações directas sobre a Legitimidade das Formações (Partidos) Políticas. Logo, o descredito dos Partidos Políticos tem o potencial de viabilizar Anarquia e o surgimento de tendências radicais e extremistas, que operam fora do sistema politico estabelecido na Constituição e no Direito Internacional. Os Grupos Extremistas operam nesses ambientes de águas turvas, de desespero e da falta de Regras e de Normas Universais.

 

Por isso, os Dirigentes do MPLA enganam-se quando acham que estão acima da Lei, são imunes e são todo-poderosos. Note que, o Mundo vive hoje na Era do Extremismo e de Radicalismo, cujas Doutrinas e Métodos de Acção são muito diferentes das Guerras Convencionais, das Guerras de Guerrilhas ou das Lutas Clandestinas do passado. Nenhum País do Mundo está apto neste momento de travar sua infiltração; de neutraliza-los; ou de eliminá-los fisicamente. Pois, operam-se em minúsculos, sob estratégia de suicídio e de dispersão; vivem e abrigam-se no seio das comunidades; atacam tanto alvos moles quanto duros. O seu «inimigo-alvo» é toda a Humanidade, sem qualquer discriminação.

 

Logo, é insensato e absurdo quando Senhor João Lourenço Gonçalves declarou em Saurimo de que «a pele do MPLA era dura e invencível». Este homenzinho está a viver no antanho, ainda não abriu os olhos para constatar o que está acontecer todos os dias no Mundo, sem que haja capacidade de travar o seu ímpeto e a destruição de vidas humanas inocentes. O Mundo tornou-se um Inferno, em atribulação, onde a vida humana perdeu o seu valor diante tanta violência gratuita, tanta maldade, tanta injustiça, tanta criminalidade, tanta insensibilidade e tanta pobreza. Enfim, amargura tomou conta do Mundo – em todos os Cantos e em todos os Lares.

 

Portanto, no meio de tudo isso, Angola não é uma Ilha isolada. Alias, os Ventos do Radicalismo e do Extremismo já é uma realidade entre nós. Não só isso, mas este fenómeno expande-se e arrasta a nossa Juventude, que é mais atingida pelos efeitos nefastos da má-governação e da corrupção institucional. Acima disso, o fenómeno corrupção tornou-se o veículo mais veloz que viabiliza a implantação do Radicalismo e do Extremismo em todos os Cantos do País, sem qualquer obstáculo. Será que o Candidato do MPLA passa-lhe despercebido esta conjuntura mundial? Ou faz-se de fingido?

 

Na verdade, nas condições actuais do País, de extrema indigência e de descontentamentos generalizados, requer muita cautela, muita prudência e muita seriedade. A Paz e a Estabilidade que temos no País são muito precárias, débeis e delicadas. O que exige a Credibilização das Instituições do Estado e dos Partidos Políticos, de modo a criar condições necessárias para enfrentar eficazmente a crise social, económica e financeira, que assola o País. A fragilização e a descredibilização dos Partidos Políticos é um «Bumerangue» bastante perigoso, com o potencial de mergulhar o País na Anarquia e na Desordem.

 

Neste respeito, verificando bem as paisagens políticas a nível mundial, notarás que as Instituições Politicas do Estado, inclusive os Partidos Políticos, estão num processo gradual e contínua de perca de consideração e de credibilidade no seio das sociedades e das comunidades locais. Há uma serie de factores, causadas pelas exigências da globalização e pelas desigualdades extremas na distribuição da riqueza, que está cada vez mais concentradas na posse de uns poucos, que dominam o Poder Politico e o Poder Financeiro.

 

Na Sociedade Angolana, por exemplo, este fenómeno de monopólio, já é bem evidente. Basta só dar um golpe de vista nas Instituições Bancárias (pulmões da economia angolana) e no Sector Petrolífero para constatar como estão controlados por uma Casta sociológica. Esta camada social, acima referida, continua acumular e a concentrar em sua posse todo o poder económico-financeiro, quer nas cidades quer no campo. Alias, Angola está na senda da Africa do Sul, na qual a «Minoria» detém quase toda a riqueza do País. Importa ressaltar que, o grande desafio da época contemporânea consiste em travar o fenómeno da acumulação e da concentração da riqueza do Mundo numa ínfima Minoria. Para que, por esta via, torne viável o combate contra a pobreza extrema e contra as desigualdades abismais existentes no Mundo.

 

Noutras palavras, o respeito pelas Normas e pelas Regras do Jogo é o factor- determinante do funcionamento normal das Instituições Democráticas, capaz de garantir a estabilidade e a paz duradoira. Isso passa necessariamente por Processos Eleitorais transparentes e verificáveis, capazes de credibilizar o Poder Politico, as Instituições do Estado e os Partidos Políticos. A Lisura das Eleições de 23 de Agosto de 2017 passa obrigatoriamente pelo Escrutínio nas Assembleias do Voto, nos Municípios e nas Sedes Provinciais, onde as Actas Sínteses devem ser devidamente assinadas e afixadas nos respectivos locais.


Neste caso específico, importa realçar que, na democracia o que conta não são os membros escritos num Partido Politico, mas sim, são os Votos Expressos nas Urnas, bem escrutinados – de forma transparente e verificável. Veja só, por exemplo, como o Presidente Emmanuel Mácron, do Movimento Emergente (composto por segmentos da Juventude e da Mulher), derrubou estrondosamente os grandes Partidos históricos da França, tendo ganho uma maioria confortável na Assembleia Nacional da Republica Francesa. O que, de certo modo, vai permitir uma Reforma profunda do sistema politico, económico e financeiro.

 

Parafraseando, o «equilíbrio» preconizado pelo Nelson Mandela consubstancia-se na escolha dos Governantes, dos Legisladores e dos Magistrados por via das Eleições Credíveis, através do «mérito dos candidatos», que resulte na legalidade, na legitimidade e na boa governação. Nesta senda, do «Pensamento-Mestre» do Nelson Mandela, a legalidade e a legitimidade das Instituições do Estado e dos Partidos Políticos da Africa do Sul já é uma conquista evidente. Porém, o maior desafio da Africa do Sul nesta época é a falta de «boa governação», capaz de restaurar a credibilidade e a estabilidade das Instituições do Estado, ameaçadas fortemente pelos escândalos constantes de corrupção do Presidente Jacob Zuma.

 

No caso de Angola, além da corrupção generalizada, o Partido no Poder está empenhado em utilizar os mecanismos do sistema democrático como instrumentos poderosos para inviabilizar o processo da construção e da consolidação da democracia. Tendo como objectivos estratégicos: a) Manter o povo no estado permanente de medo, de incerteza, de pobreza, de atraso e de repressão. b) Enfraquecer, ofuscar e eliminar a Oposição; utilizando o Poder do Estado. c) Consolidar a hegemonia política e o monopólio económico-financeiro.

 

Enfim, nesta Era da Globalização, a Doutrina totalitária e oligárquica não estabiliza, nem credibiliza as Instituições do Estado. Pelo contrário, enfraquece o Estado; mina a Unidade Nacional; erode a Reconciliação Nacional; revolta a consciência popular; agrava descontentamentos; e cria ruptura. Escutai Bem a Voz da Razão!

LUANDA, 20 de Junho de 2017