Luanda - Esta conversa vem a propósito dos cerca de dois milhões e duzentos mil euros autorizados pela vice-Presidente de Angola, Esperança da Costa, para a compra de 20 viaturas de apoio aos colaboradores do Conselho Nacional de Viação e Ordenamento de Trânsito.

Fonte: Club-k.net

Numa altura em que foi suspenso, por falta de verbas, o Programa das 300 bolsas de estudos nas melhores universidades do mundo, a nossa vice-Presidente autoriza, agora, despesas supérfluas. Que vergonha! Por norma, as mulheres, quando adultas, são criteriosas, sensatas e boas gestoras. Não desperdiçam dinheiro para alimentar o luxo na miséria.

 

Que fique claro: ninguém está a advogar para que todos andemos de kandongueiros. Não. Apenas apela-se para que se faça alguma contenção nos gastos e se priorize o que realmente é essencial. O mercado tem viaturas boas a preços modestos. Por quê não apostar nesse mercado? É aqui onde entra o Carro modesto do Embaixador.


Em Junho do ano passado, o embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Reino da Bélgica em Angola, Jozef Smets, foi ao Palácio da Cidade Alta despedir-se do Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço, JLo. Chamou-me a atenção o tipo de carro que transportou o embaixador ao Palácio Presidencial: um Toyota Rav4. É mesmo isso: um Rav4. Esse facto não passou despercebido aos olhos dos mais curiosos e tornou-se motivo de conversas entre o pessoal mais atento. Naqueles dias, só se falava da simplicidade do embaixador Jozef, e comentava-se sobre o seu Rav4, lamentava-se sobre a frota milionária do Governo angolano, e questionava-se o patriotismo e o humanismo dos nossos governantes. Houve quem sugerisse que o embaixador, ao ir de Rav4 ao Palácio, deu uma chapada sem mãos aos nossos governantes obcecados pelas grandes cilindradas. Mas parece-me que a chapada sem mãos ainda não foi descodificada. É a tal coisa da mentalidade pobre e vazia de muitos de nós. Um país em que mais de 50% do OGE é canalizado para o serviço da dívida, não pode se dar ao luxo de gastar o pouco que lhe sobra de qualquer maneira e sem pensar em mais ninguém. Não há dinheiro para a merenda escolar, mas já há para viagens, férias paradisíacas, aluguer de aviões milionários, etc.

 

Seria bom se alguém de direito colocasse a mão na consciência e evitasse gastar com o luxo quando não pode gastar com a formação de qualidade para os jovens que são o "futuro do amanhã".

 

O embaixador da Bélgica, ao ir ao Palácio da Cidade Alta com o seu modesto RAV4, fez uma demonstração muito clara de como um verdadeiro Gestor Público deve usar com parcimónia e respeito os dinheiros dos contribuintes.

Voltarei...

Luanda, 03 de Maio de 2024
Gerson Prata