Paris - Na terça-feira, 11 de outubro de 2011, o senhor Quintino de Moreira, Presidente da Coligação de partidos políticos « Nova Democracia União Eleitoral», falando à Radio Nacional de Angola (RNA), disse o seguinte (transcrevo literalmente o excerto tal que foi publicado em diferentes sitios angolanos, nomeadamente o Angonotícias):


Fonte: Club-k.net

Chegou na AN graças a um acordo secreto com o MPLA

« Quintino de Moreira, disse que o actual momento político do país é saudável e considera desnecessárias as últimas manifestações, visto que, em termos de retrospectiva, Angola viveu 500 anos de escravatura, e trinta anos de conflito armado, por esta razão precisa de uma paz efectiva, bem como uma estabilidade política, económica e social. »


« Porque em abono da verdade, Angola vai para as eleições em 2012, por isso todas as forças que almejam o poder devem necessariamente organizarem-se, reestruturarem-se para este pleito eleitoral e conseguir-se o poder através das urnas, é assim em qualquer parte do mundo, e deve ser assim em Angola. »


Apesar de conter algumas verdades, as afirmações do senhor Quintino de Moreira deixam muito a desejar.  É sim verdade que Angola, depois de tantos anos de guerra precisa agora duma paz duradoura e da estabilidade em todos níveis. Mais para que a paz, conseguida com tantos sacrifícios, e a estabilidade possam durar é preciso que todas partes joguem um jogo limpo e tirem as lições no que se passou ; nas verdadeiras causas do longo conflito armado que assolou o país. Caso isto nao acontecer Angola nunca irá conhecer a paz duradoura. Porque uma das causas da guerra civil foi a exclusão. O MPLA não queria governar Angola com os outros movimentos de libertação nacional. Preferiu desencadear a guerra e ver morrer milhares de Angolanos do que compartilhar o poder com os outros partidos conforme tinha sido acordado no Alvor (Portugal). E esta atitude dominadora do MPLA, esta atitude de impôr aos outros a sua vontade ainda não acabou. E isto é perigoso para o futuro do país. Porque os outros nao irão humilhar-se eternamente.
 

O MPLA tem que aprender a dialogar com os seus adversários e não humilhar-lhes e usar sempre a força para impôr as suas ideias. O diálogo é salutar. O uso da força apenas gera o sentimento de frustração que empurra o indivíduo a vingar-se no momento propício.
 

Quando as reivindicações da sociedade não estão a ser ouvidas e satisfeitas pelo poder político, o único meio que resta e que a democracia permite ao povo em qualquer nação do mundo que se declara « democrática », é descer às ruas e dizer bem alto : « Basta ! Estamos fartos. ».


Francamente, não sei em que país e em que planeta este senhor Quintino vive para ter coragem de fazer tais afirmações. Não vejo como, manifestar o seu descontentamento na rua e de maneira pacífica pode ameaçar a paz e a estabilidade do país. Verosimilmente, este senhor Quintino de Moreira já não vai mudar ! Continua sempre a ser boca de aluguer do governo do MPLA que teima em perpetuar o sistema de partido único ; regime que não está interessado na verdadeira democratização de Angola.


Voltando e comentando as afirmações do senhor Quintino, direi o seguinte.


Em primeiro lugar, o momento político do país está saudável apenas para quem é fanático do MPLA. Atualmente fala-se e observa-se a intolerância política, perseguições, repressões de manifestantes, a imprensa amordaçada, preparação de fraude eleitoral, de programação de assassinatos políticos etc. Como pode o senhor Quintino falar de momento político saudável ?


Em segundo lugar, a paz e a estabilidade política, económica e social em qualquer parte do mundo existem apenas quando reina a justiça social e a igualdade de oportunidades entre todos cidadãos. O que ainda não é o caso em Angola. Direitos e oportunidades que são negados a alguns cidadãos, por discordarem com as opções feitas pelos atuais governantes, são outorgados aos cidadãos que fazem a vontade do regime, que se sujeitam sem tossir.


Como pode haver paz ou estabilidade numa sociedade onde a esmagadora maioria da população é tratada com desprezo ? Será que os cidadãos discriminados continuarão a calar-se e a obedecendo sem resmungar ? Com certeza que não. É por esta razão que muitos dizem que a sociedade angolana é uma bomba-relógio. Se o executivo (= governo) continuar levando este tipo de política, um dia esta bomba-relógio vai explodir-lhe na cara.

 
Em terceiro lugar, todo Angolano lúcido, inteligente, avisado sabe que o MPLA não vai deixar o poder nem hoje nem amanhã. Ele vai utilizar todos meios possíveis e imagináveis, todos meios legais e ilegais para permanecer mais tempo no poder. Todo observador atento já se apercebeu que a fraude eleitoral começou com a aprovação da nova Constituição em 2010 e do chamado « pacote legislativo eleitoral » em 2011. O partido no poder não quer jogar um jogo aberto, limpo. Quer somente fazer estratagemas, maquinações para vencer as eleições gerais previstas em 2012 . Posso até dizer que já as ganhou antes mesmo de elas terem lugar. Não porque o povo o quer ver no poder, mas por razões acima evocadas. Este Partido recusa até de aplicar certas  disposições constitucionais que ele mesmo introduziu na Constituição adotada em 2010. Como pode um representante do povo sofredor apoiar um movimento que age deste jeito ?


O senhor Quintino tem razão quando diz que Angola precisa da paz efetiva e da estabilidade política, económica e social. Mas para que tal desiderato se torne realidade é preciso que o governo angolano, sustentado pelo Partido MPLA, mude de atitude e de maneira de governar Angola. Porque perseguindo com a política de exclusão, de perseguições dos que pensam diferente, de saque dos bens públicos… é claro que Angola nunca conhecerá a paz e a estabilidade.
Se os regimes de alguns países do norte de África (Tunísia, Egito, Líbia) foram derrubados é justamente porque estes regimes oprimiam os seus povos e levavam uma política quase semelhante com  o que o governo angolano continua levando até hoje.


A aspiração à liberdade, a justiça social, a paz, a estabilidade, ao estado de direito… é humana e não uma especificidade angolana.


Os Angolanos estão a realizar manifestações porque, sendo seres humanos como todos outros, aspiram a melhores condições de vida. E as manifestações são a melhor maneira de fazer entender ao governo que os Angolanos estão fartos da maneira como está a dirigir Angola e querem mudanças radicais na direção dos destinos do país. Começando pelo Presidente da República. Estamos cansados, não queremos mais o senhor José Eduardo dos Santos (JES) como Presidente da República de Angola. Existem muitos Angolanos competentes capazes de dirigir Angola. Crer que o senhor JES é o único Angolano capaz de dirigir Angola é menosprezar os Angolanos. 


Por isso peço aos eleitores que mandem embora o senhor Quintino Moreira da Assembleia Nacional (AN) nas próximas eleições, porque ele não está a servir os Angolanos mas sim a servir-se. Está a beneficiar dos privilégios inerentes a função de deputado e em contrapartida não está a defender os direitos, sobretudo sociais, dos eleitores que o permitiram a fazer parte desta Assembleia. É por esta e outras razões que em 2012 não devem reconduzir este deputado « maria-vai-com-as-outras » que se encontra na AN apenas para dizer bem alto o que o MPLA não quer dizer ele mesmo ou o que diz muito baixinho.


O senhor Quintino de Moreira não foi eleito pelo povo angolano ! Chegou na AN graças a um acordo secreto com o MPLA que lhe atribuiu votos para que servisse de fantoche deste último. O seu papel na AN é aceitar tudo o que o MPLA quer e que o resto da oposição recusa. Fazendo assim crer que uma parte da oposição está de acordo com a posição do MPLA. Foi o caso com a nomeação da presidente da CNE. Toda a oposição desaprovou esta nomeação, duma ex magistrada que também é da OMA, quer dizer do MPLA. O Partido do senhor Quintino foi o único da « oposição » a dar a sua benção a esta nomeação que fere à Constituição da República.
 

A função dum deputado é defender os direitos dos eleitores que o elegeram. Não o fazendo equivale a mentir aos eleitores. Por isso deputados deste género já nao podem fazer parte da nossa AN. Porque um deputado que desencoraja o povo a lutar pelos seus direitos legítimos é inimigo do povo. 


O direito de manifestar a sua desaprovação, o seu descontentamento é quase o único meio legal e eficaz que o povo dispõe para fazer pressão ao governo, para fazer recuar o governo quando este toma certas decisões contrárias aos interesses do povo. Então, dizer aos jovens que militam para os seus direitos sociais que as suas reivindicações são « desnecessárias » é um insulto terrível que não devia sair da boca dum indivíduo que pretende ser um dos representantes do povo.


Para este deputado fantoche, manifestações são desnecessárias porque ele ganha bem a sua vida com o salário que recebe da AN e do exercício de bajulação que anda fazendo.

O senhor Quintino Moreira sabe pertinamente que as eleições no nosso país apenas servem para legitimar o regime autoritário do senhor Eduardo dos Santos. Elas servem apenas a fazer crer aos menos avisados, aos ingénuos de que Angola é realmente uma democracia. O que não é verdade.


A Angola atual é uma « monarquia absoluta » disfarçada em república democrática. Com o nosso « monarca republicano », José Eduardo dos Santos, a reinar há quase 33 anos.


À laia de conclusão, digo aos que teimam em ressuscitar o defunto regime do partido-único que a verdadeira democratização de Angola é irreversível. Custe o que custar.

 

Revolucionario Anticonformista !
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