Luanda -  Passado quase um mês desde o início do julgamento do antigo comandante  de Luanda da Polícia Nacional, Joaquim Vieira Ribeiro, e de outros 21 réus, começou segunda-feira uma das fases mais esperadas do processo. Trata-se da audição das testemunhas e declarantes.


*Isabel João
Fonte: Novo Jornal


quim ribeiro tribunal.jpg - 21.54 KbQuase todos incriminam o antigo homem forte da polícia de Luanda, que insiste na sua inocência. Esta semana, o tribunal ouviu mais de cinco declarantes, incluindo uma funcionária dos serviços prisionais que digitalizou uma carta, dando conta de perseguições. Januária Bernardo, ex-esposa de Quim Ribeiro, esclareceu em tribunal ter digitalizado a carta, garantindo, no entanto, que não tinha comentado o conteúdo da missiva ao ex-comandante de Luanda.


“Levei dois dias para escrever a carta, nunca contei nada ao Quim Ribeiro, nem a pessoas da minha família. Apenas era um segredo meu, profissional”.


Questionada sobre quem a teria contactado para digitalizar a carta, Januária Bernardo respondeu que foi o seu chefe, de nome Cunha. ”Foi o meu chefe que veio ter comigo. Na  altura em que escrevi a carta, estavam apenas três pessoas na sala: eu, Joãozinho e o meu chefe, ele ditava e eu escrevia”. A declarante acrescentou que a carta dizia que o Joãozinho estava a ser perseguido pelos comandantes Quim Ribeiro e Augusto Viana.


Durante a audiência foi também ouvida Ana Lisadra. A declarante é esposa de um dos companheiros de Joãozinho, um médico que também se encontrava preso na cadeia de Viana.


Ameaças


Ana Lisadra confirmou em tribunal ter contactado o ex-comandante de Luanda para lhe entregar a carta que o seu marido mandou entregar pessoalmente ao Quim Ribeiro ou ao senhor Mário Silva. “Fui pessoalmente ao Comando Provincial de Luanda ter com o senhor Quim Ribeiro, mas ele estava ocupado e a secretária disse que tinha que aguardar. Como vi que o tempo estava a passar e que tinha muitas coisas na cidade, resolvi deixar o local, mas deixei o meu contacto e a jovem deu-me o contacto do comandante Quim Ribeiro. Momentos depois, a secretária liga para mim para saber a minha localização. Disse a ela onde eu estava”, contou.


A declarante disse também que, por volta das 17h00, ligou para o réu Quim Ribeiro a dizer quem ela era e porque é que estava a telefonar-lhe.  “Ele disse que viria ao meu encontro, mas não apareceu. No dia seguinte, logo pela manhã, recebo o telefonema de um homem que dizia que foi mandado pelo comandante Quim Ribeiro para lhe entregar a carta.  Liguei para ele para confirmar se era verdade, ele disse que sim e entreguei a carta”.


Segundo a mulher foram dois homens que vieram numa viatura de marca Land cruiser, de cor preta e de vidros fumados. “Os homens nem desceram do carro, eram dois, um magro e alto e o outro era baixo”, descreveu. No mesmo instante, foi interrogada se os homens estavam no meio dos 22 arguidos. A declarante disse não se lembrar.


Ana Lisadra acrescentou que, depois da morte de Domingos Francisco João, oficial superior da corporação, e de Domingos Mizalaque, funcionário dos Serviços Prisionais, sofreu “algumas ameaças” vindas da parte do comandante Quim Ribeiro.


“Ele não as fez directamente a mim, quem telefonou para mim foi a exnamorada do meu irmão, que me informou que o comandante Quim disse para eu ficar na minha e que não abrisse a boca”, frisou.


Questionada se para além daquelas ameaças teria recebido outras, a mulher respondeu que não. Nem ela nem ninguém da sua família recebeu mais ameaças.


Acareação recusada


Na mesma quarta-feira, foi também ouvido o sub-chefe da Polícia Nacional Gilberto Miguel, colocado na esquadra do Zango, que confirmou que conhecia Joãozinho e a casa onde o malogrado vivia.


Gilberto Miguel disse que foi contactado pelo inspector-chefe José Agostinho Matias, chefe de investigação do Zango que lhe perguntou se sabia onde vivia o malogrado Joãozinho. “Disse a ele que conhecia, Matias explicou-me que vinha uma delegação da cidade, que queria  chegar a casa de Joãozinho e pediu-me que o levasse lá. Fomos e ficámos a escassos metros e mostrei-a à distância. Ele deixou-me na esquadra e logo saiu”.


Durante estes depoimentos, o réu inspector-chefe José Agostinho Matias apenas abanava a cabeça. Momentos depois, o seu advogado de defesa pediu ao juiz que se fizesse uma acareação entre o réu e o declarante, mas o pedido foi negado.


Questionado como teria tomado conhecimento da morte de Joãozinho, o declarante Gilberto Miguel respondeu que foi no dia seguinte, já na esquadra, acrescentando que em nenhum momento relacionou a ida da delegação a casa do falecido.