Luanda - Completa hoje, 7 de Março de 2012, um ano desde que a Polícia Nacional encerrou-me numa das celas da Direcção Provincial de Investigação Criminal (DPIC), tudo porque me encontrava na madrugada deste dia no largo 1º de Maio a fazer cobertura da primera manifestação convocada de forma anonima pela  net, em Angola. Comigo estavam outros três colegas, e mais 12 jovens, que haviam respondido afirmativamente a tal convocatória.


Fonte: facebook


Depois de detida, fui interrogada por um senhor dos serviços de segurança, e durante o tempo em que estive dentro de uma cela, voltei a ser interrogada por agentes da DPIC, tudo porque estava apenas a fazer o meu trabalho. Violaram a minha privacidade mexendo no meu telefone, para verem as mensagens, queriam inclusive saber da minha relação com pessoas ligadas a oposição. Neste dia descobri que o meu telefone não era fiável, e o meu amigo Fernando Tomas passou a cumprimentar os camaradas que ficam do outro lado da linha...


Nesse dia descobri que tenho muito bons amigos, muitos através do facebook, que não foram poucos foram reivindicando, para que fossêmos libertos. Houve ainda quem arriscasse fosse mesmo à procura de notícias minhas na DPIC, pessoas que hoje muito agradeço e tenho grande carinho e estima. No meu telefone encontrei quase 100 chamadas, depois de me ter sido devolvido pelos investigadores. Depois disso recebi outros tantos telefones de apoio, de consolo, de preocupação e mensagens de angolanos espalhados pelo mundo: Austrália, Brasil, Holanda, Alemanha, Portugal e amigos nas províncias. Dos meus amigos políticos também veio uma palavra de consolo, e claro de alguns colegas jornalistas também.


Depois de ser interrogada, na cela onde fiquei sozinha, enquanto as outras raparigas que também estavam no 1º de Maio, duas meninas que estavam bastante assustada, uma delas chorou a noite toda, ficaram em uma cela. Uma delas depois contou-me que apenas tinham ido acompanhar o seu noivo.


Neste dia conheci dois rapazes, cuja convicção me deram esperança no futuro do meu país, Carbono Casimiro e Luaty Beirão, mais conhecido por brigadeiro "Matafrakuzx".


Depois da minha soltura nunca mais parei de ver o meu país tal como ele é: um país muito injusto, com muita falsidade e mentiras à mistura. É preciso urgentemente que se acabe com as injustiças sociais, com a exclusão e acima de tudo com a intolerância política.


Ana Margoso (jornalista)