Ndalatando – Com um discurso meramente simples do tipo: “Povo do Kwanza Norte, em homenagem aos nossos heróis e aos saudosos patriotas que lideraram a luta de libertação nacional, os mais velhos Holden Roberto, Agostinho Neto e Jonas Savimbi, anuncio-vos a minha saída na UNITA, por um lado, e por outro, a minha adesão à Convergência Ampla para Salvação de Angola (CASA)”. O ex-secretário provincial dos “maninhos” diz estar cansado de labutar sem quaisquer condições mínimas, uma vez que ele e os seus companheiros nunca foram tidos, muito menos achados pela direcção partido. “Nós não somos escravos de ninguém”, assegurou, nesta quarta-feira, 28, António Francisco Hebo durante a conferência de imprensa realizada numa das unidades hoteleira da cidade de Ndalatando.


Fonte: Club-k.net

A minha consciência é um fundo insubornável.

Pois, esta não é a UNITA que Jonas Savimbi sonhou

antnio hebo.jpg - 106.79 KbA saída deste jovem dirigente que militou desde os seus 16 anitos,  para CASA, liderado por Abel Chivukuvuku, comprova mais uma vez que há, de facto, crise no seio deste partido histórico que, possivelmente, deixará de ostentar o título do “maior partido da oposição” no próximo pleito eleitoral. António Hebo assegura que a sua consciência é um fundo insubornável. Pois, a sua saída neste partido deve-se a má gestão da actual direcção. “Esta não é a UNITA que Jonas Savimbi sonhou”, lembrou.

Por favor, acompanhe a conversa.

Concretamente quais foram as razões que o levaram abandonar a UNITA?
Primacialmente, gostaria de agradecer a presença da imprensa e dos kwanzanortenses que durante três anos e tal tratou-me com muito carinho como líder da UNITA.
Respondendo já a pergunta, primeiro devo dizer que não é possível conviver com alguém que está sempre a desconfiar de nós. Segundo, nós temos que valorizar a confiança que os outros depositam em nós. Tal como, os outros devem também valorizar a confiança que depositamos neles. Agora, quando não há reciprocidade quer dizer que não há casamento. Terceiro, sou filho desta província; intelectual e funcionário público. Aceitei com bom agrado o desafio de liderar a UNITA, durante todo este tempo. Mas, infelizmente, o meu trabalho não foi valorizado. E quando isso acontece, obviamente, somos obrigados a recuar.
É importante dizer que nós não somos escravos de ninguém. Se Holden Roberto, Agostinho Neto e Jonas Savimbi – que com muito respeito – lideraram as lutas para a libertação do país, era para buscar a felicidade do povo. Foi com base a este espírito que muitos de nós aderimos os partidos políticos.
Mas, eu como líder da UNITA no Kwanza Norte, não fui tido, nem achado pela direcção do partido. Gostaria de convidar-vos para irem testemunhar “in loco” a sede onde funciona o Secretariado Provincial da UNITA que é de adobe.
Fui forçado a viver na casa dos meus familiares, por falta de residência própria. Durante os últimos tempos, com as chuvas que estão a cair na cidade de Ndalatando, fiquei sem eira, nem beira. Isso demonstra claramente, a tamanha irresponsabilidade dos líderes deste partido na valorização dos seus quadros.


Qual é o tipo de casa que estas a te referir?
Eu vivia num anexo de adobe e neste momento está inundada devido as chuvas. Era uma casa sem qualquer condição. Portas e janelas sem condições e os mosquitos faziam daquilo uma feira. Eu que quero ganhar as eleições, como é que vou traçar uma estratégia se passo a noite toda a matar os mosquitos.
Durante os mais de três anos que liderei a UNITA nesta província, não me foi atribuído nem uma viatura sequer; nem mesmo uma motorizada ou bicicleta. Foi com muitos sacrifícios que tivemos que abrir o terreno. A direcção da UNITA foi infeliz em não valorizar os seus quadros porque o MPLA aqui já estava apanhar papéis.
De facto, nós aderimos aqueles que têm uma noção de nação. Aqueles que têm um projecto de nação, pois são eles que têm objectivos de conquistar, e exercer, o poder. Porque é sabido que quando você não investe para ganhar as eleições, demonstra claramente que quer permanecer sempre na oposição.
Ainda antes da realização do 11º Congresso, mandaram-nos procurar duas casas para comprarmos, uma para o secretário provincial e outra para o secretariado, encontramos até três casas comunicamos e começaram a dizer que não havia dinheiro etc., mas para os outros secretariados têm. E durante o tempo que fiquei no partido nunca recebi nem sequer dez kwanzas, para a renda uma minha casa. O exercício que fazíamos internamente, através dos valores das quotas para pagar a minha renda, além das condições que nos encontrávamos, foi titânico. Mas, temos informações seguras que alguns secretários receberam os seus dinheiros para o efeito. Afinal, porque está exclusão?


Quer dizer que na UNITA não há coesão política?
Não há. Primeiro, só há coesão quando há liberdade. E as pessoas devem respeitar os pensamentos dos outros. Quando você me obriga a pensar conforme você, é verdade que, não há coesão. Muitos estão ali a dar a cara para dizer que há coesão porque têm medo.
Só para vos dizer que, muito dos companheiros que estão propostos na CNE, e nomeados no meu mandato, serão retirados. Porque aqui existe umas doses de nepotismo e tribalismo a mistura. E nós não concordarmos com isso.
O que não podemos também aceitar são expressões como vocês “como nos maltrataram nas roças…” afinal, quando a UNITA alcançar o poder o que será de nós? Então queremos pessoas lúcidas e que têm um projecto para nação.


Está demissão abrange toda a direcção da UNITA, ou somente o senhor?
É simplesmente a minha retirada na UNITA. Quer dizer que já não só militante da UNITA. O cargo que eu exercia era nas vestes de militante. Se já não sou militante da UNITA não posso representar a UNITA. Mas, a par isso há muitos outros militantes que também decidiram me acompanhar na CASA. São cerca de mil e 500. Também quero dizer que a CASA já tem representações em todos os municípios.
Portanto, todos aqueles que estão cansados com a miséria, a fome, falta de água e também humilhações daqueles que um dia nos fizeram acreditar que juntos podíamos fazer uma luta comum para alcançar o poder, devem abraçar o projecto de Abel Chivukuvuku. Neste momento, já temos 200 pessoas que vieram de outros partidos e 300 cidadãos que vieram do MPLA.


Não teme sofrer represália pela decisão tomada?
Não. Se eu morrer a doença vou morrer triste, mas se morrer porque os companheiros vieram a minha atrás por defender uma causa justa, vou morrer feliz.


Quais são os partidos que aderiram a CASA?
Por uma questão de proteger as suas integridades físicas, não citarei os nomes. Além dos militantes do MPLA, temos militantes daqueles partidos que foram excluídos nas eleições de 2008. Acho que o Kwanza Norte não terá mais um partido da oposição além da CASA.


Acha que a CASA vai lhe oferecer as condições que o faltou na UNITA?
Sim. Até já ofereceu. Agora tenho uma casa nova que não é de adobe. Um carro novo e, agora só estamos a preparar as sedes a nível da província.


A falta de condições básicas necessárias foi o motivo da sua deserdação?
É uma das condições. Segundo, a falta de estratégia para alcançar o poder que a UNITA quer tomar através das manifestações, etc.. Isso nós não aceitamos. Porque quando você não tem argumentos para convencer o povo, então não vale apenas vir com histórias. Como por exemplo, a Suzana Inglês não pode ser objecto de discussão. Hoje é a estrutura da CNE que deve ser o elemento da discussão e não a Suzuna Inglês. Porque sem ela haverá outra pessoa que também vai satisfazer os apetites de quem está a sustentar o país.
O que a UNITA deve fazer é trabalhar no sentido de sensibilizar os eleitores a votar neles e não só falar da presidente da CNE. Devem fazer tudo por tudo para que o artigo 107º seja cumprido. Nós pensamos que um partido político, só é, pelo facto de ter um desejo de alcançar o poder. Quando um partido não tem no seu objecto a conquista do poder, deixa de ser partido político e passa a ser uma associação política.
A direcção da UNITA pode dizer que temos um projecto para a sociedade. Tudo bem, agora quais são os métodos que estão a utilizar para que este projecto venha vincar no país?


Quanto aos patrimónios da UNITA nesta província?
Quando alguém vende aquilo que ele construiu, sinceramente, esta a destruir-se. Nós aprendemos na filosofia do povo Bantu que uma mulher educada não pode permitir que o seu marido contrai dívidas que ele não consegue pagar. Porque as dividas fazem afugentar o marido do bairro.
Ora bem, tínhamos esperança do protocolo de Lusaka, pois casas (4) que o governador construiu para a UNITA, e a direcção vendeu o património para o estado a milhões de dólares.
Estávamos a dizer que basta de humilhação, porque o presidente Samakuva mandou-me procurar um carro de 20 mil dólares para comprar, achei o carro e fui ter com ele para entregar os valores para pagar ele diz que maninho temos que falar com os bancos.
Vim em Ndalatando sofri um acidente de moto-táxi nem sequer recebi solidariedade por parte dos dirigentes do partido. Fui em 2011 para Luanda levar os relatórios, de regresso o táxi que me trazia capotou fiz a comunicação, ninguém se preocupou.


Temos conhecimento que os delegados da UNITA nesta província atribuíram os seus votos para o actual presidente durante o congresso…
Mentira. Nós votamos na mesa número quatro a favor de Pedro Katchiungo. Pois, fui ameaçado a ser exonerado pelo ex-secretário nacional para os assuntos eleitorais, Domingos Maluka, por ter defendido a realização do último congresso. Então, quando não respeitam a minha liberdade, como dizem os mais velhos “vale a pena dormir a fome e dizer a verdade”.


Que avaliação faz da sua entrada para CASA. Não será por ter sido corrompido com alguns pequenos bens?
Não. A minha consciência é um fundo insubornável. Pois, esta não é a UNITA que Jonas Savimbi sonhou. Não concordo com a gestão brutal da actual direcção do partido.
Penso que a minha escolha é positiva. Vamos trabalhar para termos deputados aqui. Queremos mandar um recado para os companheiros da UNITA para não ver este exercício como um combate, mas sim como a forma que nós encontramos para defendermos aqueles que almejam a mudança.
Quero mandar um recado para os dirigentes da UNITA que se continuarem com os mesmos métodos de trabalho, daqui até as eleições, este partido não terá votos no Kwanza Norte.
Tal como dizia o doutor Jonas Savimbi que “quando entre vós identificarem alguém que pode amanhã congregar os outros, alguém que pode fazer diferença no partido, seja acarinhado, seja protegido, em vez de o destruírem com a intriga...”.