Luanda - No dia 4 de Abril de 2002, a UNITA e o Governo da República de Angola,assinaram o Memorando de Entendimento do Luena, uma adenda ao Protocolo de Lusaka, que encerrava o longo percurso de três décadas de cíclicos conflitos que se seguiram à proclamação da independência nacional, em Novembro de 1975.


Fonte: Unitangola

Os 30 anos de árdua luta de libertação nacional e pela democracia multipartidária em Angola, culminaram, finalmente, com a conquista da paz, fruto do sacrifício e patriotismo de milhares de angolanos que souberam honrar os heróis nacionais, dignificar a nossa história e a nossa ancestralidade.


Volvidos, assim, dez anos depois do  calar das armas, celebramos neste dia uma importante conquista de todos os angolanos. O  significado histórico do 4 de Abril de 2002, representa, efectivamente, o inicio de uma nova etapa do processo politico angolano.


Contudo, o balanço dos  últimos destes dez anos de paz, leva-nos às seguintes conclusões:

1.  A Paz em vigor continua ainda a ser apenas a paz militar.


2.  Continuam por se materializar os objectivos políticos preconizados no âmbito da democratização e da reconciliação nacional. Por exemplo:

a)- As reformas exaradas nos vários Acordos de Paz, com vista a edificação de bases sólidas de sustentabilidade de um verdadeiro Estado de Direito Democrático em Angola e ao estabelecimento de um sistema de governo realmente democrático, apenas conheceram passos muito tímidos.


b)-As liberdades fundamentais dos angolanos, constitucionalmente consagradas, continuam coarctadas com a intensificado, nos últimos tempos, de actos de intolerância politica praticados em quase todo o país, de forma coordenada, por elementos afectos ao partido no Poder que, perante o silêncio conivente das autoridades do País, destroem propriedades, símbolos partidários e causam desaparecimentos, ferimentos e perca de vidas humanas entre militantes e membros de partidos na oposição,  sobretudo os da UNITA.


c)- O processo de desmobilização e de reinserção social dos ex-militares continua inconclusivo, criando enormes dificuldades sociais aos ex-militares e suas famílias, espalhadas por todo o país.


3.Verifica-se o aumento de múltiplas assimetrias sociais no seio da sociedade angolana, produto de injustiças sociais, resultantes de más politicas e da má distribuição da riqueza, da corrupção e da falta de transparência dos actos de governação. Os recursos naturais estratégicos de Angola apenas beneficiam uma minoria de angolanos, em detrimento de uma maioria que continua a viver com menos de um dólar por dia. Aprofunda-se, assim, cada vez mais o fosso entre ricos e pobres, o que se pode transformar num factor de tensão social com consequências nefastas para a estabilidade nacional.


4.O conflito de Cabinda continua sem solução e permanece sob forma de uma guerra de baixa intensidade entre o Governo de Angola e a FLEC, com interminável cortejo de mortes, desaparecimentos e detenções.


5.Apesar disso, verifica-se o aumento da consciência política dos angolanos. O povo tem sede de justiça e quer exercer o poder que a Constituição lhe confere de modo livre, justo e pacífico.


Perante esta realidade e consciente das suas responsabilidades históricas resultantes de 46 anos de luta por Angola, a UNITA entende que a paz militar deve evoluir para a paz social, através do aprofundamento da democracia bem como através da prática da justiça económica e social.


Assim, a UNITA exorta todos os angolanos mas sobretudo o Executivo angolano a  empenhar-se verdadeiramente na transformação desta paz militar em paz social que se traduza em bem estar, com mais saúde, mais e melhor educação, mais habitação, mais segurança, mais tolerância e inclusão entre os angolanos, independentemente das convicções políticas de cada um.


Como este desiderato só se consegue com a valorização e a dignificação do homem angolano em primeiro lugar, a UNITA exorta o Executivo Angolano a criar condições com vista à implementação de uma política de inclusão social digna para os antigos combatentes e veteranos da Pátria, de forma a reconciliar de facto os angolanos e permitir assim a realização plena da paz social.


A legitimação do poder político por via de eleições democráticas regulares, imparciais e transparentes é outro desiderato que permite a transformação da paz militar em paz civil, pelo que a UNITA recomenda vivamente que o processo eleitoral em curso  seja conduzido nos estritos marcos da Lei.


Nesta data histórica, a UNITA rende homenagem aos obreiros da independência, liberdade e democracia em Angola e reafirma o seu compromisso solene com a paz, com a reconciliação nacional e com a justiça social, numa Angola para todos.


A UNITA aproveita esta ocasião para louvar a contribuição das igrejas, e das organizações da sociedade civil que desempenharam um papel fundamental nos momentos difíceis, através das suas orações e acções cívicas de solidariedade e encorajamento. Exorta-os a continuarem a envidar esforços no sentido de que a paz efectiva reine em todo o território nacional, incluindo Cabinda.

 

Luanda, 3 de Abril de 2012

O Secretariado Executivo do Comité Permanente da UNITA