Luanda - Debates sobre a relação entre comunicação e política, ou entre média e política, estão no centro de um questionamento mais profundo das transformações contemporâneas da própria política. Com base em conhecimento de comunicação política, vamos procurar, estabelecer uma grelha de análise, para podermos melhor compreender-mos e talvez tecer algumas críticas ao discurso proferido pelo Dr. Abel Chivukuvuku, na altura do lançamento da CASA (CONVERGÊNCIA AMPLA DE SALVAÇÃO DE ANGOLA) pronunciado no dia 14 de Março de 2012. Em anexo, se necessário apresentaremos na íntegra o mesmo discurso.
Fonte: Club-k.net
A nossa grelha de análise da comunicação política do discurso de Dr. Abel Chivukuvuku será feita por questões:
• O discurso do Dr. Abel é uma comunicação política?
A partir da definição de Jean Marie Cotterre , segundo a qual, “ a comunicação política é política em função de consequências directas ou indirectas, mediatas ou imediatas que ela pode ter sobre o sistema político”. Podemos claramente afirmar que o discurso do Dr. Abel é uma comunicação política. Todas as definições de comunicação política, como já explicado anteriormente, enfatizam um aspecto particular do espaço público, do espaço social, em que esta comunicação se realiza ou se desenrola.
Qual foi a metodologia utilizada?
Em termos Linguístico: Qual tipo de discurso utilizado?
Dr. Abel utilizou ao mesmo tempo dois métodos: O método linguístico e o ideológico.
Método linguístico, privilegia os aspectos argumentativos: “Apresento-me, perante todos Vós, neste momento, que considero de maior relevância, quer para mim, quer para o nosso País, consciente dos desafios a encetar, para providenciarmos à nossa Pátria, o renascer de um sonho nunca afirmado”, “É minha convicção, que uma vida melhor para os angolanos, só será possível com uma nova direcção do País, uma nova Presidência. Que os cidadãos angolanos compreendam o que é óbvio. Não haverá uma vida melhor com a presidência que temos”.
Método ideológico, que visa conquistar novos membros aos ideais e valores aos quais eles acreditam: “ Este é o momento de trabalharmos pela Família, pela Protecção dos órfãos, pelos idosos, pelos deficientes, pelas crianças desamparadas, pelas viúvas, pelas mães solteiras, pelas zungeiras”, “este é o momento de lutarmos pela igualdade de oportunidades para todos os angolanos”, “Este é o momento de construirmos a harmonia e a irmandade entre os angolanos”, “Este é o momento para exigirmos uma Saúde digna para todos”, “Este é o momento de exigirmos uma Educação Pública condigna, desde a escola primária à universidade”, “Este é o momento de acabarmos com o analfabetismo o que o regime em 32 anos não realizou”, “Este é o momento de lutarmos pelo direito à habitação condigna”. Enfim, este é o momento de lançarmos a luta contra a pobreza o que verdadeiramente o actual regime não faz”.
• Em termos sociológicos: em que nível situa-se o discurso?
Os métodos sociológicos utilizados foram os seguintes:
1. A Constatação:
O Dr. Abel constatou o seguinte: “Volvidos dez anos desde o advento da paz, deparamo-nos hoje perante esta encruzilhada que exige opções e escolhas”.
2. A notação:
Aqui o Dr. Abel assinala o que se passa e suas afirmações demonstram-no: “A maioria dos angolanos e sobretudo os jovens, acham com razão, que chega desta presidência, mesmo se poucos ousam dize-lo. Digo isto, com muito respeito, admiração e consideração, para com os novos movimentos patrióticos e revolucionários juvenis, constantemente violentados e injustamente apodados de confucionistas, bem a moda dos colonialistas que qualificavam de terroristas os libertadores da pátria, hoje, governantes autoritários”.
3. A comparação:
O líder da CASA aproxima os factos: “Este nosso País, na sua curta História como nação soberana, regista três marcos. O primeiro marco histórico trata-se do dia 11 de Novembro de 1975, data que consagra a conquista da independência nacional, fruto da luta de libertação contra o jugo colonial, luta essa, que foi liderada por saudosos patriotas perante os quais me curvo respeitosamente”.
4. A sistematização:
O Dr Chivukuvuku, estabelece laços lógicos entre os factos: “É minha convicção, que uma vida melhor para os angolanos, só será possível com uma nova direcção do País, uma nova Presidência. Que os cidadãos angolanos compreendam o que é óbvio. Não haverá uma vida melhor com a presidência que temos. Depois de 32 anos de exercício do poder presidencial nunca eleito, chegou a hora de demonstrar nas próximas eleições que chega”.
• Qual foi o procedimento utilizado?
O procedimento utilizado neste discurso pode ser considerado de hipotético-dedutivo: “Não será com certeza no próximo mandato de mais cinco anos que o actual Presidente vai realizar o que não conseguiu fazer em 32 anos de poder. Certamente que não. Chega”.
• Que técnicas ou noções próximas da comunicação politica são utilizadas?
A noção próxima de comunicação política utilizadas neste discurso foi:
• A propaganda que visa a substituição da razão pela emoção: “Para aqueles angolanos, que apesar de descontentes com a realidade actual do nosso País, vivem a angústia de terem que se submeter as lealdades partidárias mesmo quando não concordam, nós propomos a terceira via”.
O contexto da comunicação
• Qual é o quadro físico?
O quadro físico utilizado foi o hotel Alvalade, situado na rua comandante Gika, em Luanda. O quadro físico não foi apropriado para fazer o lançamento do seu projecto tendo em conta que o mesmo é pequeno em função da expectativa que criou em volta do seu pronunciamento.
• A ocasião foi apropriada?
No momento que todos perguntam-se sobre o destino de Chivukuvuku na Unita e a cinco meses das eleições em Angola, Dr. Abel fixa a opinião pública nacional e internacional em relação ao seu destino político. Podemos afirmar que a ocasião parece muito tardia, porque se tivermos que viabilizar o processo de implementação ao nível do eleitorado é muito exigente, sem esquecer a formalização do mesmo nos tribunais de referência.
• Como se apresenta a estrutura social e cultural?
Esta comunicação política foi vertical, na medida em que vimos o líder da CASA a dirigir-se ao povo angolano e porque afinal até ao momento do discurso a CASA não existia: “Minhas Irmãs e Meus Irmãos, Cidadãos desta nobre Pátria da qual nos orgulhamos”.
• Qual é o universo politico no qual o autor se exprime e quais são as características deste universo?
O discurso do Dr. Abel enquadra-se no quadro do universo político concorrencial, em que os principais concorrentes são: O Mpla, a Unita, a Fnla e o Prs, etc. Aqui a rivalidade não é homogénea porque a CASA está a começar a dar os seus primeiros passos.
É um discurso que se adapta ao mundo mágico, porque o mesmo lembra os valores aos quais Abel acredita “Esta é a minha escolha, e acredito que seja a de muitos de Vós e a de muitos outros angolanos anónimos espalhados pelo nosso imenso e belo país. Por Angola e pelos angolanos, só o futuro conta”.
• Quais são os actores desta comunicação politica tomados como individuo?
Tendo em conta a tipologia geral dos operadores políticos em relação a sua posição e ambições, o Senhor Abel é um governado que aspira a tornar-se governante.
Classificando os operadores políticos individuais sobre a base da sua personalidade, o Senhor Abel Chivukuvuku, pelas suas palavras emocionais em público, pela sua maneira de electrizar a opinião, podemos considera-lo como agitador, homem político profissional, pelo facto de ser o fundador da CASA, ponderado por ter acreditado que durante 38 anos passados na Unita Angola pudesse mudar.
• Qual é a estratégia utilizada?
Nesta comunicação política o modo utilizado é o direccional directo, porque o discurso permitiu a reacção da população e mesmo a dos adversários políticos. O senhor Abel, mostrou-se consciente e conhecedor da realidade política do país. Na perspectiva do marketing político, o alvo da sua comunicação é bem determinado:
“Para aqueles angolanos, que apesar de descontentes com a realidade actual do nosso País, vivem a angústia de terem que se submeter as lealdades partidárias mesmo quando não concordam, nós propomos a terceira via. Quem não encontra espaço de realização nos extremos, que se junte a nós no espaço patriótico que representa o centro”.
O método utilizado é a comunicação persuasiva, o princípio de ampliação e de desfiguração. A função recorrente desta comunicação política, é o da expressão de uma vontade política, de socialização política porque o Dr. Abel procura socializar o seu discurso:
“Este é o momento de trabalharmos pela Família, pela Protecção dos órfãos, pelos idosos, pelos deficientes, pelas crianças desamparadas, pelas viúvas, pelas mães solteiras, pelas zungeiras”.
A comunicação política do Dr. Abel foi difundida pela imprensa e foi uma comunicação de organizações, de contactos informais. Os meios utilizados foram o discurso, a imprensa, a rádio e a televisão.
Antes de concluirmos esta nossa incursão pelo discurso do Dr. Abel aproveitamos apresentar um quadro de palavras temas do Dr. Abel.
Palavras/Temas Ocorrência
Sonho 4
Justiça 5
Juventude 7
Democracia 8
Chegou a hora 14
Este é o momento 19
Eu 33
A descoberta de um excesso significativo do EU e das suas formas implícitas, durante o discurso do dia 14 de Março de 2012 é bastante revelador, como diz Alpha Ousmane Barry , de um procedimento adoptado, que consiste em enunciar um discurso que destaca os valores pessoais quando a situação política não é muito favorável. Mostra-se como um bom exemplo a seguir ou a imitar. Quando o EU reivindica plena individualidade, o objectivo é lançar um apelo ao dever, instando-os a cerrar fileiras em torno dele ou para dar ordens, diante dos quais deve-se obedecer:
“Eu, Abel Chivukuvuku, sou defensor de transformações e mudanças ordeiras e pacíficas, e assim será aqui no nosso País, já tão sofrido. No entanto, nunca prescindirei dos direitos fundamentais e constitucionais que consagram as liberdades democráticas”.
Do exposto, podemos afirmar que a comunicação política procura canalizar as paixões políticas em favor de uma ideia, de um homem ou de um partido. Ela inclui uma comunicação abrangente e eleitoral cada vez mais estruturada. É através dela que cada cidadão deve tentar definir e redefinir a situação social e política. O discurso político do Dr. Abel aparece então como um lugar de disputa entre cidadãos e o governo, entre o estado e as forças políticas.
