Alguns membros do partido dos «maninhos» disseram ao A Capital, em distintas ocasiões, que o magro resultado obtido é o corolário de uma série de factores internos, perante os quais, a direcção da UNITA se manteve indiferente.
De acordo com as nossas fontes, a liderança do partido se distanciou demais da sua massa militante, que é, no fundo, o centro nevrálgico desta formação política desde a sua génese em 1966, e ficou mais presa ao que nossas fontes chamaram de «sentimento elitista».

A actual direcção da UNITA, sustentam as fontes, aplicou-se muito em dar visibilidade ao partido apenas nos areópagos nacionais e internacionais, através de conferencias, fóruns e actividades diplomáticas em detrimento da fortificação das bases do partido, cujas estruturas se mantiveram, de um tempo a parte, sob «comprometedor relaxamento político».

«Os altos dirigentes do partido só começaram a viajar para o interior, com alguma frequência na fase da pré-campanha, e depois durante a própria campanha eleitoral. Antes apareciam, mas só em campanhas eleitorais internas, nas vésperas dos congressos, mas cada um ao serviço do seu candidato à liderança do partido», desabafou um militante da UNITA. 

Quem saiu a ganhar, acrescenta, foi, sem dúvidas, o partido no poder, MPLA, que soube tirar o máximo proveito da situação. Das fileiras da UNITA, como se constatou um pouco pelo país adentro, começaram a vazar com intensidade, muitos militantes para o lado contrário. «Com ou sem aliciamentos, se a UNITA tivesse solidificada a sua acção política no país, os seus quadros não se vergavam tão facilmente», atestou outro militante.

Embora reconheçam a existência de alguns constrangimentos no exercício da própria actividade política à nível nacional, «algumas vezes por falta de meios financeiros», alguns quadros do «galo negro» salientam que as constantes exonerações de dirigentes locais sempre que ocorresse um congresso, podem ter acelerado o que consideram de «descontinuidade da acção do partido», pois, um dirigente provincial, por exemplo, colocado na sua zona de jurisdição há mais de dois anos, é suposto que já tenha criado condições suficientes para influenciar algumas situações».

«Só porque não apoiaram a candidatura de um determinado dirigente, muitos foram pura e simplesmente exonerados e deixados à margem, estancando o curso dos programas que vinha implementando. O que lhe substitui, vai ter que começar tudo do zero e quem perdeu foi o próprio partido», apontou outro quadro da UNITA em conversa com o A Capital, no Huambo, acrescentando que situações desta natureza aconteceram desde o IX até ao X Congresso.
«Não há dúvidas de que isso frustrou muita gente com potencial político que, desde logo, preferiu manter-se distanciada, ou em negócios ou em formação académica. São quadros com quem se podia contar nas lutas políticas», enfatizou.
 

Agitação no «galinheiro»

Uma das portas de saída para as direcções de partidos que não tenham sido capazes de triunfar numa jornada política, nas grandes democracias, é a apresentação de demissão ou convocar um Congresso extraordinário para que seus correligionários se pronunciem.

Parece não ser isso que vai ocorrer na UNITA, o segundo maior partido do país com 70 deputados na Assembleia Nacional cessante, com probabilidades de na próxima legislatura ter um número igual ou inferior a 20 deputados.
Entretanto, enquanto analistas políticos já vão dizendo que Isaías Samakuva tem neste momento a sua posição à frente dos destinos dos «maninhos» fragilizada, e, acto contínuo, de acordo com os estatutos deste partido, como candidato às presidenciais de 2009, na mesma senda, algumas correntes sectárias internas procuram formar, ainda que em surdina, o que chamam de «Movimento de Salvação».

Para os que se perfilam no aludido «Movimento de Salvação», tudo passaria pela convocação imediata de um congresso extraordinário ou convenção nacional, nos quais se corrigiriam os danos causados nestas eleições, de formas a que o partido se possa refazer do «desastre» ao longo dos próximos quatro anos e se apresentar em pé de força nas eleições seguintes.

As mesmas fontes apontam nomes para prováveis «salvadores do barco» Abel Chivukuvuku, Lukamba Paulo Gato, Sakala Simões ou Jardo Muekália para quem muitos militantes olham com algum protagonismo e conhecimento profundo dos meandros da UNITA.Outros porém entendem que a actual direcção, em parte, responsabilizada pelos seus seguidores pelo sucedido nas urnas, não obstante as irregularidades verificadas na votação, deve prosseguir o seu consulado já que vai no primeiro dos quatro anos que o último congresso lhe conferiu à frente do partido.Mais do que evocar factores externos para justificar a derrota, advogam, os dirigentes da UNITA devem admitir falhas na liderança e empenhar-se no salvamento da imagem, sob pena de o partido ser suplantado pelos seus concorrentes mais pequenos.    
 
As organizações de massas dos «maninhos», LIMA e JURA, sobretudo esta última, são citadas pelos quadros da UNITA ouvidos por este jornal como tendo sido menos prestativas naquilo que seria o seu verdadeiro papel mobilizador. Nestes dois sectores e outros é que muitos dos nossos interlocutores acham que futuramente a direcção se deverá aplicar mais, assegurando deste modo a continuidade do projecto.

*Lutock Matokisa

Fonte: A Capital