Monróvia - O ex-presidente da Libéria Charles Taylor, declarado nesta quinta-feira culpado de crimes contra a humanidade durante a guerra civil de Serra Leoa (1991-2002), que causou cerca de 50 mil mortos, se transformou no primeiro líder africano condenado por um tribunal internacional.


*Elise Zoker
Fonte: EFE


O ex-chefe de Estado da Libéria, entre 1997 e 2003, foi 'criminalmente responsável' por fornecer armas, em troca de diamantes, aos rebeldes da Frente Revolucionária Unida (FRU) de Serra Leoa, que mataram, mutilaram e escravizaram dezenas de milhares de pessoas, segundo o Tribunal Especial para o caso (TESL).


Ex-guerrilheiro e ex-presidiário nos Estados Unidos, Taylor nasceu em 29 de janeiro de 1948 em Arthington, 25 quilômetros da capital liberiana, Monróvia, em uma família de quinze irmãos. Após cursar Economia na Universidade de Boston (EUA), ele voltou à Libéria após o golpe de Estado militar, em abril de 1980, para se aliar ao Governo de Samuel Doe, no qual ficou responsável pelas aquisições do Estado.


No entanto, o cargo durou pouco, já que em 1983, Taylor foi acusado de desviar cerca de US$ 1 milhão a uma conta americana, após ter fugido para esse país, onde foi detido e enviado a prisão. Mas, em 1985, Taylor conseguiu escapar da prisão junto a outros quatro detentos, ao serrar as barras de uma lavanderia em desuso.


O político então decidiu se exilar na Líbia, onde contou com a proteção de Muammar Kadafi, e mais tarde em Costa do Marfim, onde fundou as Forças Nacionais Patrióticas da Libéria (FPNL).


Em 24 de dezembro de 1989, mais de quatro anos após a fuga da prisão em EUA, Taylor reapareceu na fronteira de Costa do Marfim com a Libéria à frente das FPNL e entrou com suas tropas no seu país de origem em uma tentativa de derrubar Doe, que acabou assassinado em setembro de 1990. O golpe desencadeou a Primeira Guerra Civil da Libéria (1990-1995), com milhares de mortos e quase um milhão de refugiados.


Após a intervenção da ONU e da Comunidade Econômica de Estados de África Ocidental (Cedeao), várias facções implicadas no conflito assinaram na Nigéria um acordo de paz em 20 de agosto de 1995 e foi criado um órgão de transição que dirigiu o país até as eleições de julho de 1997.


Taylor, já à frente sua nova formação, o Partido Nacional Patriótico (PNP), venceu o pleito com 75,32% dos votos, apesar de seu slogan de campanha: 'Ele matou minha mãe, matou meu pai, mas mesmo votarei nele'. Segundo especialistas, a razão dele chegar a Presidência de maneira tão incisiva foi sua campanha de terror e o medo da população do início de uma nova guerra civil se ele fosse derrotado.


Durante seu mandato, Taylor forneceu armas aos rebeldes do da Frente Revolucionária Unida (FRU) em Serra Leoa, um dos grupos protagonistas da guerra civil desse país, que assassinou e mutilou a dezenas de milhares de pessoas e que escravizou a outras tantas para explodir minas de diamantes do país. Em troca, Taylor recebia do FRU estas pedras preciosas, que passaram ser conhecidas como 'diamantes de sangue'.


Em maio de 2001, a ONU impôs sanções à Libéria e dois anos mais tarde, em junho de 2003, o Tribunal Especial de Serra Leoa, criado em 1996 e respaldado pelas Nações Unidas, acusou o político de crimes contra a humanidade.


Em 1º de agosto de 2003, a ONU aprovou o envio de uma força multinacional de paz ao país, mas no dia seguinte Taylor anunciou sua renúncia e se exilou em Calabar (Nigéria). Só em 29 de março de 2006, Taylor foi detido enquanto pretendia fugir da Nigéria, ao saber que o Governo do país tinha aceitado sua deportação e entrega às autoridades liberianas.


No mesmo dia, ele foi transferido a Freetown (Serra Leoa), onde foi preso. Pouco depois o Governo holandês aceitou que o julgamento ocorresse em Haia, enquanto o Reino Unido concordou que Taylor cumprisse sua pena em uma de suas prisões.


Em 20 de junho de 2006, Taylor chegou a Haia para ser julgado por onze acusações de crimes contra a humanidade, entre eles o assassinato e mutilação de civis, uso de mulheres e meninas como escravas sexuais e recrutamento forçado de crianças e adultos em troca de contrabando.


O julgamento começou em junho de 2007 com declarações de mais de 110 testemunhas, entre eles a modelo Naomi Campbell, a quem o ditador teria presenteado supostamente 'diamantes de sangue'. Em março de 2011, o julgamento terminou, e nesta quinta, após mais de um ano de deliberações, o Tribunal Especial para Serra Leoa pronunciou o veredicto. EFE