Luanda  - A história de Angola foi duramente abalada, não só, pela colonização que por todos os meios apagou parte da memória colectiva de seus povos e do acervo histórico-cultural, mas também, pelo estabelecimento do regime político que se seguiu no período pós-independência que à revelia da verdade histórica impôs uma história de uma ideologia político-partidária.


Fonte: Club-k.net


Olhando, desapaixonadamente, pela janela do passado os registos são de um percurso de exclusão social e política. A dado momento e, por mimetismo ideológico, abraçou-se o marxismo leninismo que não só excluiu do convívio político as outras forças políticas, como também, perseguiu e excluiu os cristãos.


 A hegemonia da história e dos povos do reino do Congo ficou, ensombrada ou até mesmo moribunda. A história de 1961, Undutu, em Cela, que vitimou milhares de angolanos, catequistas, pastores e tantos outros cujos sítios proliferam um pouco por todo o país foi pisoteada por monumentos partidarizados que só trazem à memória o sangue que dividiu os angolanos. As Autoridades do Poder Tradicional são instrumentalizadas pelo regime que se propôs, contra a ordem costumeira, indicar administrativamente alguns Sobas. Em muitos livros de História as omissões a factos ou carga ideológica que se compagina com o regime é outra face da moeda.


E se me permitem porque queremos olhar para a história com o valor de justiça e verdade, hoje, falar de um crime de guerra que ocorreu na Cela com o bombardeamento da escola que vitimou mais de cem crianças, ninguém gostaria de ouvir. ! Que marco histórico existe para esse facto, senão, as lágrimas que, ainda, atravessam, timidamente, o rosto de muitos país?


Naquele tempo, os estudantes que eram encaminhados para o ensino médio eram, grosso modo, seleccionados com a pente partidária. Julguei que tudo fosse a enterrar no passado, engano meu! Hoje, mais de 30 anos depois, nunca imaginei que o fenómeno da exclusão humana em razão da cor partidária dividisse os filhos da mesma terra. Para tudo isso, a história responde:

 

Regresso a uma Espistemologia Dominante


Ao longo de vários Séculos a história foi dominada por uma epistemologia dominante que eliminou da reflexão epistemológica a sua contextualização cultural e política. Ou seja, o reconhecimento de que só um povo ou grupo ou etnia é detentora do saber. Essa epistemologia dominante ditou a supressão, a negação, exclusão e o silenciamento dos povos que se subalternizavam a um único paradigma  ou exclusividade de uma epistemologia. Ora isso, edificou a figura do epistemicídio (Sousa Santos e Paula Meneses 2009): Coimbra. Almedina, 532 pp que se traduz na destruição de saberes locais ou das ecologias de saberes (diálogo de diferentes visões, conhecimentos e saberes). Assim é a realidade da governação em Angola que por todos os meios recalca a emergência de outras inteligências e saberes não redutíveis a um único paradigma por si imposto.  Ou seja, temos, ainda, uma governação que não aprendeu a democratizar o conhecimento ou a dar lugar até mesmo às racionalidades leigas.


Quando ouço, no ring dos argumentos sobre a interpretação de normas jurídicas, alguns juristas coisa não me vem, senão, uma gargalhada de zombar? Terá faltado, porventura, o aprofundamento da hermenêutica jurídica ou será, simplesmente, o sambapito da cadeira? Bem! Se calhar é o regresso aos sofistas.


Toda essa vã arrogância que remete para o epistemicidio ressuscita o clamor das epistemologias do sul enquanto expressão do sofrimento imposto por um regime menos familiarizado com posicionamentos epistemológicos multidisciplinares.


Geralmente, nesses regimes os detentores do poder político servem-se da instrumentalização da lei que resulta da reserva mental do legislador ou classe dirigente sempre que não estejam em condições políticas para impedir a legitimação dos interesses a que se opõe social e politicamente. Não havendo reserva a sua instrumentalização segundo Sousa Santos, _Análise Social, Vol. XXI_ ocorre depois da promulgação sob várias formas. Esse tipo de regime ou governação estabelece um Estado antagónico porque dual, ou seja, o Estado passa a agir à revelia das políticas oficiais que se propõe e subverte o seu próprio quadro jurídico e institucional por acção ou omissão.


Que Caminho?


• Esquecer o partidarismo que não permite distinguir um partidário de um governante.

• Esquecer a convicção da exclusividade e império

• Convocar as ecologias de saberes

• Promover os valores da justiça e da verdade

• Despir as cores partidários em presença de direitos fundamentais e o bem-estar comum

• Deixar de manipular líderes religiosos da ala de fariseus

• Promover uma informação com o fundamento no contraditório
Assim, aconselha a metáfora do sofrimento.