O alívio da pobreza

O partido do Presidente José Eduardo dos Santos "será julgado pela sua capacidade de alargar a todos os indivíduos o seu círculo de beneficiários", afirma a investigadora portuguesa Paula Roque num "relatório de situação" após a divulgação dos resultados finais das legislativas angolanas, realizadas a 05 e 06 de Setembro.

O MPLA elegeu 191 deputados, em 220 lugares no parlamento, e 81,64 por cento dos votos nas eleições, enquanto a UNITA surge em segundo lugar, com 10,39 por cento dos votos e 16 deputados eleitos, anunciou terça-feira a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de Angola.

"O MPLA tem agora todo o poder para apresentar resultados na principal área de preocupação da vida social angolana: o alívio da pobreza", refere o ISS.

"Fora das três principais cidades, é negligenciável a melhoria nos sectores sociais, com grande percentagem da população, em particular nas zonas semi-urbanas de Luanda e rurais, sem acesso a água, saneamento, electricidade, habitação, emprego, saúde e educação", defende.

"Os angolanos assistiram a mudanças pouco significativas desde o fim da guerra (2002) e a maioria deles vive na pobreza, sem esperança de um emprego fora da agricultura de subsistência", refere a investigadora portuguesa.

Além de "diminuir radicalmente o desequilíbrio na distribuição da riqueza", compete ainda a Luanda e à comunidade africana e internacional garantir que as eleições, legislativas e presidenciais, decorram agora de forma periódica, que não se repitam os problemas registados na última consulta popular e que sejam "despolitizadas" as forças militares e de segurança, entre outras tarefas.

Para Paula Roque, a população e os actores políticos angolanos merecem crédito pela maneira pacífica como decorreram as eleições, e deram um sinal claro de pretenderem "paz, segurança e participação económica".

Quanto ao processo eleitoral em si, sublinha, "não cumpriu os padrões internacionais" e o debate político foi constrangido pela propaganda dos meios de comunicação estatais, "limitando qualquer possibilidade de diversidade e pluralismo de opinião".

A investigadora sublinha ainda que a UNITA tem agora de "ter em conta alterações substanciais na sua liderança" antes das presidenciais, agendadas para o próximo ano.

"Alguns acreditam que Abel Chivukuvuku, um homem carismático, com uma clara percepção da mentalidade urbana de Luanda, tem a capacidade de levar o partido adiante, enquanto outros pensam que Lukamba Gato, que liderou a UNITA logo após a morte de Jonas Savimbi (2002), e assinou os acordos do Luena, pode cativar as bases do partido e antigos combatentes", afirma.

Fonte: Lusa