Lisboa - Decorria o ano de 1976, quando Manuel Francisco Neto recebeu, na condição de pai, a seguinte carta:


Fonte: 27Maio.org


“Exmº Senhor Saúde e felicidades.

Venho por este meio expor à família de pai da menina Jacinta que a mesma tem laços de amor com o meu filho Alberto. Por causa disso, ela mediante o pedido de meu filho, autorizou-me a escrever-lhe esta carta com o fim de pedir-vos a mão de vossa filha.

Espero que a vossa resposta seja amável, fortalecendo o meu coração e o da minha família.
Com respeito e consideração subscrevo-me.

Luís Fortunato Manuel”

 
Acontece o 27 de Maio e Jacinta que entretanto dera à luz uma menina, não concretiza o pedido do sogro, não consuma o casamento pois já a Disa anda no seu encalço, tudo porque o seu prometido e pai do seu rebento, acabara de praticar dois “crimes” capitais. Militante do MPLA, trabalha na Rádio Nacional, o que não vislumbra qualquer recriminação, mas, e no “mas” está metade da culpa, colaborava no programa radiofónico KUDIBANGUELA. Não bastando o anterior “desvio”, complete-se o delito: era membro da COMISSÃO POPULAR DE BAIRRO DO SAMBIZANGA.


Com tanto pecado às costas, e alvo das bárbaras perseguições que fizeram história na época, ALBERTO FORTUNATO MANUEL, o “BETÃO” como era conhecido, esconde-se e só se apresenta aos perseguidores quando tem conhecimento de já a sua companheira, objecto de chantagem, ter passado pela prisão e experimentado a tortura.


Betão dá entrada no MINISTÉRIO DA DEFESA em Julho de 1977, e foi o bastante para desde essa data, como a tantos outros que por aí passaram, mais ninguém saber do seu paradeiro.


Deixou uma filha que acabou, fruto do tumulto, por não merecer o seu nome. Quando indagámos por ele junto de pessoas que lhe eram próximas na época, ainda o medo ou a auto censura, todos se recusaram a contar sobre o que sabiam da sua vida e emprego.