«Eu só eu e as minhas circunstâncias», afirmou Ortega y Gasset. Sempre defendi e reiterei a solidariedade e a atracção/aproximação “inconsciente” daqueles que pela sede de justiça, pela vontade de verem um país, desenvolvido, harmonioso e que sirva para todos, lutam com os instrumentos da ética, da razão e até mesmo da fé, para que os seus desideratos, que no meu entender são correctos e correspondem com a nobreza da “Imago Dei” se infundam e sejam transformados em modus vivendi, essendi e fazendi da terra de Ngola Kiluanjy Kya Samba – Numa palavra só, diríamos – Que seja cultura. Certamente que estas pessoas cujos nomes escuso-me de evocar, porque são poucos que lutam, dai que fazem parte da nossa estrutura cognoscente e conferimo-las dedoicamente. Por outro lado, não há dúvidas que estas “personas” são seguramente a convergência entre eles mesmos (singulares claro) e as intempéries da historicidade que a ditadura da existência nos impõe, dai a ontologia que se fenomenaliza neles, particularmente no R.M. No âmbito da segunda dimensão antropológica (ordem gradativa horizontal) que se pode constatar no postulado Orteganiano y Gassetiano, veio mais uma vez confirmar-se por meio de um “encontro entre o homem em epigrafe e EU”, alguns dias depois das eleições que ficaram no tempo consumido – A história.

Depois de uma respeitosa e sincera saudação, como não podia ser diferente entre homens sãos e que partilham alguns virtudes/propósitos essenciais... Rafael concedeu-me o seu recente livro/relatório ou brochura. Este livro «radiografa a forma como vai a situação dos autóctones das regiões diamantíferas das Lundas e como os generais e outros actores do palco dos “diamantes de sangue”, e as empresas do ramo substituíram a Lei e o Estado naquelas paragens, violando os direitos humanos», como classifica o autor. O título do documento é deveras sugestivo – «Angola: a Colheita da Fome nas Áreas Diamantíferas», na linha do pretérito relatório – «Lundas, as Pedras da Morte» (2005). Educadamente R.M surpreendeu-me com outro documento que no seu presságio seria útil para a minha investigação, pelo interesse que tenho por estas questões! Bibliografia da qual é também autor, que aborda factos similares e na mesma geografia, em 2005. Intitulado: «Operação Kissonde». Sequencialmente, o nosso “debate” versou sobre “yxi yeto”. Sumariamente abordamos a problemática das “representações”, um tema da Antropologia Social, de grande importância, dai a urgência para descer no âmbito do comum, tendo como pano de fundo as suas implicações práticas nas relações diárias. Com a questão da “representação” escorregamos para o problema político angolano. Permitam-me abrir um parêntesis para transmiti-los o seguinte: certo dia, perguntei ao Pe. Evilásio Cavalcante, meu ex-professor de Cristologia e Eclesiologia, é errado preocupar-se com país, por outras palavras, não posso falar sobre a situação política do país, é anormal? – A resposta foi inteligente, interessante e satisfatória porque correspondeu com a humanidade e a mentalidade contemporânea – O anormal é não falar sobre o seu país, isto é próprio de quem tem consciência dos seus direitos e deveres, cidadania é mesmo isto… Esta resposta casa bem com o seguinte: o cidadão só tem consciência crítica quando percebe a influência sobre a sua vida de tudo aquilo que está a sua volta.   

Abordamos outras questões caricatas que acontecem no nosso microcosmo e outros povos duvidariam pela sua especificidade negativa. Rafael enfatizou insistentemente a necessidade de construirmos uma sociedade alicerçada sobre os valores éticos e morais, só assim a economia, a política e outros sectores que fazem as nossas nações angolanas vão funcionar directo. Aqui concluímos que antes de tudo a grande crónica da Angola é o edifício axiológico que desmoronou.

Não posso deixar de referir a chamada de atenção do meu interlocutor ao aconselhar para que escrevamos também sobre as nossas raízes, nós mesmos – Valores familiares, falar da nossa região, Malanje claro (sem qualquer pretensão tribal, embora tenhamos consciência que podemos ser acusados desta ferida africana), escrever a experiência cultural, política e sociológica sectorizada, etc.

Curiosamente, apesar do Rafael ser também de Malanje, no seu ofício jornalístico, e agora como investigador, não escreveu e não escreve sobre Malanje. A justificação é que saiu garoto da “banda”, por isso não tem autoridade e experiência vivencial suficiente para o efeito. Falamos também sobre o meu livro (Para Onde Vai Angola?). Marques Manifestou o desejo de lê-lo, mas naquele instante não dispunha de qualquer exemplar.

Ortega y Gasset tem mesmo razão, o homem também é fruto das circunstâncias, porque aquele encontro e diálogo permitiu-nos trocar experiências, mesmo que ínfimas. Marcou-me, sobretudo pela dimensão ética que tanto inundou aquela ocasião… Ética, ética, o que falta nesta terra!

*Escritor
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Fonte: Club-k.net