Luanda - A Polícia Judiciária portuguesa acaba de libertar o rapper Luaty Beirão, após longo interrogatório. Enquanto decorre a investigação, o músico e activista deverá comunicar às autoridades, sobre o seu paradeiro, caso se ausente por mais de cinco dias.


*Rafael Marques
Fonte: Makaangola.org

Alegado envolvimento das autoridades angolanas

Luaty Beirão partiu de Luanda, a 11 de Junho e os detalhes sobre a  detenção, por posse de cocaína, no Aeroporto Internacional de Lisboa, começam agora a ser conhecidos, apontando para o alegado envolvimento das autoridades angolanas.


Ao atravessar a fronteira em Luanda, os Serviços de Migração e Fronteiras, retiveram o passageiro por uns momentos. Luaty Beirão enviou uma mensagem, em sms, ao seu amigo, o rapper MCK, sobre como as autoridades o informaram que o “seu passaporte está bloqueado”. No mesmo sms, referiu os contactos realizados pelo oficial de migração, junto dos seus superiores, tendo-lhe sido comunicado, passados 10 minutos, que “ligámos para o cdte [comandante] e ele deu autorização para passar [o viajante].”


Já no avião, Luaty Beirão enviou uma segunda mensagem a comunicar que “acabaram de me informar que a DNIC [Direcção Nacional de Investigação Criminal] mexeu na minha bagagem [a roda]. Já [es]tou no avião.” A mensagem seguinte foi sobre a sua detenção no aeroporto em Lisboa.


De certo modo, o caso de Luaty tem um precedente. A 9 de Setembro de 2011, logo pela manhã, um dos líderes das manifestações que os jovens têm organizado contra o Presidente José Eduardo dos Santos, Mário Domingos, teve a sua casa revistada  por quatro agentes da investigação criminal e três dos serviços de segurança. “Os agentes retiraram da sala uma caixa fechada com um televisor novo, foram abri-la na minha ausência e regresseram com a mesma aberta, dizendo que tinham encontrado cocaína. Passei 45 dias preso, a sofrer ameaças, sem julgamento.”

 

Dias antes, Mário Domingos recebeu ameaças telefónicas do presidente da Comissão Executiva de Luanda, general José Tavares Ferreira, por ter usado um veículo e dinheiro que supostamente eram destinados a convertê-lo em apoiante do regime, para apoiar a manifestação de 3 de Setembro.


Esta estratégia das autoridades revela a sua disposição em implementar, sem hesitação, todas as formas possíveis de repressão, incluindo a instrumentalização de autoridades estrangeiras, como a portuguesa. Verifica-se a maquinação incriminatória contra um proeminente líder do movimento contestatário ao governo de José Eduardo dos Santos.


Os principais governantes angolanos têm usado incalculáveis fundos públicos para investirem em Portugal e, por via disso, obterem a submissão política e económica da classe dirigente e empresarial deste país europeu aos seus ditames.