Luanda – As demolições de 250 residências pertencentes aos cidadãos pobres que sobrevivem com menos de um dólar e 50 cêntimos por dia, no bairro Agostinho Neto (vulgarmente conhecido por Arcos Irís), na cidade de Lubango, província da Huíla, alegadamente para construção de uma estrada, levou o anoso primeiro-ministro, Marcolino José Carlos Moco, a reunir na última quinta-feira, 14, com à imprensa, para veemente manifestar a sua insatisfação pela atitude ‘diabólica’ do executivo local. “É uma verdadeira violação dos direitos constitucionais e humanos”, sublinhou.


Fonte: Club-k.net


Durante a conferência de imprensa realizada em Luanda, o também ex-secretário executivo da CPLP assegurou que as mais recentes demolições foram feitas sem antes ter sido garantido alojamento para as 250 famílias desalojadas, ou pagamento das indemnizações legalmente previstas no artigo 37 da actual Constituição.


Marcolino Moco garantiu ainda que os desalojados foram atirados em duas zonas de mato, arborizadas e sem quaisquer infraestruturas básicas, nos bairros Tchavola (onde residem actualmente perto de seis mil cidadãos) e Tchitunho (buraco) que dista a 15 quilómetros da cidade do Cristo Rei. "Neste momento, os moradores do bairro Agostinho Neto vão para Tchitunho, enquanto os outros foram para Tchavola, estão a ser vítimas da mesma sorte trágica", acentuou.


Para ilustrar as denúncias, o ex-secretário geral do MPLA apresentou uma série de fotografias dos despejos e demolição das casas, referindo que nos últimos dias efetuou vários contactos ao mais alto nível para impedir o que considerou reedição de tragédias em tempo de paz, aludindo aos desalojamentos de 2010. “Os contactos ao mais alto nível foram com o governador Isaac dos Anjos e com o ministro do Interior, Sebastião Martins, a par isso enviei uma mensagem sobre as demolições ao Presidente da República”, revelou.


O denunciante acredita que o governador da Huíla esta meramente a cumprir, como sempre, ‘ordens superiores’.  “Ele não está agir sozinho porque senão já teria sido demitido do cargo”, afirmou, acrescentando que "só um sadismo inexplicável é que pode justificar as demolições, feitas contra deliberações da Assembleia Nacional e de organizações não-governamentais".


Marcolino Moco, que patrocina como advogado os desalojados, através da Associação Construindo Comunidade que o contactou para o efeito, disse ter decidido expor publicamente o caso para tentar evitar a continuação dos despejos. "O objetivo é apresentar, enquanto jurista-constitucionalista, uma moção de repúdio pela angústia das populações do Lubango, que intimidadas sofrem sem medida com a insensibilidade e a brutalidade do seu próprio Governo", justificou.


De realçar que as demolições na cidade de Lubango iniciaram desde ano 2010. Num curto período de seis meses (isto é entre os meses de Março e Setembro do mesmo ano), as autoridades locais demoliram cerca de 7081, alegando como justificação “a necessidade de ampliação de estruturas ligadas ao Caminho de Ferro de Moçâmedes e zona ribeirinha”. Embora, até a presente data, esses projectos “ainda jazem” em simples folhas de papel.