Luanda -  Hoje sou forçado a reconhecer, o país está sem rumo, porque os actuais timoneiros estão sem norte. Tudo por se esquecerem ser a “política uma navegação”, e por assim ser, não faz sentido o extremar de posições, para responder a um arrasoado de insensatez, condensada num denominado comunicado público do bureau político do MPLA do dia 20.06.


Fonte: Folha8



No espaço mental de um povo, carregador do seu destino e de muitas agruras, não colhem o tempo todo, o impingir de mentiras, insultos e imprecisões, por mais refinadas que sejam.


Quando um bureau político, órgão executivo de um partido se reune, em momento de crise, não pode fazê-lo, para atender, exclusivamente, uma personalidade, que considera banal, irreferenciavel e que nunca fez parte da estrutura dos seus quadros que se bateram pela independência nacional etc, sob pena de não ser levado a sério, tantos são os candentes problemas do país.

As ideias percursoras e orientadoras seguem rotas projectadas com segurança, susceptíveis, porém, das correcções que os dados circunstanciais aconselhem ou obriguem.

Não me compete, enquanto cidadão (William Tonet), provar nada, o inverso é que é verdadeiro, mas ainda assim vamos ver quem mais facilmente se coloca na pele da mentira.

O actual MPLA diz ter sido fundado em 1956, mas os dados não conseguem demonstrar a existência, naquele ano de nenhum partido ou movimento de libertação com esse nome, tão pouco existe registo e aposição de assinaturas dos seus subscritores na constituição.

É possível existir um filho sem pai e mãe? Quem foram afinal os fundadores?

Quem fabrica uma data de nascimento e persiste nela, mesmo tendo se alterado o quadro inicialmente motivador, faz o quê?


Em 1965, no Congo - Brazzaville na base do Movimento, por orientação de Agostinho Neto, o ex-vice-presidente do MPLA, Matias Miguéis, foi enterrado vivo, tendo ficado a cabeça por dois dias de fora, para receber todo tipo de humilhações até sucumbir. O actual bp do MPLA sabe, quantas crianças soldados e guerrilheiros assistiram aquela  bárbarie?


Em 1966, foi queimado numa fogueira, logo barbaramente, assassinado, na Frente Leste o abnegado e valoroso comandante Paganini e mais seis outras pessoas, acusados de feitiçaria e tentativa de golpe a direcção de Agostinho Neto, em Brazzaville. Quem passados 38 anos depois da proclamação da independência, omite isso na sua história faz o quê?


Continuemos.

a) Consta dos arquivos da PIDE, que repousam na Torre do Tombo, em Lisboa, que Guilherme Tonet (meu finado pai), fundou, em 1960, a FPLA (Frente Popular de Libertação de Angola), partido responsável pela manutenção dos núcleos de guerrilha em Luanda depois da sublevação do 4 de Fevereiro de 1961 e ainda o criador de uma região militar, na zona dos Dembos e Piri, que viria posteriormente a converter-se na 1.ª Região Político Militar do MPLA. Guilherme Tonet partiu, consta, também, para os húmus libertários, com seu filho primogénito (William Tonet), então com três anos de idade.


b) O cartão de pioneiro n.º 485, atesta WT como sendo  natural da 1.ª região político - militar do MPLA. Nas matas, as crianças não andavam a brincar a cabra seca, eram “guerrilheiros-mirins”, servindo de antenas e carregadores dos guerrilheiros. Desde os sete anos de idade que acompanhava o comunicador, vulgo radista, especialidade em que me viria a notabilizar. Fui criança soldado…


c) Na tentativa de abertura de mais uma frente, no Planalto Central, em 1968, o grupo de guerrilheiros foi preso, dentre eles o meu pai, que viria a ser desterrado para a cadeia de São Nicolau. Lá encontrei, estudei e convivi, com um dos actuais membros do bp do MPLA, Bornito de Sousa. Ele pode dizer quem mente e o que fazíamos no campo…



Por tudo isso, brada aos céus a presunção de monopólio, do actual bp do MPLA, de todos quantos se bateram pela independência durante a luta de libertação, principalmente por parte de uma direcção que estava instalada em Brazzaville, quando afirma: “o cidadão William Tonet nunca pertenceu ao movimento guerrilheiro, dirigido pelo MPLA, no período de luta pela independência nacional de Angola, nem integrou qualquer estrutura ou força governamental, que se tivesse envolvido directamente, na luta pela preservação da independência ou pela defesa da integridade do solo pátrio”, lê-se no comunicado. Entretanto o membro do actual bp, Dino Matross, tem conhecimento que o meu cartão de militante do MPLA tem o n.º 1.135, cujo processo, disse o dr. Lau, presente na audiência, ter desaparecido, quando transportavam, em carrinha caixa aberta, os ficheiros de alguns militantes da Segurança de Estado, para a sede do MPLA. Isto foi tudo discutido em 2004, no gabinete do actual secretário geral do “EME”, que me solicitou fotos, para a reconstituição do processo. E se dúvidas houver, João Paulo Nganga estava presente nesta reunião.



O actual bp do MPLA esqueceu-se que determinar a posição na linha de pensamento e inflectir segundo as conveniências de momento são recursos que o mais experimentado navegador não despreza e de que se vale em determinados momentos. Alcançar o objectivo depende do modo e jeito de persegui-lo.


O desnorte é mau conselheiro, porque os dados assim o desmentem. Quem não tem noção da ponderação necessária em política, nos momentos de crise, pode reduzir-se ao ridículo.


Vejamos:


a) Lembra-se o actual bp do MPLA, de todos os membros que estiveram na comissão de redacção do congresso de Lusaka de 1974? Eu sim! Quem mente?


b) Sabe o actual bp do MPLA, dos nomes dos guerrilheiros que vieram, em 1975, no primeiro navio de cimento a partir de Cabinda? O MPLA deve assumir se tinha ou não nas suas fileiras crianças-soldados, antes e depois da independência. Isto para se aferir quem mente…


c) Em 1975 em Luanda fiz parte do grupo de contra-informação, que “invadiu” o então hospital universitário de Luanda (actual Américo Boavida) e de lá retiraram, crianças mortas, corações, fígados e outros órgãos humanos, que serviam de objecto de estudo, aos alunos do curso de medicina, para os colocar nas Casas do Povo da FNLA, acusando-os de canibalismo e de comerem pessoas. Tese que vingou e perdura por muitos anos. Será que o actual bp do MPLA já pediu desculpa aos angolanos e a FNLA, sobre essa mentira? Eu penitenciei-me, ainda Holden Roberto estava em vida e junto da actual direcção da FNLA. Ngola Kabangu e pares podem confirmar?


d) Ainda em Luanda, no bairro Vila Alice, no quadro das actividades dos "Comités Ginga", em 1975, antes da proclamação da nossa Independência, sob coordenação do nacionalista Guilherme Tonet, que organizava e ministrava cursos de formação de activistas pró-MPLA, dos quais se salienta o Curso de Monitores Político - Militares, em que participaram uma pléiade de jovens que mais tarde desenvolveram acções de realce em prol da construção da Pátria angolana. O espaço reservado para as referidas aulas situava-se na residência do saudoso Guilherme Tonet, que na sua acção formativa contou com o apoio do seu filho primogénito William Tonet, cuja missão primordial se centrava na produção, impressão e distribuição dos materiais que serviram de apoio aos formandos. Eis alguns nomes dos participantes nas actividades formativas levadas a cabo por Tonet:


Ana Dias Lourenço - actual Ministra do Plano
Luís Carneiro "Luisinho" - Administrador do Município do Libolo (Kwanza Sul)
Evelize Fresta - Vice Ministra da Saúde
Mariana Afonso Paulo - médica e Deputada à Assembleia Nacional pelo MPLA
Ana Maria de Sousa Santos "Nani" - Secretária Adjunta do Conselho de Ministros
Pedro de Almeida - Médico e ex-Jornalista
Fernanda Dias - Médica e empresária da Empresa Cemedic
Artur Nunes - músico,  desaparecido na sequência do fatídico 27 de Maio de 1977
Sara Bernardete Barradas e Maria da Conceição Guimarães, ex-jornalistas.


Estes são alguns nomes dos muitos jovens que receberam formação política em prol do MPLA no período que antecedeu à proclamação da Independência Nacional e que integraram os múltiplos Comités de Auto-Defesa (braço armado embrionário do MPLA na cidade de Luanda) sob tutela dos Comités Ginga espalhados nos bairros como Sambizanga, Prenda, Golfe, Cazenga, Marçal, Rangel, Bairro Popular, Ilha de Luanda, Ingombota, etc.


e) WTonet, foi um dos comandantes que levou pioneiros de Luanda, ao Largo 1.ºde Maio, afim de servirem de porta bandeira, na noite de 11 de Novembro de 1975, data da proclamação da Independência. Um destes pioneiros, dentre outros, foi Toninho Van - Dúnem, ex-secretário do Conselho de Ministros. 


f) Em 1976, era um dos estado-maior das Comunicações da 9.ª Brigada das FAPLA, tendo sido nessa condição, colocado, por orientação da Comissão Executiva do MPLA, no gabinete do Comandante Nito Alves, para a área juvenil e de mobilização em Luanda. Participou nas várias reuniões preparatórias e electivas, dos membros das Comissões Populares de Bairro. Foi autor, na campanha de diabolização do adversário político, mais temeroso da altura, da expressão, que viria a ser musicalizada: “Holden é como camaleão”! “Ele é lacaio do imperialismo internacional”, num dos comícios no campo de São Paulo, em Luanda! O actual bp do MPLA pode desmentir isso?



g) Em 1977, por ocasião do 27 de Maio foi preso, sem culpa formada, pelo agente da DISA, Carlos Jorge, -tcp –(também conhecido por), Cajó, acusado de fraccionismo, na companhia de seu pai, Guilherme Tonet, mais dois tios, que viriam a ser enterrados vivos. Cajó, famoso algoz, continua vivo e é uma referência deste MPLA.  



h) William Tonet está registado com o n.º 5369/86, como Antigo Combatente (vide cartão), emitido no período de partido único, onde o rigor de pendor comunista era mais acentuado. O processo foi constituído e repousa nos arquivos da então Secretaria de Estado dos Antigos Combatentes, tendo sido emitido aos 28 de Agosto de 1986, Ano da Defesa da Revolução Popular?



i) Nos anos 80 foi delegado da TPA (Televisão Popular de Angola) em Benguela. Trabalhou ainda a nível da JMPLA com a deputada do MPLA, Angela Bragança e com o actual Presidente do Tribunal Constitucional, Rui Ferreira.



j) Na qualidade de oficial de comunicações, especialista em interseção militar, foi requisitado em nome do governo e na sua condição, para trabalhar, em diversas ocasiões com os generais Kundy Pahiama, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó” (ambos membros do actual bp do MPLA) e Fernando Garcia Miala, então chefe da Casa Militar da Presidência da República. Reservo-me a não revelar mais segredos de Estado, por hora.



k) Ainda na qualidade de oficial e estado maior de comunicações militares, sua especialidade, trabalhou, entre os anos 80 e 90, em muitas das grandes operações militares das FAPLA, nas regiões Sul, Norte, Leste e Sudoeste, na criação de linhas de interseção, com os generais, Ngueto, Faceira, João de Matos, Armando da Cruz Neto, Jorge Sukissa, entre outros. Aliás nessa condição, com conhecimento do general João de Matos, foi impedido, por ordem militar do comandante – em – chefe, José Eduardo dos Santos de se retirar da Frente Centro. É estranho que o actual bp do MPLA, desconheça esse pormenor, pois existem provas materiais.



l) Diz o comunicado do actual bp do MPLA, que, repito, não acredito tenha sido subscrito por todos os seus membros, que WT nunca “integrou qualquer estrutura ou força governamental, que se tivesse envolvido directamente, na luta pela preservação da independência ou pela defesa da integridade do solo pátrio”, fim de citação. O acima exposto mostra isso? Para quê comentar.



m) Em 19 de Maio de 1991, após quatro dias de negociações directas entre William Tonet e os líderes do MPLA e da UNITA, respectivamente José Eduardo dos Santos e Jonas Malheiro Savimbi, foi assinado no Alto Cauango, Luena-Moxico, o Primeiro Acordo de Paz de Angola, pondo fim a uma guerra de 57 dias, entre as tropas militares das FAPLA/MPLA e FALA/UNITA, mediado por um angolano, William Tonet. Alguns dos subscritores ainda estão vivos, os generais, Higino Carneiro, Nelumba Sanjar, Chilingutila, Mackenzi, entre outros. Ou será que este acordo não existiu e foi uma invenção minha, tal como a audiência concedida, logo depois no palácio presidencial, no Futungo de Belas, por José Eduardo dos Santos?     



n) A WT-MUNDOVÍDEO, empresa que dirijo realizou várias acções e obras por orientação e solicitação da Presidência da República, no Leste de Angola em 1991, nomeadamente no fornecimento de combustível e medicamentos para as unidades militares e civis, reparação da pista de aviação do Luena, de escola e do hospital. Foram ordenantes o dr. José Leitão e Fernando Garcia Miala. Até hoje, depois de estarem servidos, existe uma dívida, não paga, popr José Eduardo dos Santos, que com os juros ascende os USD 11 milhões de dólares.



Como se pode verificar os factos falam por si, mas o importante é termos, enquanto cidadãos, consciência de que a nau do MPLA/Governo singra ao acaso, impelida por ventos estranhos, desprovida de pilotos responsáveis e conscientes da nacionalidade a que pertencem. Apontam-nos, diria Mário Saraiva, envolvida na névoa da distância, a mancha dúbia de “Um futuro Melhor”. Miragem paradisíaca, ou holocausto da pátria. E de que lado está o actual MPLA? E o governo/JES? Eles têm o dever de nos informar. Os angolanos têm o direito de, rigortosamente, o saber! O povo tem de ter a consciência exacta de que aqui e agora se joga o nosso destino humano e de angolanidade e é hora de fazer alguma coisa, sob pena do país soçobrar.


Há, de tempos a tempos, que tomar-se a altura do Sol para que a rota se não extravie pela pela superfície movediça de factos e circunstâncias, num mar-alto sem referências nem horizontes. Também hoje, “Angola vagueia num mundo transformado e revolto, sem horizonte” nem pontos de referência angolanos.


É pois em função, também deste comunicado, a hora de tomar o ponto da situação e de corrigirmos os desvios de orientação, em nome da estabilidade do país e não continuarmos passivos, ante a procissão dos corruptos, que pretendem a continuação da discriminação e a promoção de uma nova guerra.


Estejamos unidos. Defendamos a democracia e a Paz das armas alcançada, pois há quem nos queira levar a uma nova guerra, forjando, tal como em 1977, bodes expiatórios.