Luanda - Esta última manifestação de antigos combatentes desmobilizados das FAPLA, vergonhosa para o regime, não teve início no dia 20 de Junho, mas nos 07, 14 e 15.06, da semana passada. Nesse dia, cerca de dois mil militares manifestaram-se em Luanda, reclamando contra o abandono a que estão votados e o desleixo que merece o tratamento a que são sujeitos.


Fonte: Folha8



Na nossa edição da semana passada fizemos uma abordagem deste acontecimento e escrevemos. «São homens de se dedicaram de corpo e alma a um ideal que nem sempre é recompensado, ou seja, a defesa de valores que lhes ensinaram que eram sagrados. Acontece que esses valores sagrados deviam ser exclusivamente os da defesa da Pátria e com o passar do tempo e sob influência do partido no poder, transformaram-se em defesa de uma parcela da Pátria, não da Pátria no seu todo, no que ela tem de mais sagrado, a sua unidade. Dessa deriva causada pelos principais dirigentes do país resultou uma situação de conflito, agravada por circunstâncias de diversa origem, nomeadamente as que estão ligadas a não observância de compromissos laborais, como, por exemplo, o pagamentos das pensões decorrentes das cotizações da Segurança Social que eles efectuaram durante anos a fio!»


Com estas palavras ficou tudo dito no que toca ao essencial deste desaguisado entre o Executivo e os militares manifestantes. E a primeira coisa que há a descorticar neste tipo de situação resume-se a um questionamento sobre as características das FAA enquanto instituição do Estado: é apartidária ou partidária? Em vésperas de eleições esta é a grande questão que se coloca.


Pelos vistos, por alguns pronunciamentos e posições acirradas em relação a alguns partidos políticos a nítida impressão que colhe é de ela se colocar na maioria das vezes no papel de extensão do MPLA.


O Estado Maior General das FAA (EMGFA), emitiu no dia 16 passado (sábado) um comunicado no qual é dada uma informação que não passa de uma fantasia imaginada pelos seus mentores, pois ao afirmar que a manifestação tinha raízes políticas e a UNITA; o Bloco Democrático e a CASA-CE estavam implicados na sua eclosão, é, nada mais nada menos que uma redonda e pura mentira. Nenhum político ligado à UNITA, ao Bloco Democrático e, ou, à CASA –CE tinham organizado fosse o que fosse.


Porém, esta fantasiosa tirada do EMGFA tinha alguma réstia de colagem com a aparência daquilo que se estava a passar no terreno, pois quem esteve no quartel das transmissões das FAA, isso é verdade, foi o mais simplesmente possível, William Tonet, na qualidade de desmobilizado e em nenhum momento se escondeu. Tanto assim que se apresentou junto do alegado mediador, Bento Kangamba, o qual se encontrava dentro de uma viatura hermeticamente fechada e sob forte escolta de militares da Polícia Militar, da PIR e de guardas da UGP.


Recorde-se ainda que William Tonet foi um dos desmobilizados, que se opôs a que outros momentos de ira, como impedir a audição de Kangamba ou mesmo lhe virassem o carro como se chegou a sugerir. Ninguém dos desmobilizados falou de política, com excepção do mediador que várias vezes evocou o nome do MPLA e do seu presidente.


A omissão deste facto por parte do Estado Maior General das FAA, indicia que esta instituição que deve ser apartidária e independente das tentaçõespartidocratas, considera o MPLA, o único partido político angolano, com legitimidade de fazer política nos quarteis.

Desta forma, as FAA consideram que o MPLA é o Estado e o Estado é o MPLA. Erro que mais cedo ou mais tarde alguém há-de pagar. E o mais certo é vir a ser o pvo de Angola a ter que pagar as despesas, os estragos e as misérias de tão má desgovernação.