Luanda - Naquele momento nem Adão Manuel, o esposo da agora malograda Manuela Canga Manuel, quis acreditar que aquela mulher ensanguentada ao seu colo era a sua esposa com quem em segundos conversava e perspectivava o futuro. As primeiras horas de quinta-feira, 21, Adão Manuel fazia quase religiosamente o mesmo trajecto ao volante de uma viatura de marcava Rav4, para na Avenida 21 de Janeiro levar a esposa a universidade Independente e posteriormente levar a filha a creche.


Fonte: Angolense


Nada, mas nada mesmo previa que aquele dia seria diferente, porém, no mesmo local, por ironia do destino, uma mulher de nacionalidade russa, que minutos antes acabara de levantar 15 mil dólares norte-americanos de uma dependência bancaria situada naquela zona, isto é, município da Samba, bairro Morro Bento, nas imediações das instalações da Unidade de Guarda Presidencial (UGP), a mesma era vítima de um assalto perpetrado por um grupo de marginais.


Para evitar que tal acontecesse aquele efectivo da UGP numa atitude raramente vista, pois não existe relatos que um efectivo daquela unidade militar saíra em defesa de um cidadão, mas desta vez, um militar tentou abortar o assalto a cidadã russa abrindo fogo contra os supostos meliantes.

Resultado: nenhuma das munições atingiu os marginais e, como senão bastasse, uma das balas atingiu mortalmente na região da cabeça de Manuela Manuel, de 30 anos de idade, com seis meses de gestação. A vítima encontrava-se na viatura em direcção a escola na presença do marido e da filha de 2 anos, que até ao momento está traumatizada.


Contam testemunhas que tão logo Manuela foi atingida, o marido parou o carro e dirigiu-se a  um elemento da UGP para obter satisfações, mas aquele militar ao que parece, não se coibindo pelo acto involuntário que cometera, perante o marido desesperado e aos “prantos” a clamar por ajuda, o terá também ameaçado “não dá mais nenhum passo”, disse o militar com ar de pouco amigo.

Perante tal quadro, Adão regressou para viatura no intuito de socorrer a esposa, mas sem sucesso, porque a mesma deu entrada na clínica Multiperfil já sem vida.  Na quarta-feira, 26, Manuela foi a enterrar no cemitério da Santa Ana, enquanto o paradeiro do militar da UGP ainda é considerado desconhecido.


Familiares da vítima denunciaram a este jornal que no período em que o corpo de Manuela permaneceu na clínica Multiperfil, elementos não identificados a calada noite retiraram do local o cadáver e o levaram ao Hospital Maria Pia, onde foi submetido a uma autópsia, sem permissão dos familiares e, como senão bastasse, os familiares estão a ser ameaçados para permanecerem calados.

Os familiares das vítimas clamam por justiça. Estamos recordados que em tempos idos um jovem identificado por Cherokee foi torturado até a morte por doze efectivos da UGP, na Ilha do Mussulo, por ter cantado uma música do Rapper MCK que critica o actual regime, mas espantosamente os envolvidos neste caso encontram- se em liberdade. A grande questão que se levanta é se os militares da UGP são impunes?