Luanda - O periodo que antecede as eleições em África não deixa de ser momento de incertezas. Incertezas em relação ao que vai acontecer durante o período referente à campanha eleitoral. As acusações chegam ao rubro... todos acusam todos, todos ameaçam todos... infiltrados fazem-se passar por governo ou por opositores, realizando acções menos boas e depois fica a dúvida no ar: afinal quem é quem? ... Incertezas em relação ao próprio dia das eleições, com urnas a desaparecerem, enquanto outras, vindas de onde só poucos sabem, aparecem a substituir as outras. Incertezas em relação ao dia seguinte. O que irá acontecer? Regresso a guerra ou continuidade da paz?

 

Fonte: Club-k.net

Ficar calado estou a ser covarde?

Em Angola, o presidente fala em "crescer mais e desenvolver melhor". Todos queremos que seja este mesmo o espírito. Somos uma das economias que mais cresce em todo o mundo. Muito deste crescimento está centralizado no petróleo e nos grandes centros urbanos, enquanto que os que vivem nas periferias têm de percorrer logas distâncias à pé, e mais alguns quilómetros de estradas péssimas para ver o crescimento que o país regista. O desenvolvimento está a chegar, timidamente, mas está a chegar. Com a carroça à frente dos bois, mas estamos a desenvolver...


A luta por um lugar no parlamento como deputado à Assembeia Nacional veio trazer um mar de descontentamento. O MPLA aparece com uma lista de gente muito experiente, mais velhos, na sua maioria, com gente de craquejo político, mas com pouco de novo para dar à Assembleia e ao país. Pouco sangue novo. A UNITA quase imitou o MPLA. A FNLA também. Parece que o mais importante é acomodar os velhos camaradas, com um lugar no Parlamento e a beneficiarem de todas as regalias inerentes ao cargo de deputado. Já que estamos a falar de incertezas, neste caso a incerteza refere-se à sustentabilidade dos parlamentares destes partidos.


Outros partidos emergentes, apercebendo-se desta fraqueza dos "grandes", recrutaram muitos jovens, aparecendo com muita juventude, vindo das fileiras dos grandes, principalmente.


A onda de greves e manifestações que se vão registando um pouco por todos os sectores é um sinal claro de que as pessoas têm a certeza que o melhor momento para reivindicar fosse o que fosse é durante o período eleitoral, onde o partido da situação, mais sensível, abre mãos aos cofres para ganhar as eleições de forma folgada ou fecha-se e perde alguns pontos para a oposição, caso esta consiga tirar vantagens da situação...


Esta incerteza faz com que eu assista a muitos acontecimentos e me cale. Não digo nada. Fico calado. Achas que assim estou a ser covarde? Talvez esteja. Muitas vezes já dei comigo a pensar que eu não sou assim... Calar não é a minha sina... Só que calado, tenho a certeza de que amanhã irei acordar com saúde... vou saudar a minha filha... orientá-la naquilo que deve fazer durante o dia... chegar no serviço e trabalhar em prol dos mais vulneráveis... telefonar e receber telefonemas de amigos com saudações mútuas... de noite dar aulas, ajudar os alunos a compreenderem este mundo cheio de mistérios, a diferenciarem crescimento de desenvolvimento... evolução versus progresso...globalização... neoliberalismo... depois, regressar à casa e preparar o dia seguinte...


É esta certeza, meu amigo que me ajuda a viver calado às muitas incertezas...