O primeiro caso a observar é, naturalmente, o da UNITA, que baixou de 35 por cento em 1992 para apenas dez por cento nas últimas eleições. Em 16 anos, a UNITA desceu de um milhão para 500 mil votos, o que é agravado pelo facto de o eleitorado, entretanto, ter duplicado. Como já comentei em textos anteriores, a cifra de 35 por cento alcançada em 1992 foi claramente empolada pela capacidade de intimidação que o referido partido possuía na época. Quanto aos dez por cento actuais, alguns analistas continuam a considerá-los surpreendentemente reduzidos, o que só o tempo poderá confirmar ou desmentir.

A primeira razão para o descalabro da UNITA é o facto de a sua imagem continuar associada à guerra que, sobretudo depois de 1992, destruíu quase totalmente o país. Essa percepção está longe – diga-se – de ser injusta, uma vez que o partido nada fez para se libertar dessa imagem, antes pelo contrário: manteve a mesma pose arrogante e autoritária de sempre, o que nem o discurso de auto-vitimização de que se socorreu por vezes conseguiu disfarçar. A UNITA sequer teve a inteligência de pedir desculpas pela sua decisão de voltar à guerra em 1992. Agora é tarde.

O desconhecimento atroz da autêntica realidade angolana foi a segunda razão para a derrota clamorosa da UNITA. Esta última parece que ainda não compreendeu que a Angola que tem na cabeça simplesmente não existe. O país, além de possuir uma mistura antropológica que faz espécie aos ideólogos do referido partido, é caracterizado, do ponto de vista sociológico, por uma perspectiva de abertura, modernização e inovação que não se compadece com o discurso e a prática cultural fechada do referido partido.

Três factores concorrem para isso: em primeiro lugar, a maioria da população é composta por jovens; em segundo lugar, 60 por cento dos angolanos vive hoje em cidades; em terceiro e último lugar, mesmo a “Angola profunda” invocada pela UNITA não passa de uma ficção, como se pode constatar do contacto actual com as áreas rurais e com os camponeses do nosso país.

O terceiro grande motivo para o recente fracasso eleitoral da UNITA é a sua incapacidade de adquirir uma feição realmente nacional, associada à sua notória falta de quadros, não só técnicos, mas também políticos. A verdade é que, mesmo desprovida do seu exército, a mencionada organização luta com grandes dificuldades para se libertar do seu cariz “militarista”. Como que a confirmá-lo, a esmagadora maioria dos dezasseis deputados que conseguiu eleger no último dia 5 deste mês é constituída por antigos generais. Para se transformar num partido normal e capaz de fazer luta política em sentido estrito, a UNITA precisa de uma profunda reciclagem.

Quanto aos demais partidos da oposição, foram quase todos uma desilusão total. Notoriamente, nenhum deles fez, desde 1992 (ou, vá lá, desde 2002, quando a guerra acabou) o seu dever de casa, ou seja, estruturar-se em todo o país.

Também para mim, a maior desilusão talvez tenha sido a da FpD. A sua postura elitista e vanguardista – que insiste em manter depois de apurados os resultados da eleição - faz transparecer a origem estalinista da maioria dos seus dirigentes. Pior do que isso, com as suas actuais e infundadas queixas em relação às contas feitas pela CNE para determinar o número de deputados de cada partido, apenas mergulha definitivamente no ridículo.

Uma excepção deve ser feita para o PRS, que conseguiu subir de seis para oito lugares no parlamento. O referido partido fez uma campanha bastante centrada, que beneficiou dos problemas de governação existentes no Leste do país, em especial na Lunda-Sul. Insisto que uma melhor governação no Leste – região historicamente ligada ao MPLA – contribuirá para reduzir a importância desse partido.

Fonte: JA