Mas triste que não ter dignidade,
é não apoiar ou criticar a quem a  defende”

Mas da Espanha, não vêm só noticias como estas...vêm também, as notícias do desembarco humilhante, degradante e vergonhoso dos nossos irmãos da Gambia, Senegal, Guiné –Bissau, Nigéria, Malí, Camaröes, Marrocos,etc,que  protagonizam todos os anos, principalmente no verão...uma viagem que pode durar  semanas no alto mar...milhares e milhares,não chegam...perdem-se no mar...outros tantos, crianças, mulheres jovens, mulheres grávidas, homens jovens, etc. chegam em situaçöes agonizantes, uns moribundos, outros mortos de hipotermia, sede e fome! Um deste emigrantes afirmou:”tentarei, até que consiga (chegar a Espanha) ou perda a vida!

Angola- jornal de Angola- amplia reportagem sobre a vida de uns zungueiros que se dedicam a venda de água na rua com o título: “Eles “matam” a sede dos citadinos”!

Fala da vida de Paulo Daniel, um jovem de vinte anos, que vive, (vive? ou mal vive, vê a noite?) com a sua esposa de dezanove anos e uma filha de dois anos em Viana que, recorde-se, dista  a vinte kilometros, aproximadamente, do centro da cidade, o seu centro de trabalho; Escreve a reportagem, que a jornada laboral do Paulo, “ é interrompida apenas na hora em que decide almoçar, numa casa em que confeccionam pratos típicos de Angola... A mulher do Paulo, também vende na praça, etc,etc...é tão triste a descrição que fazem da vida do Paulo e outros zungueiros...mas, o mais triste e aborrecido ainda, é “insinuarem” a vida que leva, como se fosse algo desejável, normal, porque “eles matam a sede dos citadinos”! sim, até é verdade, mas a quê preço?

Não é a primeira vez, que lemos reportagens como estas...lemos, sobre os antigos combatentes no hospital militar...lemos, sobre os “baleamentos” das forças de ordem a cidadãos indefesos...lemos, sobre demolições, algumas justificadas, outras não! Lemos, sobre a situação das gentes nas Lundas, etc,etc.

Um comentário, postado num famoso portal de notícias, deixava o seguinte recado: “devo dizer que há muita eficiência nestes negócios, meio dia quando o sol esta a dar, não faltam os refrescos, desde águas a cervejas e etc, a tarde tem sempre um lanchezinho a qualquer esquina, nas zonas universitárias, não falta o material escolar, na de serviços, não faltam os impressos ou” imprensos” como lhes chamam, nas obras publicas os auxiliares de rua fazem já uma pré-inspecão do carro, detectam o numero do motor, limpam o carro, e tratam de por o nome e endereço no tabilier,e te dizem já se o teu carro vai passar ou não na inspeção, para evitar chatices la dentro, no aeroporto tem já alguém que nos despacha as malas sem ter que ficar na fila, devo dizer que traz alguma comodidade este processo, e pena so que não tenha muita estética, mas se e conveniente, lá isso é. os manos da diáspora tem de vir sentir as coisas em primeira mão, para entenderem melhor o processo que da sempre um jeito a todos, de outra forma esses coitados estavam que nem na etiopia , a dar aquelas banderas na TV”!
Sinceramente, se já tinha ficado chocado e cansado com a reportagem,  mais  cansado ainda fiquei, com este comentário!
Nem sequer vou entrar na vertente anti higiénica , anti estética, anti lógica social-económica da questão, um verdadeiro atentado a  saúde pública, a organização normal de uma sociedade...! desconto esta parte, no fundo, “esses coitados” só estão a “desenrascar”, “virar-se”, “buscar alternativas”, para poder levar o pão a boca, senão, “estavam que nem na Etiopia, a dar aquelas Banderas na TV”!

Em qualquer dicionário se pode encontrar: “Dignidade significa "qualidade de digno". Deriva do adjectivo latino dignus, e, traduz-se por "valioso"; é  o sentimento que nos faz  sentir valiosos, sem importar nossa vida material ou social.
A  dignidade,  baseia-se no reconhecimento da pessoa de ser merecedora de respeito, quer dizer, todos merecemos respeito sem importar como sejamos. Ao reconhecer e tolerar as diferenças de cada pessoa, para que esta se sinta digna e livre, se afirma a virtude e a própria dignidade do indivíduo, fundamentado no respeito a qualquer outro ser. A dignidade,  é o resultado do bom equilíbrio emocional. Por sua vez, uma pessoa digna pode sentir-se orgulhosa das consequencias dos seus actos e, de quem se viu afectado por estes.

 A dignidade reforça a personalidade, fomenta a sensação de plenitude e satisfação.
É o valor intrínseco e supremo que tem cada ser humano, independentemente da sua situação económica, social e cultural, assim como, das suas crenças ou formas de pensar.

O  ser humano possui dignidade por si mesmo, não vem dada por factores o indivíduos externos, se tem desde o mesmo instante da sua concepção e é,  “inalienável”.

E, etc. (ver mais, em qualquer dicionário).”

Voltemos a vida do jovem  Paulo, sua jovem esposa e o seu mais recente rebento-filho-, provável resultado, do único momento em que o jovem Paulo e a sua jovem esposa, depois de uma jornada difícil, expulsem, no  leito de qualquer sitio, talvez  numa esteira, as últimas “energias” de um dia esgota dor!

Esta rotina do jovem Paulo, pode ser considerada uma vida, vivência, existência, digna ou dignificante?
Com a vida que o jovem Paulo leva, é remota a ideia de ter um lar,  a  não ser que  decida, aos fins de semana, junto a uns amigos, ou mesmo  a jovem esposa, fazer uns adobes para começara levantar as quatro paredes...carro, já nem falar!
Levanta de manhã, despede-se da esposa, passa todo o dia fora e só volta a noite, com as últimas energias! Não vê a mulher e o filho durante todo o dia, não come com a família, não leva o filho a escola nem o vai recolher, não passa umas horas de laser com o filho, dificilmente participa nos deveres escolares, e ”da escola da Leonor”, já nem falamos...mas que tipo de vida é essa? Isto é uma família? Não! Se não é uma família e, se for um   caso generalizado, que tipo de sociedade estamos a formar?
Quem nunca ouviu e seguramente, comparte, a famosa frase, “a família é o núcleo de qualquer sociedade”?

Se deixarmos, se assumimos como normal, a vida que o infeliz Paulo leva, o quê que podemos esperar da nossa sociedade?
É que, não é um caso isolado de Angola, produto da guerra...”, tudo produto da guerra...(recordem-se que, a campanha eleitoral já acabou e que, agora estamos a falar claro!), é uma caso generalizado no nosso continente,  e noutros também, os da órbita do chamado terceiro mundo, subdesenvolvidos, aqueles que têm várias características comuns, entre as quais: não apostar na educação  massificada e de qualidade; não colocar o cidadão no centro das suas políticas públicas e, portanto, não pautar por políticas, que dignifiquem a vida dos seus cidadãos: organizar a sociedade, de tal forma que não caibam espaços para estas práticas, e,etc.

Por exemplo, se o governo, o estado, permitir que o cimento importado da china (um caso como muitos), se venda a saída do porto...um lugar inapropriado; sem registros de contabilidade e, portanto, sem pagar o respectivo imposto de sociedade...sem organização dos trabalhadores,etc., não está a promover nem defender, a organização da sociedade. Se este negócio fosse feito em lugar apropriado, criava emprego, pagava impostos, pagava o salário mínimo, inseria socialmente os indivíduos e, fazia parte de uma extensa rede de empresas!

Agora, se assumirmos, que a actividade do Paulo, é parte de “um processo que dá sempre um jeito a todos...”, Mas um processo que se desenvolve em condições inapropriadas, em todos os sentidos, enfilamos directamente para uma sociedade desestruturada e insustentável,!

Isto não pode ser...isto tem que ser combatido...erradicado!Mas para isso, o governo-estado, tem que trabalhar no sentido de criar uma alternativa a este modo de vida.

Há opções tão simples como: permitir que o jovem Paulo tenha um lugar decente, como uma cabine portátil de vendas...ou que as empresas, não possam comercializar fora dos circuitos legais,etc. Haja vontade, vontade política para tomar medidas devidas!
Podemos... não somos diferentes aos demais...muitos estudamos nas suas escolas, fomos melhores alunos que muitos deles, vivemos nas suas sociedade e, nos comportávamos como eles...éramos cidadãos com dignidade e, pautávamos a nossa vida, a nossa conduta, atitude, hábitos e acções pela dignidade!

Não aceitemos pois, que normalizem a indignidade nas nossas vidas, nas vidas dos nossos compatriotas...enfim, que normalizem a indignidade na nossa sociedade!

Se os outros, andam a reclamar a dignidade dos e para os animais..., pois reclamemos nós, a nossa dignidade como seres  humanos, que, recordem-se, é “inalienável”


* João ondaka yasunga (Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.)
Fonte: Club-k