Cabinda – Reina a expectativa em torno da indicação do próximo governador na província de Cabinda. Alguns nomes estão na linha de contas entre os habitantes daquela província. Entre os preferidos está em primeiro lugar Aníbal Lopes Rocha, um nome que se quer ver de volta. Depois vem o Marcos Barrica. O embaixador tem boas referências, sempre cumpriu com zelo as suas missões mas nunca teve a sorte de estar na sua terra natal.

Fonte: Club-k.net

Nas contas surge, igualmente, o nome do general Nguto. Quem também vem sendo falado é Dr. Oliveira, um médico regressado do Brasil onde foi fazer sua formação complementar. O mesmo já ostentou cargo de vice-governador no tempo de Amaro Taty e de Aníbal Rocha. É uma pessoa conhecida como bastante humana e humilde.

Naturalmente que a Matilde da Lomba está na corrida, mas tão cedo vem sendo contestada devido a sua dureza demonstrada em relação algumas pessoas mal ascendeu ao cargo de governadora interina. Ela não goza de simpatia nos bairros. Se tudo dependesse do povo, era já uma carta fora do baralho. Nos últimos dias muito se lhe atribui responsabilidade pela saída de Mawete, tal é o seu comportamento menos polido ao dizer a cada instante da campanha que “o outro não preparou as eleições”.

Está a fazer uma campanha promovendo a si própria, dizendo que esta é a vez das mulheres, esquecendo-se que a cabeça de lista a ser aclamado nesta fase do processo é o Presidente e cabeça de lista do MPLA, José Eduardo dos Santos. A confirmar-se como governadora, há-de surgir o momento mais negro para os baiombi.

Fala-se dum revanche seu entalada na garganta desde o seu tempo de secretária da OMA (braço feminino do MPLA), posto que deixou devido a algum mal-entendido, tendo estado, circunstancialmente, de outro lado pessoas de origem do Maiombi. É que a actual cabeça de lista foi mesmo expulsa da OMA pelo desaparecimento de dinheiros. Tudo aponta para uma clara vingança do chinês.

Por isso, funda-se um dos grandes receios, e a palavra vai sendo passada de boca em boca numa espécie de campanha porta-a-porta antes que haja razia, que para muitos terá mesmo começado contra uma franja da população que por sinal de maioria étnica na província de Cabinda.

Quando se fala que o município de Cabinda se constitui em maior praça eleitoral, deve-se muito ao êxodo dos baiombi à cidade de Cabinda na busca das melhores condições de vida. Neste momento avulta-se uma permanente e impertinente questão: Quando é que um maiombi será governador de Cabinda. É uma questão que deixou de ser trivial passando a ser transversal no concerto local.

Reina a expectativa e muita ansiedade em Cabinda quanto a quem virá a ser designado governador pós-eleitoral. Por essa razão que a província virou centro da superstição e magia e com recurso de quem pode aos países vizinhos, eventualmente, de outros mais. O crédito a superstição chega a ser presunçoso. Neste momento, os prosélitos de tais práticas aguardam apenas pelas entidades centrais com fim de darem mãos trabalhadas na base do feitiço. Chega a ser uma questão idiossincrática. Aliás só assim que se explicam alguns fenómenos em Cabinda, onde o feitiço chega a ser importado.

Os grandes problemas de relacionamento que se verificam hoje em Cabinda têm muito a ver com as injustiças entre os seus próprios filhos sob coloração do norte e sul. Tal injustiça se repercute no modo tão simples como os dirigentes locais gerem os recursos humanos e tratam os quadros.

Reza a história de Cabinda que os primeiros amigos do MPLA são a população do Maiombe, um povo que habita a cintura florestal norte indo às entranhas dos dois Congos através da localidade do Miconje. Por lá passaram grandes nomes da história da revolução que culminou com a independência de Angola, sendo os casos de Fernando da Piedade, Dino Matross, Bornito de Sousa, Mawete João Baptista e até o Presidente da República passou por lá, ainda um jovem guerrilheiro afecto às comunicações.

Acontece, porém, que depois volvidos os anos da independência do país, pouco ou quase nada se faz em prol da zona norte de Cabinda, não tanto por causa da má vontade dos órgãos centrais do Executivo, mas por culpa da displicência e em alguns casos por causa da má vontade de algumas pessoas que passaram em Cabinda como governadoras.

Receia tal comportamento em relação aos tempos que se avizinham no caso, venha a ser nomeada para aquela província uma pessoa com a mesma sensibilidade de ontem com excepção para os dois últimos governadores que passaram por lá, curiosamente, os dois originários da província do Uíge.

Todos os grandes projectos foram concentrados na localidade sul da província, em detrimento de outros pontos. Um dos grandes exemplos é a localização das turbinas à gás do Malembo que bem podia se implantados na zona do Dinje por ser a localidade centro por excelência da província.

É por isso a governadora interina está a alinha no mesmo diapasão ao afastar do seu gabinete um dos valiosos quadros de nome Jacques Ludivico Zacarias, em clara intenção de marginalizar, ou ver de longe, alguém do Maiombe, e com outros propósitos somente de conformar o figurino de que se vem referindo.

Ao lugar do Jacques Zacarias foi convocado um quadro também do Maiombe numa atitude de faz de contas, já que quem comanda actualmente o gabinete da governadora interina é Manguali Tigre do Malembo, região à litoral sul, por sinal pai da sua filha, promovido como assessor do mesmo gabinete.

E aqui está o busílis da questão. É sempre o esquecimento dos outros para se obedecer um plano que favorece o familiarismo e o capricho hegemónico barato que sempre dividiu franjas na sociedade cabindês. Tal comportamento em nada contribui para a elevação cívica e política bem como da imagem que sempre o Estado quis para aquela parcela da província.

Por isso é que alguns apostadores locais preferem que o Executivo central mande para lá um quadro de outra província para governar. Só que chegando a esta fase, já se formula a hipótese de se ver o governo de Cabinda também nas mãos de alguém do norte de Cabinda.

Mesmo à nível do apoio empresarial também não se contempla ninguém do Maiombe, talvez o acesso ao crédito poderia salvar essa situação, mas para tal seria bom levar-se bancos aos confins de Cabinda. Quem fala do Maiombe, poderia falar também por exemplo dos bassundi do Tando-Zinze, quiçá do Miconje. O povo do Maiombe lamenta alguns comportamentos menos bons que incide normalmente no afastamento de alguns filhos seus de lugares privilegiados no exercício das suas competências.

Os baiombi receberam o MPLA na era da guerrilha sentem-se como que esquecido, lamentado o facto de não se fazer jus a isso e consideram-se sempre os últimos da fita. Haja nomeação, dizem os filhos daquela parte das terras de Cabinda. Trata-se da grande questão em voga nas terras da grande floresta e do petróleo. Ninguém mais consegue deter a vontade legítima deles em governar a província ainda que seja para um minuto.

A continuar assim, o norte nunca vai desenvolver já que todo o orçamento fica no sul. Até a fábrica do sumo que estava para ficar no Maiombe acaba por ficar no sul, quando a grande produção do ananás por exemplo fica no Maiombe. Então para se acabar com este estado de coisas, o povo do Maiombe propõe dois governadores, cada um com o seu orçamento, um do distrito norte e ouro do sul a exemplo de Ponta Negra, de modo a se acabar com as assimetrias e se projectar o desenvolvimento também no loango.

Isto é fazível, porquanto, de resto é apenas uma questão de terminologia. Luanda por exemplo, faz algum tempo que adoptou uma nova metodologia e divisão administrativa e vê-se que tudo está a correr sem constrangimentos.

*Estephan Baptista