Huambo - Segue na íntegra o memorando de autoria do analista Ernesto Kaviombo sobre a situação na província do Huambo.


Fonte: Club-k.net

Muteka ajuda acabar com a hegemonia

Ao contrário do que aconteceu há quatro anos atrás, o MPLA, no Huambo, dificilmente conseguirá resultados que permitam eleger, da mesma forma folgada, sequer dois deputados nestas eleições.

Inicialmente, o confronto político era tido apenas com o eterno rival, a UNITA, que, de lá para cá, reconhecidamente, cresceu e melhorou a sua acutilância. Mas, as perspectivas complicaram-se com a entrada em cena de uma nova formação, a CASA-CE, de Abel Epalanga Chivukuvuku. Pelo seu carisma, em pouco mais de dois meses a CASA-CE conquistou aderentes quer de um, quer do outro lado, complicando sobretudo as contas da nova direcção do “maioritário” nesta província, cuja prestação tem sido dificultada pela postura de Fernando Faustino Muteka (apelidado de “o careca”), acusado de praticar caça “às bruxas” aos principais cabos eleitorais deixados por António Paulo Kassoma, situação que aterroriza e afugenta parte considerável desse extracto político da própria actividade partidária.

Não menos grave no entanto, as vitimas consideram haver compadrio de algumas figuras de proa do próprio MPLA, como Julião Mateus Paulo “Dino Matross”, por se deixarem levar por relatórios enganosos que são levados ao Presidente do MPLA. Consideram mesmo que a situação no Huambo é considerada igual ou pior que a de Cabinda, de que resultou a mudança abrupta do Governador. Mas, pensando já no pós-eleições, a grande incógnita reside em saber que “prémio” receberá Faustino Muteka, Dino Matross & Cia, no caso de se consumar uma redução de votos que penalize o “maioritário” e beneficie substancialmente a oposição, com o risco do MPLA ser rebaixado para segunda ou terceira força política?

São agora militantes do próprio MPLA e não das forças de oposição, que consideram que o estatuto especial a que Fernando Faustino  Muteka se arroga, mergulhou a província do Huambo numa região sob gestão ditatorial, de tirania, violência extrema, nepotismo e de culto de personalidade. Consideram mesmo que quer os membros da direcção desse partido quer do governo, sentem-se amordaçados e alguns dos seus membros optaram pelo “desterro”. E citam exemplos dos deputados do círculo provincial e os membros do comité central residentes, que  estão práticamente divididos.

É visível entre os integrantes do Comité Provincial e dos demais quadros do MPLA a completa desarticulação, porquanto,  o programa classificado como arrogante e hostil de Faustino Muteka, atingiu mais de 95% desses  quadros. Uns, depois de exonerados, foram encaminhados para as cadeias, outros, abandonados à sua sorte com os traumas subsequentes; outros ainda vivem em estado permanente de tensão porque estão submetidos à contínua persseguição.
Actualmente, para se tornar cidadão de plena confiança e exercer cargos nas estruturas da governação e do próprio MPLA, é necessário ter afinidade e subordinação pessoal a Faustino Muteka, que diz  gozar de imunidades absolutas atribuídas por José Eduardo dos Santos, por “provas dadas de bons serviços prestadas” nas províncias do Bié, Namibe, Huíla e agora no Huambo, onde acumulou cargos de governadores e de primeiro secretário, ou ainda a sua influência na exoneração de alguns.

O ambiente no seio dos “camaradas” é tido como tão critico e chega-se ao extremo de se ter medo da própria sombra ou de falar ao telefone, porque corre-se o “risco de bloqueio do ship”. Nas reuniões presididas por Faustino Muteka, só se pode optar por duas posições: uma, ficar calado e outra elogiar. Qualquer outra pode dar lugar a insegurança e instabilidade laboral, moral e incluindo à integridade física.

O clima de desconfiança entre pessoas é tão grande e grave que há medo até de convívios entre famílias e amigos aos finais de semana. Essa situação de intimidação e instrumentalização coloca inclusive a própria família de Muteka numa situação de risco quando um dia deixar de exercer essas funções, devido a sua intervenção na desarticulação de outras famílias.

Segundo militantes do próprio MPLA, Faustino Muteka, tem um plano estratégico que não entendem porque razão, assenta nas seguintes questões:

1. Humilhação e perseguição de todos os  quadros pertencentes à antiga governação, incluindo seus familiares e todas as pessoas próximas;

2. Criação de factos de natureza diversa para conduzir os quadros excluídos da sua governação às cadeias e, os que não forem, forçá-los a mudar de residência para outras províncias;

3. Nos casos de resistência, proceder  ao seu aniquilamento moral, psicológico ou até mesmo físico;

4. Proibição dos quadros exonerados de exercer qualquer  cargo político ou administrativo na província;

5. Compulsivamente, retirar todos os bens patrimoniais adquiridos na província por estes quadros e congelar os serviços já prestados, tal como aconteceu recentemente com o empresário Hossi pela sua frontalidade critica em relação a actuação de Faustino Muteka;

6. Fazer do Huambo um território exclusivo com uma tendência de desenvolvimento estranha aos interesses nacionais.

O projecto de Muteka iniciou com o “afogamento” de dezenas de pequenas empresas que encerraram as suas portas e foram forçadas a lançar para o desemprego milhares de trabalhadores, para privilegiar negócios pessoais ou com empresários da sua relação baseados na capital do país. E prosseguiu com a desestabilização total dos quadros,  com o firme propósito de colocá-los na miséria extrema.

Em certos círculos restritos, Muteka afirma que o seu plano ainda não atingiu a cabeça, deixando até mesmo os que o servem intrigados, uma vez que os prejuízos recairão por inteiro para o MPLA, a única formação política que dirigiu até hoje a província do Huambo.
Facto consumado, o MPLA no Huambo está dividido e enfraquecido, longe da perspectiva da manutenção dos resultados eleitorais  alcançados  em 2008. Os dedos acusadores apontam todos para Faustino Muteka, tido nalguns círculos do próprio poder como “extremamente perigoso”, não se coibindo de recorrer ao assassinato quando tem necessidade de fazer valer interesses pessoais, sobretudo económicos, sacrificando mesmo os interesses do seu próprio partido e do governo.


O seu rasto de sangue é conhecido nas suas passagens pelo Namibe, mas também pelo Ministério da Administração do Território, acusado de ter espremido até ao tutano na utilização dos aviões, mas também em vários outros negócios, entre os quais se ressalta o da compra de viaturas Land Rover (brancas) distribuídas em 2007 por todos os governos provinciais, administrações municipais e comunais. O contrato previa inclusive a instalação de oficinas equipadas e a formação de quadros nacionais dentro e fora do país para assegurar a manutenção desses meios, não concretizada a pedido de Faustino Muteka, acusado entretanto de ter usurpado os valores dessa acção que já estava paga na totalidade pelo Governo.

Face esse ambiente, existe inclusive no seio da oposição um certo receio sobre o que acontecerá até 31 de Agosto, porque para levar “a água ao seu moinho”, consideram que Faustino Muteka é bem capaz de implementar acções que coloquem em risco o ambiente de estabilidade apregoado pela própria direcção do seu partido. Por enquanto, o “plano maquiavélico” de Fernando Faustino Muteka, só está a ser sentido no seio dos militantes do seu próprio partido, de alguma classe empresarial e concomitantemente, de alguma população afectada pelo resultado das suas medidas. Mas perspectiva-se uma grande batalha (antes ou depois das eleições). A morte súbita da sra. Conceição “Wimbo” Pinto, do Comité Central do MPLA e Deputada, antiga secretária provincial da OMA é atribuída a forma humilhante como foi afastada por Faustino Muteka, sorte que poderão conhecer cerca de 95 quadros (e suas respectivas famílias) que estiveram ligados à antiga governação, que vivem agora permanentemente sob o medo e a perseguição. Conceição “Wimbo” foi entretanto substituída por Catarina de Oliveira, cunhada de Faustino Muteka,

Em período pré-eleitoral, o Huambo vive  assim problemas internos graves e os que se consideram vítimas, são exactamente quadros que deram o seu melhor desempenho para que o MPLA obtivesse, há quatro anos, uma retumbante vitória.

Longe dos tempos do harmonia social e do crescimento económico que foram bandeira do Executivo angolano, o Huambo de Faustino Muteka transformou-se num palco de divisão, ódio, opressão, violência, medo, rectrocesso. As eleições também aqui, poderão marcar uma viragem no nosso cenário político, porque não se está a ver lá muito bem como o MPLA, em caso de desvantagem, terá “legitimidade” de continuar a governar esta província.