Luanda - Uma vez mais cá estou eu a fazer o contraditório junto de uma certa opinião publica e publicada em relação a Oposição que temos.


Fonte: Morrodamaianga.blogspot.com


Não gosto muito de utilizar a expressão, mas de facto a Oposição que temos é mesmo a oposição possível para uma missão que às vezes me parece impossível, diante do hercúleo desafio que é enfrentar um partido que já leva 37 anos consecutivos de poder, 17 dos quais a governar sem qualquer observação política mais directa.


À semelhança das críticas que são dirigidas às pessoas que não querem ver ou ignoram a importância da obra feita pelo Governo/MPLA, também eu acho que há outros tantos ataques que passam olimpicamente ao lado do país real, quando se trata de malhar na oposição, a fazer lembrar-me um bocado a imagem da pessoa que bate no ceguinho.


Felizmente que a Oposição ou uma parte dela, ainda não está na condição do ceguinho, embora devamos reconhecer a existência de uma segunda divisão no seu seio, que às vezes não sabemos muito bem em que campeonato está a jogar, ou se não estará apenas a fazer um estranho papel de lebre na sequência das permanentes jogadas que acontecem nos bastidores da politica doméstica.


A Oposição que temos também deve ser devidamente valorizada no contexto do país real onde como sabemos as dificuldades de afirmação são tão difíceis que ultrapassam todos os limites razoáveis e aceitáveis.

O direito de Oposição está plasmado na Constituição, mas na prática quotidiana das instituições oficiais tudo é feito no sentido de o torpedear, começando pelo acesso à comunicação social, que é o palco de eleição para se fazer política em qualquer democracia que se preze.


Não estamos aqui, note-se, a falar do período reservado a Campanha Eleitoral que acontece uma vez de cinco em cinco anos. É todo o tempo disponível que nos preocupa.


Quando na rádio/televisão pública só se permitem as opiniões favoráveis dos analistas que fazem parte do "coro evangélico", não é difícil ver qual é o espaço que sobra para a Oposição propriamente dita.


Praticamente nenhum, pois não contabilizamos aquele onde os políticos da Oposição surgem apenas a fazer agradecimentos, no quadro da manipulação/esterilização/destruição sistemática do seu discurso.


Sem passar ao lado das suas dificuldades estruturais/organizativas que são mais do que muitas, não tenho muitas dúvidas em afirmar que Angola teria certamente uma outra Oposição, se o Estado Democrático de Direito estivesse ao serviço de toda a sociedade numa base mais equilibrada e menos partidarizada.


Não é nada fácil ser-se da Oposição em Angola. Quando vejo algumas pessoas a malhar na Oposição com toda a artilharia que têm nos seus diccionários de adjectivos, frases feitas e lugares comuns, não posso deixar de lhes perguntar se é possível construir uma democracia só com um partido; se é desejável que tal aconteça; se é por aí que o país deve caminhar de regresso ao passado.


Não sou consultor de ninguém, nem ninguém me encomendou o sermão, mas estou cada vez mais convencido que o ainda demasiado controlado/limitado espaço de liberdade que hoje usufruímos em Angola não foi uma dádiva de ninguém.


Foi sim o resultado conjugado do permanente debate entre as várias forças politico-partidárias e sociais que hoje estão na estrada. Um debate complexo em que todos os seus protagonistas terão certamente algum mérito, incluindo obviamente a Oposição que hoje temos.