Lisboa - A empresa de tecnologia espanhola Indra recusou-se a comentar as declarações da UNITA sobre a sua contratação para o processo eleitoral em Angola, afirmando que a sua participação no ato eleitoral é puramente "técnica e tecnológica".


Fonte: Lusa

Fonte da empresa espanhola disse à Lusa em Madrid que a Indra não comenta questões políticas relacionadas com qualquer das dezenas de processos eleitorais que já conduziu em vários países, incluindo Portugal e Espanha.


"Não entramos em temas políticos. Em Angola estamos a fazer apenas desenvolvimento técnico e tecnológico", afirmou a mesma fonte, em resposta às acusações da UNITA, principal partido de oposição em Angola, de falta de transparência da Comissão Nacional Eleitoral na preparação das eleições gerais de 31 de agosto, que inclui a escolha da Indra.


Além de Angola a Indra participou já em processos eleitorais em vários países, incluindo Portugal e Espanha.


Numa nota remetida à Lusa, a Indra explica que "ganhou o concurso público convocado pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de Angola para realizar o escrutínio provisório e fornecer o material eleitoral das eleições gerais do próximo dia 31 de agosto".


"A Indra foi selecionada por contar com a proposta mais alinhada com as necessidades do organismo eleitoral", refere a empresa, recordando "a experiência do projeto realizado nas eleições legislativas de 2008.


"A companhia realizará a recontagem provisória no centro de escrutínio que se montará em Luanda e fornecerá parte do material eleitoral necessário para levar a cabo as eleições. Neste centro será recolhida a informação das atas procedentes de todos os municípios de Angola, onde se instalarão soluções tecnológicas para a captura da informação", explica ainda.


Realizará ainda nas mesmas instalações "a gravação em formato digital dos dados" e a "difusão dos resultados por Internet", criando "um portal informativo para os cidadãos com o detalhe da Lei Eleitoral assim como com as normas associadas em português, inglês e francês".


Ao longo dos últimos 30 anos a Indra apoiou 350 processos eleitorais com 3.000 milhões de eleitores em 21 países, adaptando a sua tecnologia às necessidades concretas e legislações diferentes de cada uma dessas nações.


Entre as soluções que oferece, segundo a sua página web, inclui-se serviços pré-eleitorais (para censos, definição de processos, informação aos cidadãos e formação), no dia do ato eleitoral (registo e identificação do eleitor, automatização do colégio eleitoral, voto eletrónico e contagem e resultados) e serviços pós-eleitorais.


Durante os últimos anos, a Indra participou no desenvolvimento de eleições em países como o Reino Unido, Noruega, França, Eslovénia, Portugal, Itália, Estados Unidos, Argentina, Angola, El Salvador, entre outros, oferecendo todo o tipo de serviços e soluções eleitorais e implementando inovadores sistemas de voto eletrónico.


A UNITA acusou a CNE de ter assinado, sem concurso público e por ajuste direto, um contrato de prestação de serviços com a INDRA para fornecer as os 13 milhões de boletins de voto, as cabinas, as atas síntese e das operações eleitorais e o equipamento para os centros de escrutínio da próxima votação.


A escolha da INDRA suscitou fortes críticas da UNITA, que recordou o facto de em 2008 ter sido esta mesma empresa que forneceu os equipamentos e geriu o processamento do escrutínio, vencido de forma confortável pelo MPLA, partido no poder desde a independência, em 1975, com 81,64 por cento dos votos.


A UNITA acusou este órgão de ter assinado um contrato de prestação de serviços com a INDRA no valor de 130 milhões de dólares (105 milhões de euros), quando, a preços de mercado, bastavam 25 milhões de dólares para os equipamentos e assegurar a transmissão dos dados da votação a partir dos 164 municípios.


Em conferência de imprensa realizada no passado dia 01, Isaías Samakuva ameaçou que "utilizará todos os meios legais e pacíficos" para "mobilizar o povo angolano" e "impedir que se realize no dia 31 de agosto uma eleição que não respeita a lei", dando um prazo de duas semanas para ser respeitada a legislação eleitoral aprovada pelo parlamento.


Em causa está ainda, acusou, a falta de equipamentos que permitam aos presidentes das assembleias de voto transmitir, no final da votação, os resultados para o Centro de Escrutínio, a distribuição, no local, de cópias das atas de voto aos delegados das formações políticas concorrentes e a realização de uma auditoria "séria e independente" ao sistema e equipamentos centrais de escrutínio.


Na resposta, a CNE considerou em comunicado "irresponsáveis e reveladoras de falta de sentido de Estado" posições de partidos políticos e coligações que "visam perturbar todo o processo eleitoral".

 

Segundo o comunicado, o processo eleitoral está a ser preparado "com lisura, transparência, com vista à consolidação da ainda jovem democracia", por isso manifesta a sua "preocupação face às notícias veiculadas", que "põem em causa a legalidade das deliberações tomadas pelo plenário".