Luanda - Os manifestantes civis que têm importunado o regime angolano no último ano e meio esmoreceram a contestação, à medida que as eleições se aproximam, mas garantem que vão participar no protesto marcado pela UNITA para 25 de agosto em Luanda.

Fonte: Lusa

“Estamos atentos aos sinais de manipulação das eleições”

Em declarações à Lusa, a partir de Luanda, Carbono Casimiro e Luaty Beirão, dois dos rostos que têm liderado as manifestações da sociedade civil em Angola, dizem que na campanha para as eleições gerais de 31 de agosto estão apenas a "deixar que os partidos políticos façam o seu trabalho".

"Estamos atentos aos sinais de manipulação do processo eleitoral", assegura o músico Luaty Beirão, 30 anos, frisando que a ideia dos jovens opositores "sempre foi não se limitarem às ruas". Os partidos políticos é que "vão concorrer" às eleições gerais, sublinha. "Eles é que querem ocupar o trono, nós simplesmente somos os fiscais, os polícias", distingue, frisando que, para já, "os partidos estão a fazer o seu trabalho" e têm estado, pelo menos nas declarações, "alinhados" com o que os grupos civis defendem.

"Não está de todo descartada a opção da manifestação, mas não estamos a organizar isso", esclarece o `rapper`, com as alcunhas Ikonoklasta e Mata-Fracos. "Estamos à espera que eles [os partidos] tomem a iniciativa, é mais eficaz neste momento", defende.

Os protestos do último ano e meio -- algo "desconhecido" em Angola -- tiveram "grande impacto", destaca Carbono Casimiro, músico e produtor, de 29 anos, não escondendo a "satisfação" por hoje existir uma juventude "mais atenta aos direitos fundamentais, à cidadania". Um jovem, conta, disse-lhe isso mesmo, há dias, quando entrou no táxi: "Não te desacredites, porque a juventude já está a acordar."

"As manifestações populares têm sido uma maneira muito eficaz de levar a informação, de despertar a sociedade em relação aos problemas que vivemos", considera o `rapper`.

O resultado das eleições "é previsível" para Luaty e Carbono, que participam num programa de rádio que debate o processo eleitoral, duas vezes por semana, uma hora por dia. O MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder) "vai ganhar", mas "com fraude" e, sobretudo, "com muito mais aperto".

"É bom que tenham consciência que nas próximas eleições será muito diferente e muito mais complicado manipularem o processo", avisa Carbono. A diferença, em relação ao passado, é que "os cidadãos comuns já têm um bocado mais de atenção".

"É claro que muitos ainda se acovardam por medo de perderem algumas benesses do sistema e não saem às ruas connosco, mas já existe um bom número de pessoas conscientes de que devem sair", diz, otimista de que, um dia, "mais se juntarão".

Além da confirmação na manifestação da UNITA de 25 de agosto, a tendência de aproximação dos manifestantes civis a alguns partidos políticos da oposição deu um novo passo no passado dia 10, numa reunião para debater a criação de uma plataforma para denunciar "irregularidades" eleitorais.

Os jovens opositores convidaram os três partidos da oposição que consideram "credíveis": UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), CASA (Convergência Ampla de Salvação em Angola) e PRS (Partido de Renovação Social).

Manifestação em Luanda (2/4/2011)Esta aproximação não é inédita. Em março, juntaram-se para reivindicar a saída da presidente da Comissão Nacional de Eleições, o que acabou por acontecer.

Os partidos "acabaram por perceber que [a colaboração com a sociedade civil] é uma estratégia que funciona e uma pressão eficaz sobre o regime". Ao mesmo tempo, os partidos são "uma barreira de segurança", porque as autoridades não vão "simplesmente espancar" os militantes.

A segurança continua a ser uma preocupação dos manifestantes, sem "apoios seja de parte for" e com "poucas defesas". Nas instituições, "partidarizadas", não encontram proteção e até costumam ironizar dizendo: "Um dia temos que descobrir quem é o ordem superior, porque manda tudo e pode tudo, está acima de todas as leis."

Alguns dos protestos foram reprimidos com excesso de força pelas autoridades angolanas, segundo denunciaram organizações como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch.

"Somos vítimas, várias vezes, de agressões, muitas vezes dentro das nossas próprias casas", denuncia Carbono Casimiro, reconhecendo que "isso desequilibra" não só a capacidade organizacional, mas também o "encorajamento" dos que se envolvem nos protestos.