Saurimo - O porta-voz da Conferência Episcopal da Igreja Católica de Angola disse à Lusa que a "alternância não é uma coisa que deve dar medo" e que as eleições são um "ato normal" e devem ser encaradas dessa maneira.

Fonte: Lusa


"A Igreja sempre se bateu por este ato. Deve ser um ato normal na vida de qualquer povo, na vida de qualquer nação e é por isso que nós damos o nosso apoio, a nossa valorização para que os cidadãos angolanos não vejam nisto um bicho-de-sete-cabeças", disse à Lusa José Manuel Imbamba, arcebispo de Saurimo e porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST).


As eleições gerais de 31 de agosto devem antes ser a expressão da vontade dos angolanos "em se comprometerem na construção de um país", afirmou: "Um país que todos desejamos, que todos nós sonhamos, em que nos sintamos úteis", considerou.


"A alternância não é uma coisa que deve dar medo. É uma coisa que está inerente ao próprio processo e temos que estar nesta predisposição psicológica, humana, emocional, para que a nossa participação seja de facto consciente, responsável e construtiva", acrescentou.


José Manuel Imbamba salientou que as eleições em Angola podem "ajudar grandemente" a educar as pessoas na "tolerância e pluralidade", para se poderem dar "passos decisivos rumo à instauração do estado de Direito e Democrático que se quer no país".


"Estamos a aprender a viver em democracia. Talvez o peso do passado ainda esteja presente, mas este peso de maneira nenhuma pode afetar este percurso histórico que o país está a empreender. É preciso que agora os partidos, os políticos, e cada cidadão, tenham consciência que o processo deve seguir o seu ritmo natural", considerou.


Sobre a atual situação da Igreja Católica em Angola, José Manuel Imbamba reconheceu que a proliferação de outras confissões no país pode ser interpretada como "uma certa vontade de se querer afrouxar o peso" da Igreja Católica, abrindo-se as portas ao que considera uma "entrada descontrolada".


"Hoje em Angola temos mais de 800 igrejas à espera de reconhecimento. Isto é uma preocupação porque é uma desordem cultural, religiosa, doutrinal que pode resultar em ganhos muito pesados, destruidores daquilo que é a saúde cultural, social e religiosa de um povo", adiantou.


A situação representa para a hierarquia católica "um grande desafio", face ao esforço de formação doutrinal que implica.


"Esta entrada de várias tendências religiosas começa a ser também uma questão de segurança nacional", frisou.


Relativamente ao processo de extensão do sinal da emissora católica Rádio Ecclesia a todo o país, atualmente circunscrito à província de Luanda, José Manuel Imbamba acredita que a seguir às eleições poderá haver avanços.


"Tornou-se praticamente um problema político, de modo que nós, como Igreja, estamos a trabalhar, estamos a negociar, porque queremos que a Rádio seja mesmo a voz da evangelização", salientou.


Os meios de comunicação social são, alega, um "instrumento indispensável para o processo de evangelização", daí o interesse da Igreja Católica em utilizar esses veículos para que a sua mensagem chegue "quanto antes" às pessoas.