África do Sul - O director do Centro de Estudos Chineses da Universidade de Stellenbosch na África do Sul, Sven Grimm, considera que os interesses fundados no petróleo e nas infraestruturas vão continuar a dominar as relações sino-angolanas após as eleições gerais em Angola.


Fonte: Lusa/SOL


«Mesmo que estivéssemos perante uma alteração de governo após as eleições em Angola [a 31 de Agosto] - o que eu não antevejo - os chineses iriam muito provavelmente fazer negócios lá, a bem da salvaguarda dos seus próprios interesses no país», disse à agência Lusa Sven Grimm.

 

Para o director do centro de investigação com sede na África do Sul, o pragmatismo chinês nos negócios e a sua política de não ingerência nos assuntos internos dos países têm sido «o motor das relações económicas com Angola» e com África em geral.


«Angola tem e tinha o que a China precisa: petróleo. E Angola precisava de infraestruturas», lembrou.


Politicamente, «Angola não era o parceiro natural da China», até porque «ao longo dos anos o gigante asiático tanto apoiou o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola], como as forças da oposição, nomeadamente durante a Guerra Fria», quando o partido de José Eduardo dos Santos estava mais próximo da União Soviética.


Mas o «legado histórico» foi ultrapassado porque «os benefícios económicos eram claros para ambos os países e havia a vantagem adicional de a China não fazer muitas perguntas sobre a governação» em Angola.


«O interesse da China surgiu numa altura ótima para o Governo angolano. Aconteceu depois da guerra civil, quando o país tinha necessidades urgentes de infraestruturas que a China podia oferecer. Na prática, era trocar recursos naturais por infraestruturas sem ter de passar [pelas condições] dos empréstimos internacionais», adiantou.

Mais de uma década depois, e intensificada a relação entre os dois países, a grande questão está em «como torná-la sustentável e numa situação ganhadora para ambas as partes», referiu.

«Se olharmos para as casas construídas à volta de Luanda, por exemplo, estas não foram bem recebidas ou não foram realmente feitas para serem usadas conforme foram planeadas. Há projetos concluídos, mas que ainda não beneficiaram o país», analisou.

Segundo o investigador, «o equilíbrio será muito determinado pelo lado angolano. Tudo o que acontecer em Angola terá de ser conduzido pelos angolanos».

Para Sven Grimm, ainda que grande parte da reconstrução de Angola tenha sido dada por concluída pelo Governo, ainda há muito a fazer no interior do país, e novas áreas a explorar, como a agricultura.


A chave estará «na sustentabilidade», tanto da relação com Angola, assim como com todo o continente africano.


«Foi interessante ouvir o Presidente sul-africano dizer, na última reunião do FOCAC [Fórum de Cooperação China-África], em Pequim, que a relação comercial entre a China e África não é sustentável porque os africanos exportam matérias-primas para a China, e recebem bens manufaturados da China, e que essa situação tem de mudar. E isso é muito verdade para Angola», aditou.


Angola é o maior fornecedor de petróleo à China e o maior parceiro comercial em África de Pequim.


O montante dos empréstimos e linhas de crédito concedidos pela China a Angola desde 2004, através de vários bancos estatais, rondava há um ano os 15 mil milhões de dólares (12,1 mil milhões de euros ao câmbio atual), disse em 2011 o embaixador chinês em Luanda, Zhang Bolun.


No início deste ano, foi anunciado um fundo de mil milhões de dólares da China para apoio a empresas chinesas nos países lusófonos.


De acordo com as estatísticas dos Serviços da Alfândega da China, no dia 1 de agosto, as trocas comerciais entre Pequim e Luanda cifraram-se em 19,9 mil milhões de dólares (16,1 mil milhões de euros), na sequência de um crescimento de 51,2 por cento relativamente aos primeiros seis meses de 2011.


As aquisições chinesas sofreram até junho um incremento anual de 51,8 por cento para 18,2 mil milhões de dólares (14,8 mil milhões de euros), ao passo que as vendas para Angola sofreram uma subida superior a 45 por cento até 1,6 mil milhões de dólares (1,3 mil milhões de euros).