Luanda  -  A campanha eleitoral entrou na recta final, está ao rubro e é notável o nervosismo que já se apossou de algumas formações políticas, sobretudo daquelas que no início vaticinaram uma boa colheita, mas que agora têm a real percepção de que a sua sobrevivência está mesmo em causa.

Fonte: JA

A UNITA já não esconde estar nessa situação, face à forte possibilidade de vir a perder, nas eleições gerais de 31 de Agosto, o estatuto de maior partido da oposição, e os esforços para pôr em causa a credibilidade do trabalho desenvolvido pela Comissão Nacional Eleitoral acabam por dar de si a imagem de um partido cada vez mais fragilizado. A resposta dada pela CNE ao memorando de questões apresentadas pelo partido de Samakuva colocou a nu uma série de incoerências detectadas no documento da UNITA, mas como o seu líder faz ouvidos de mercador e quer persistir nessa estratégia, mantém a toada de acusações contra o órgão organizador das eleições.


Com os ataques à CNE e o recurso, nos seus tempos de antena na rádio e na televisão, a acusações infundadas para criar suspeição, fica a ideia de que a UNITA já não tem mais argumentos. Quando já nada mais há a fazer e Kamalata Numa aparece nos tempos de antena a questionar a nacionalidade de José Eduardo dos Santos, então está tudo dito. Está tudo dito porque o partido de Samakuva entrou em falência no que aos argumentos de campanha diz respeito; está tudo dito também em relação ao perfil ético-moral da campanha eleitoral da UNITA.


Diz uma máxima que quem acusa deve ao mesmo tempo apresentar provas para sustentar a sua acusação. Não deve esperar que seja o visado a apresentar prova para desmentir afirmações que, quando não sustentadas documentalmente, só podem ser tidas como difamação e calúnia. E isso é tentar atirar areia para os olhos do eleitor, é procurar criar confusão na mente de pessoas distraídas. O percurso político de José Eduardo dos Santos, a partir do momento em que ainda jovem integra a luta clandestina e mais tarde empreende, com outros companheiros, a fuga de Luanda numa embarcação precária para se juntar à guerrilha do MPLA no Congo Kinshasa, é por demais conhecido. E nessa viagem arriscada, com o objectivo nobre de integrar a grande frente de luta armada contra o colonialismo português, José Eduardo dos Santos teve a companhia de Brito Sozinho, Afonso Van-Dúnem Mbinda, Luís Gonzaga, Tomás Sebastião dos Santos, Mário Afonso Santiago e Artur Silvério “Pepe”. Daí serem chamados “Os Sete Magníficos”. A embarcação em que viajaram ainda existe e é hoje um monumento da restinga do Lobito. Se Numa tem dúvidas pode ir lá ver e perguntar aos naturais do Lobito o que representa ter tão singela recordação.


Vindo de um político como Kamalata Numa, questionar se José Eduardo dos Santos é angolano só pode ser, pois, encarado como anedota de campanha eleitoral. Como nessas ocasiões alguns políticos acham que vale tudo - porque em campanha eleitoral é regra noutras paragens dizer “cobras e lagartos” -, a UNITA entendeu pela voz do seu “mestre da confusão” lançar a ideia, mesmo sabendo que a resposta geral só pode ser uma gargalhada sonora. Numa disse-o na rádio e na televisão. Se o tivesse feito numa sala e para uma audiência de estudantes certamente sairia do local corado de vergonha, porque se trata de uma mentira descabelada.


Mas em democracia é assim mesmo. É uma festa. As campanhas eleitorais proporcionam momentos sérios, mas também momentos de entretenimento e destinados a desfilar cenas de humor. Mas isso não significa que em política impere a irresponsabilidade total, que o vento leva as palavras e fica tudo assim. Por isso é que o Código de Conduta Eleitoral estabelece regras e não isenta os agentes eleitorais da responsabilidade penal e civil.