Benguela – Nos meios castrenses ficou conhecido como «Armando maluco», durante os vários anos da guerra civil que esventrou o país. Hoje, na pele de governador de Benguela, Armando da Cruz Neto é general das Forças Armadas Angolanas (FAA) na reserva, embora se considere politicamente um soldado do MPLA. «Só um soldado do meu partido», confessa em entrevista ao SA.

Fonte: SA

Tem o seu nome imortalizado na história de Angola, por ser ele um dos signatários dos Acordos de paz que puseram fim ao longo conflito militar, em 2002. Na altura, o general «Armando maluco» era o chefe do Estado-Maior das FAA.

Está à frente dos destinos de Benguela há 4 anos. Já foi durante alguns anos embaixador de Angola no Reino de Espanha. Na qualidade de coordenador da campanha eleitoral do MPLA e primeiro secretário do seu partido em Benguela, o general Armando da Cruz Neto diz que pretende repetir a proeza alcançada em 2008, que levou à eleição de cinco deputados à Assembleia Nacional.

Os seus adversários acusam-no de ser «mau pagador de promessas», mas ele defende-se dizendo que fez tudo o que esteve ao seu alcance para o bem-estar da população. Sobre o seu estado de saúde e a sua consequente substituição no cargo de governador de Benguela, algo que se ventila há muito, ele não abre mão, remetendo-se ao silêncio.

A poucos dias das eleições gerais, como caracteriza a campanha do seu partido na província de Benguela?
A nossa campanha eleitoral está a decorrer de acordo com o que estava previsto, já que estamos seriamente empenhados em convencer o eleitorado para que vote no nosso partido, a fim de garantir a nossa vitória no dia 31 de Agosto.

Em 2008, o seu partido obteve cinco lugares no parlamento pelo círculo eleitoral de Benguela. Acredita que o MPLA conseguirá o mesmo resultado que teve nas eleições de 2008?
Para nós, não existem vitórias antecipadas, mas, como é óbvio, procuramos, como qualquer outra formação política concorrente, ganhar as eleições que nos permitirão governar, de acordo com o programa de governação já submetido ao eleitorado. A nossa ambição consiste em obter um resultado igual ao de 2008.

Acredita com muita convicção que o seu partido conseguirá novamente eleger os cinco deputados pelo círculo provincial de Benguela?
Estamos a trabalhar nesse sentido mas, como já disse, não há vitórias antecipadas. Acredito que para obtermos o mesmo resultado precisamos de trabalhar muito; trabalhar muito mesmo no sentido de convencermos os benguelenses, em particular , e a população, em geral, sobre os propósitos e a matriz do programa de governação do MPLA para os próximos 5 anos.

Está há quatro anos à frente dos destinos de Benguela, uma província que é tida como uma das praças eleitorais mais importantes do país. Acha que cumpriu com o programa governativo do seu partido apresentado ao eleitorado em 2008?
Não quero fazer nenhum género de comparação com a governação de outras províncias, mas posso afirmar, com segurança, que, na qualidade de governador de Benguela, dei o meu melhor para executar as tarefas que me foram superiormente confiadas. Durante os quatro anos de governação, houve coisas que não foram realizadas, mas, de modo geral, posso garantir de consciência tranquila que tudo fizemos para a melhoria das suas condições de vida das populações desta província.

Na sua qualidade de cabeça de lista do MPLA em Benguela às próximas eleições gerais considera-se à altura para travar debates políticos com seus principais adversários políticos concorrentes ao pleito eleitoral?
Considero-me à altura para travar qualquer tipo de debate político com os meus adversários, mas, como deve saber, tudo dependerá da minha agenda e da estratégia política que o meu partido definiu para estas eleições. Ou seja como e onde devemos actuar? Estou, portanto, à altura dos desafios para enfrentar qualquer debate, desde que isso não colida com a vontade e a estratégia definidas pelo meu partido.

Quais os argumentos que o seu partido está a utilizar no sentido de lhe ser conferido mais um mandato pelo povo?
O MPLA apresentou e está a apresentar aos benguelenses um programa de governo e nesse programa consta todos os dados sobre o que o nosso partido pretende fazer caso venha a ser consagrado vencedor das eleições gerais.

O que difere o programa de governação do MPLA com o das demais forças concorrentes?
Bem, o programa do MPLA é um programa estruturante, que vai de acordo com as aspirações do nosso povo e que visa atacar os grandes eixos que qualquer cidadão angolano pretende ver resolvido com eficácia e com respostas concretas. No nosso programa prevemos a construção de mais escolas, hospitais, universidades, o fomento habitacional para a juventude, bem como o acesso ao emprego, a reconstrução de mais pontes, estradas e vias terciárias, enfim, o programa do MPLA foi estruturado com base nas necessidades do povo.

O nosso país é referenciado como sendo um dos poucos que teve um crescimento económico recorde do seu PIB -Produto Interno Bruto- a nível mundial, mas tal crescimento não proporcionou uma melhor distribuição da riqueza social…
Gostaria de responder este assunto não na qualidade de membro do partido governante, porque considero que o crescimento económico tem, de facto, se reflectido na vida da população. Para tal, basta só vermos os níveis de desenvolvimento em comparação com os anos anteriores; basta só olharmos para os dados divulgados pelas instituições internacionais que mostram claramente que nós atingimos níveis consideráveis em muitos capítulos. Concordo que se diga que ainda há muita coisa por fazer, até porque, nós (MPLA), enquanto partido no poder, nunca negamos isso.

Diz-se que o fosso entre ricos e pobres esta cada vez mais acentuado…
As pessoas que fazem este de afirmações devem prová-lo, visto que nós temos procurado trabalhar para inverter o quadro; Aliás, está à vista de qualquer pessoa que o nosso país está a crescer.


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Houve sinais de descontentamento contra à sua forma de governação, a avaliar pelas manifestações de protesto. Esses sinais de descontentamento não serão desfavoráveis ao MPLA nestas eleições?
As contestações em democracia são admissíveis, partindo do princípio que qualquer cidadão tem o direito de se manifestar, desde que cumpra com a lei e não coloque em causa os direitos de terceiros. Mas, em Benguela registaram-se comportamentos inadmissíveis. Agora, se isso poderá ou não pesar nos resultados do dia 31 de Agosto dirá.

Os secretários provinciais da UNI TA e do Bloco Democrático (BD) dizem que a província de Benguela devia ser um modelo de democracia no nosso país, uma vez que o seu governador foi um dos signatários dos acordos de paz. O que lhe oferece dizer sobre isto…
Eles estão a ser um pouco injustos nas suas análises, porque falar que existe um distanciamento entre os líderes desses partidos políticos e o governador provincial de Benguela não é verdade. Tenho procurado sempre uma aproximação para a busca de soluções dos problemas de Benguela, de forma consensual.

Quando vim para Benguela foi com o objectivo de fazer uma governação participativa, proactiva e interactiva. A primeira coisa que fiz foi convidar as igrejas e os partidos políticos em Benguela, porque me convenci que todos temos como objectivo o bem-estar da população, independentemente do posicionamento de cada partido político. Em meu entender, a Oposição deve ou devia ajudar o governo a alcançar os objectivos traçados, agindo como se fossem no governo…

Alguma vez já recebeu propostas ou contribuições de partidos da oposição visando a melhoria dos seus métodos de governação?
Infelizmente, não. Daí o meu apelo feito no sentido dos partidos da oposição apoiarem ou darem o contributo para ajudar o governo a resolver os problemas com que se debatem as populações. Fazer política não é apenas criticar, mas também apresentar propostas devidamente fundamentadas, quando se sabe que um determinado sector carece de melhorias ou as coisas estão mal. Infelizmente, na nossa sociedade tem-se ainda a ideia de que estar na oposição significa estar de fora da governação.
Não é esse o meu entendimento. Para mim, estar na oposição é também contribuir com programas e propostas para que o governo possa melhorar as condições de vida dos governados.

Um caso que fez correr muita «água de baixo da ponte», tem a ver com o afastamento do antigo responsável da área jurídica da habitação do Governo de Benguela, Francisco Viena, devido ao facto de ele estar filiado num partido da oposição, nomeadamente o Bloco Democrático (BD)…
Isto é uma tremenda mentira, porque ele não foi exonerado já que continua a trabalhar no Instituto da Habitação. Ele foi movimentado do cargo que ocupava, em função das mudanças que estão a ser registadas na Direcção Provincial da Habitação. No Governo, como em outras instituições do Estado, há muita gente que está filiada às formações políticas e tem estado a trabalhar normalmente.

Não o exonerei, mas se quisesse teria assim procedido sem qualquer problema. Há muitos dirigentes do MPLA que já foram exonerados dos seus cargos no governo e isso não constituiu absolutamente nenhum problema. Quanto ao Francisco Viena, ele não foi indicado para ocupar vitaliciamente aquele cargo.

Tem se falado muito acerca do seu estado de saúde. Diz-se inclusive mesmo que poderá abandonar o posto de governador, depois das eleições, por alegada recomendação médica e familiar…
Bem, desculpe-me, mas esse caso é um assunto muito privado. Peço as minhas e muitas sinceras desculpas por isso. Acho que deverá compreender…

Caso venha a ser eleito deputado pelo círculo provincial de Benguela, como irá defender os interesses dos benguelenses?
Procurarei defender o que consta do nosso programa de governação, ter um contacto directo com as populações, auscultando as suas principais dificuldades. Conhecemos as dificuldades que o povo atravessa, porque, afinal, somos também parte desse povo.
«Sou um soldado do MPLA»

Considera a governação de Benguela uma carga pesada?
Não! Nunca pensei nisso. Considero a governação desta província um desafio para mim, embora sempre estivesse habituado aos grandes desafios... Sabem que fui militar durante muitos anos, portanto, esses desafios e, sobretudo, quando se trata de servir o meu país e trabalhar para o bem-estar do meu povo, nunca, irei sentir nenhuma carga pesada.

Está pronto para grandes sacrifícios?
Só um soldado… Só um soldado do meu partido…

Ser soldado do MPLA, o que pretende dizer com isto?
Significa dizer que estou à disposição do meu partido para as missões que me forem incumbidas.

Há um caso que tem sido bastante difundido pela imprensa que envolve uma empresa de limpeza denominado Sonauto e o Governo de Benguela. Em que pé se encontra este caso?
Este caso foi, de facto, entregue à Justiça e vamos o esperar que os órgãos judiciais se pronunciem sobre o assunto.

Hipoteticamente falando, o é que gostaria de fazer antes de deixar Benguela?
(Risos). Bem, já me está a pôr fora de Benguela…

De jeito nenhum…
Acho que há muitas coisas que pretendemos realizar e algumas delas têm a ver com a criação de mais e melhores escolas, assistência médica e medicamentosa adequada, melhoria dos índices de desenvolvimento humano.

Durante a sua intervenção num comício no Estádio Nacional de Ombaka apelou aos cidadãos eleitores a votarem no nº2 do boletim de voto, argumentando, que não se pega o garfo e a acolher com um só dedo. Que mensagem pretendia transmitir?
Para que o eleitorado vote no nosso programa de governo, que é consistente e reflecte as maiores aspirações do povo angolano e, sobretudo, dos eleitores.

Uma última palavra…
Quero, antes de mais, apelar aos cidadãos benguelenses para que no dia 31 deste mês afluam em massa às mesas de voto no sentido de exercerem um dos direitos mais sagrados que lhes cabe enquanto cidadãos. E espero que votem no número 2.

Bilhete de Identidade

Filho de José da Cruz e de Maria Teresa de Morais da Cruz, natural de Seles, província do Kwanza-Sul, Armando da Cruz Neto nasceu em 16 de Abril de 1949. E casado com Esmeralda da Cruz Neto, sendo pai de cinco filhos. Na sua folha de serviço militar e descrito como tendo assumido vários cargos de comando e direccão das forcas armadas, funções essas que exerceu nas diferentes frentes e regiões militares do pais.

Já foi vice-ministro da Defesa para Política de Defesa Nacional, de 25 de Fevereiro de 1999 a 25 de Janeiro de 2001; chefe do Estado Maior General das Forcas Armadas Angolanas, de 25 de Janeiro de 2001 a 24 de Junho de 2003.

Com o fim do conflito armado, viria a exercer o cargo de embaixador extraordinário da República de Angola no Reino de Espanha, de 9 de Dezembro de 2003 ao 11 de Outubro de 2008. E governador provincial de Benguela desde 18 de Outubro de 2008.

Considerado um militar que subiu a pulso, em Maio de 1977 tinha a patente de capitão; major, em 1979; tenente-coronel, em 1984; coronel, em 1987; major general, em Novembro de 1991; General, em Novembro de 1992; General de Exercito, em Fevereiro de 2001.