Luanda – Os resultados provisórios da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) continuam a dar que falar. Depois da contestação da coligação CASA-CE e do partido UNITA, agora é a vez do Partido de Renovação Social (PRS). As três formações políticas manifestam-se, seriamente, preocupados com os resultados da CNE e pretendem exigir, obviamente, uma nova contagem dos votos.

Lucas Pedro
Fonte: Club-k.net

Na última segunda-feira, 03, o actual secretário-geral dos “federalistas”, Benedito Daniel, convidou a imprensa a fim de manifestar, publicamente, as suas inquietações sobre “os resultados da CNE” que coloca o seu partido do coração “PRS” em quarto lugar. "As actas sínteses e os relatórios apresentados pela sua equipa demonstram que os resultados do PRS, em termos percentuais, ultrapassam os que a CNE divulgou até ao momento", reivindicou.

Durante a conversa, o nosso entrevistado – que também foi o coordenador da campanha – deplorou veemente a participação activa da Casa Militar da Presidência da República no processo ainda em curso, por um lado, e por outro assegurou que o seu partido não vai concordar com os resultados da CNE, pois não combinam com – da contagem paralela efectuada – do seu partido. "Se a CNE não atribuir a percentagem real, e esta tem que coincidir com as nossas contas, nós não estamos dispostos a aceitar os resultados destas eleições", assegurou.

Por favor, siga na íntegra o diálogo.    

Que avaliação faz o PRS dos resultados provisórios da CNE?
O processo em si foi ferido de várias irregularidades a partir da sua organização até ao dia da votação. Vários eleitores foram impedidos de votar, entretanto, ainda assim, nós consideramos este processo. Agora estamos a constatar irregularidades na publicação dos resultados. Nós estamos a fazer uma contagem paralela e esta contagem não está a coincidir com aquela que a CNE está a publicar. Isso começa a nos preocupar e estamos a exigir que a CNE reponha a contagem certa. E porque a continuar assim nós não iremos confiar nestes resultados e no momento devido iremos tomar uma posição, portanto, que seja certa em relação aos resultados publicados.

Refere-se a impugnação dos resultados das eleições?
Bom, isso depende. Se a contagem exactamente coincidir com a nossa tudo bem, nós iremos aceitar. Se eventualmente não coincidir então iremos tomar outra posição.

Qual é a sua opinião em relação “a nota positiva” atribuída pelos observadores nacionais e da União Africana ao processo?
Bom, eles cumpriram o seu dever, mas tiveram uma certa insuficiência porque, em primeiro lugar, não estiveram em número suficiente para cobrir todo território nacional. E foram nas mesas muito dirigidas, mas se eventualmente pudessem observar por dentro todo o processo, eles viriam que não houve a mínima abstenção, o que houve é o impedimento de eleitores. Vários eleitores foram desviados. Municípios inteiros foram desviados para votarem em outras províncias. E na maioria dos eleitores que deviam votar, não votaram. Eles apenas tiraram o positivo da educação cívica da população, e que é normal. É isso que se passou. Esta população esforça-se muito para cumprir o seu dever. E nós os organizadores nem sequer correspondemos com a espectativa da nossa população. Muitos deles ficaram decepcionados. Afluíram os locais de votos e nunca viram os seus nomes inscritos em cadernos eleitorais e nunca foram tidos em conta, apesar de terem reactualizados os seus registos nos mesmos locais.                
Esta foi uma estratégia intencional feita pela CNE, ajuntada a não credenciamento antecipado dos delegados de lista dos partidos políticos por forma a desorganizar o processo, e o que nos preocupa é que votando até os resultados estão a cair numa outra desorganização.

O quê que o PRS acha do envolvimento da Casa Militar da Presidência da República neste processo?
Deplorável, porque eles assaltaram uma vez mais o processo. Nós encontramos delegados de mesa polícias, encontramos delegados de mesa oficiais e isto não é salutar para o processo. Os indivíduos que escreveram-se para trabalhar com a CNE na sua maioria não foram credenciados, foram credenciados indivíduos que nem sequer fizeram formação.

Os resultados provisórios revelam que o PRS acabou de perder o terceiro para com a CASA-CE… estão preparados para tal?
Muito bem preparado, numa competição democrática salutar é normal. Isso acontece. É isso que se chama a democracia, mas o que nos preocupa são as contínuas irregularidades. PRS é um partido democrático.

Contudo, o PRS aceita os resultados das eleições?
Não. Não é o momento para aceitarmos os resultados provisórios da CNE. Porque os verdadeiros resultados nem sequer foram publicados. Estamos aqui é para mostrar a nossa preocupação. No momento próprio da divulgação dos resultados oficiais nós iremo-nos pronunciar.

De acordo com a vossa contagem paralela, os dados apresentados pela CNE teriam ultrapassado os 1,7%?
Sim, ultrapassaríamos três por cento, de acordo com a nossa contagem estamos a ir para três por cento, infelizmente 1,7 por cento é isso que é um bocadinho assustador. Não há uma franqueza.

Mas três por cento não seria suficiente para alcançarem o terceiro lugar?
Não é nossa exigência o terceiro lugar, a nossa exigência é o score dos votos em que realmente tivemos. Nós nos conformamos com quarto lugar, é exactamente isso que a democracia dita, mas temos que ter os votos que os eleitores nos conferiram.

Os actuais são chamados “votos administrativos”?
Exactamente. E porque foram premeditados, nós não teríamos chegado até ai. Alguns pronunciamentos ditavam para isso. Agora não soubemos onde é que se basearam para ditarem estes pronunciamentos. Estamos assistir a cortes para, exactamente, se chegar neste vaticínio que algumas personalidades puderam prognosticar.
No fim do processo iremos analisar quais foram as nossas fraquezas e no fim faremos um pronunciamento público. É cedo porque nem sequer ainda não fizemos o balanço da campanha, mas quando isto acontece em qualquer coisa falhamos, mas estamos prontos para corrigirmos onde falhamos.