Luanda  — Ainda não foram adiantados os dados oficiais sobre a abstenção nas eleições de 31 de Agosto em Angola, mas as estimativas indicam que ronda os 40%. E em alguns municípios de Luanda, os 46% e 48%.


*Coque Mukuta
Fonte: VOA


Muitas razões foram já mencionadas para a elevada abstenção. Entre elas, a deficiente divulgação dos cadernos eleitorais (que deixou eleitores sem saber onde votar), as mesas que não abriram por falta dos mesmos cadernos;  os eleitores que foram enviados a votar a dezenas, ou em alguns casos centenas, de quilómetros das suas residências; e aqueles cujos cartões de eleitores lhes foram retirados, sobretudo em zonas do interior.


Mas há uma tese entre analistas do MPLA – a de que a UNITA também contribuiu para a abstenção.


Por exemplo, às 10 horas da manhã do dia 31 de Agosto ainda havia pessoas a telefonar a este correspondente, questionando qual tinha sido a decisão final do presidente da UNITA sobre as eleições.


Na véspera, na Voz da América, Isaías Samakuva fazia um apelo à votação – quase às 18h30 de quinta-feira, no dia anterior ao pleito.

“Nas circunstâncias presentes, e privilegiando a legalidade, que nós temos defendido - temos estado a dizer sempre que nós estamos em defesa da lei - nós decidimos que vamos votar amanhã mas, nós vamos imediatamente impugnar o processo. Esta é a decisão, porque se não votarmos, não estaremos em condições de impugnar o processo", disse Samakuva.

No dia anterior a este apelo, o presidente da UNITA havia apelado ao adiamento das eleições, para que fossem corrigidas várias irregularidades praticadas pela CNE.

Antes, o presidente e outros dirigentes da UNITA disseram, que não permitiriam a realização de eleições não claras, embora rejeitassem que o seu partido pretendesse um boicote eleitoral.

Para o professor universitário Mário Pinto de Andrade, figura ligada ao MPLA, a indecisão de Samakuva "baralhou" o eleitorado.

“A nível da UNITA é preciso analisar todas as variáveis que estiveram neste processo eleitoral. Eu penso que a forma como o presidente da UNITA se comportou neste pleito eleitoral – primeiro diz que já não vai, depois diz que vai, depois diz que já não vai, depois diz que vai impugnar, depois já não vai, isso pode baralhar o eleitorado e o pleito eleitoral é uma coisa séria de responsabilidade e serenidade”, frisou Pinto de Andrade.

Mas o porta-voz da UNITA, Alcides Sakala, pensa que esse argumento não é válido para justificar a abstenção. Em nada a tardia decisão de Isaías Samakuva provocou a referida abstenção. Sakala fala mesmo numa manipulação do sistema.

“Esta abstenção deliberadamente criada, que ronda os 40% por cento… chega-se à conclusão de que isto é abismal. Alguma coisa do sistema electrónico não funcionou, portanto alguém quis manipular estes dados”, disse Sakala.

Ainda não foi avançada uma data para a divulgação dos resultados finais.