Luanda - Agora que acabaram as acusações sobre a ilegitimidade da presidência de José Eduardo dos Santos, pensa-se que as eleições são agora o seu aval para continuar a dirigir Angola. Recorde-se que os 32 anos no poder, sem que tivesse sido escolhido democraticamente, originaram descontentamentos principalmente nos últimos dois anos.


Fonte: DW

Mas o Presidente angolano, eleito do pleito de 31 de agosto, poderá fazer uma viragem radical, considera o analista António Gaspar, do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais em Moçambique.

Gaspar avança que "a especulação aponta que José Eduardo dos Santos pensa abandonar o poder, a meio do mandato. Não sabemos é quando isso vai acontecer, de tal modo que o vice-Presidente foi escolhido a dedo. Esta é uma corrente de opinião que colhe consenso e ganha alguma consistência".

Segundo o analista moçambicano, dois motivos terão levado José Eduardo dos Santos a legitimar a sua presidência, ao fim de 32 anos: em primeiro lugar, querer sair em “grande estilo” do poder, provando que tem o apoio da maioria; e em segundo lugar, dar tempo para que o vice-Presidente, Manuel Vicente, ganhe maturidade para o substituir.

Recorde-se que Vicente foi o número um da Sonangol, a empresa petrolífera estatal. Vicente tem fama de bom gestor, mas era questionada a sua tarimba política, mesmo ao nível do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), o partido no poder.

Na nova legislatura, as relações entre Angola e os seus parceiros do ocidente e oriente, “não vão mudar muito a curto prazo”, suspeita António Gaspar. Já ao nível de África, “Angola, devido a sua posição, aos seus recursos, ao seu PIB [Produto Interno Bruto] é sempre um ator importante no continente e poderá consolidar a sua posição e a sua contribuição é sempre bem-vinda, do ponto de vista da consolidação da paz no continente, assim como na promoção da economia", comenta o analista.

Cinco anos de muito trabalho para o governo

Se por um lado o governo do MPLA mostra sinais positivos ao nível político-estrutural e diplomático, por outro terá de enfrentar grandes desafios no seu relacionamento com a população. As gritantes desigualdades sociais deixam a maioria dos angolanos revoltada.

Na opinião de Katila Pinto de Andrade, diretora adjunta da Open Society Angola, organização da África Austral para a consolidação da democracia, “a abstenção [nas eleições gerais de 31 de agosto] reflete-se num voto de protesto, portanto, há muita gente que está descontente com a governação".

Assim, a abstenção representa "um grande desafio para o partido MPLA ,na governação do país, na implementação de políticas de combate à pobreza", sustenta a analista pelo que, defende, se seguem "cinco anos de muito trabalho" para as autoridades.

Segundo a Comissão Nacional Eleitoral, a taxa de abstenção nas eleições gerais foi de 37,23%, cerca de três vezes superior à das eleições legislativas de 2008. O elevado nível de ostentação por parte da elite ligada ao poder angolano choca com a extrema pobreza da maioria da população. Mas Katila Pinto de Andrade acredita numa mudança, pois apesar de tudo acredita que o país está a melhorar.

A analista defende que a mensagem implícita passada pelos eleitores, com a abstenção, será recebida pelos governantes, pois "teremos em 2017, novamente, eleições gerais, teremos antes as eleições autárquicas. Portanto, se o MPLA pretender continuar a ser governo no país, terá que acatar e fazer uma leitura deste resultado", remata Katila Pinto de Andrade.