Luanda -  A vigília dos autodenominados jovens revolucionários enforma, mais uma posição, de rutura geracional com o comportamento político vigente há várias décadas em Angola. De forma muito sucinta podemos ver o seguinte:


Fonte: Club-k.net


1º - A maior parte destes “jovens revolucionários”, numa atitude de coragem digna de relevo, iniciou as manifestações de rua de Março/2011, tendo criado um novo movimento de reivindicação político em Angola, a manifestação de rua independente de partidos.
 

Aquelas manifestações, em resposta a um clique colocado, inteligentemente, nas redes sociais despoletou a nova situação. O grande descontentamento social, subjacente, estalou o verniz do medo.


O regime tentou em vão restaurar o seu verniz e travar o movimento. Mobilizou um enorme arsenal de combate e levantou o fantasma da guerra. Mas os jovens iniciadores tiveram a coragem de sair a rua para dizer: BASTA!


Eles estavam em paz.

As armas estavam do outro lado, do regime. O que a história regista naquela altura, de mau grado, é que muitos dos partidos e personalidades da oposição rejeitaram liminarmente as primeiras manifestações. Mas os jovens prosseguiram.


Daí começou a nova fase da ação política em Angola. Já não bastava falar mal entre copos ou entre paredes. Eles saíram á rua, mostraram a cara. O regime, depois de muitos anos de desgovernação na paz dos anjos, sentiu o gelo a lhe correr nas veias. Novas manifestações se sucederam, provenientes, até de formações políticas que antes teriam reprovado infundadamente os propósitos dos jovens manifestantes.

 
2º - A vigília apelando aos partidos (UNITA, CASA-CE, PRS) à não tomada de posse na assembleia veio trazer uma nova visão da relação destes jovens com os partidos políticos.

Começa a desenhar-se a ideia, excelente, que o problema não reside somente em tirar os totalitaristas de hoje do poder. A questão é mais profunda, reside nos valores que eles querem comungar e ver praticados pelos partidos podiam merecer a sua confiança.


Os mesmos jovens que, numa atitude exemplar de cidadania, se deslocaram de vários pontos para declarar o seu apoio àqueles partidos, foram também eles, os promotores desta vigília. O aviso é simples e a mensagem é bastante clara.


Eles querem acabar com o tempo em que os partidos da oposição ou do poder não tinham de prestar contas ao seu eleitorado ou aos cidadãos. A era do cidadão do partido (a) ou (b) completamente cego às atrocidades dos seus partidos, para eles, não tem sentido.


O que nos deve preocupar é o silêncio cúmplice dos partidos visados por esta vigília decorosa, perante a repressão que se abateu sobre os jovens. Como quem diz: DEMOCRACIA É NA CASA DO OUTRO, EM MINHA CASA NÃO.

Há também que fazer referência ao silencio de outros partidos com potencial democrático e da sociedade civil que pouco ou nada falam, a excepção do MAKAANGOLA, e tardiamente do Bloco Democrático.


Paulo Mulemba --  Analista político do portal  ( www.ponto-final.net )