Luanda - “A sabedoria não é alcançada quando se tem a resposta, mas sim quando a resposta te trás sede de aprender mais!”- Proverbio popular

Fonte: Club-k.net

NOTA PRÈVIA; redigi o presente artigo quando se soube da “dissidência” do General Black-Power para as hostes de JES, porem a catadupa de acontecimentos que caracterizaram as semanas antes do pleito eleitoral, não me permitiu a sua publicação, espero que não esteja ultrapassado a matéria e o assunto em questão.

O QUE È UM DISSIDENTE?

Em política diz-se geralmente que, uma dissidência é o ato de discordar de uma política oficial de um poder instituído (ou constituído) ou de uma decisão coletiva. Os indivíduos e grupos que optam pela dissidência são denominados dissidentes. O termo surgiu e popularizou-se ou tornou-se conhecido, depois da II guerra mundial, quando indivíduos de países do bloco do Leste ou da ‘cortina de ferro’, fundamentalmente da ex-URSS, “desertavam” para o ocidente, o ‘mundo Livre’.

Embora análogo o termo “Dissidência” não é sinonimo de OPOSIÇÃO, que denota um grupo maior e estável, que discorda do poder estabelecido mas não o enfrenta com métodos ilegais nem se exclui. Em geral, Dissidência; é o nome atribuído a minorias que discordam do regime e, muitas vezes optam por se excluir do enfrentamento, abandonando o País e denunciando-o no exilio, como ainda hoje acontece, com certos cidadãos Sírios, Iranianos, Chineses e Cubanos, (só para citar estes exemplos). Portanto, o termo oposição é preferido para regimes democráticos, enquanto dissidência é mais usado no caso de ditaduras.

Dissidência, não ocorre só na Politica – ocorre também nas religiões, nas igrejas, nos clubes, empresas comerciais. Um exemplo claro aconteceu na IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), a partir desta em 1980, surgiu a IIGD (Igreja Internacional da Graça de Deus), em 1998 a IMPD (Igreja Mundial do Poder de Deus) e, em 2008, a ITV (Igreja Transformando Vidas).

DISSIDENTES DA UNITA

A primeira dissidência ‘noticiosa’ que ouvimos da UNITA, foi um bocado depois dos acordos (o meu kamba do Lote 22, chama-os de; Abortos) de paz de Bicesse, tal dissidência registou-se na heroica e resistente cidade do Luena – apos os famosos 45 dias de cerco as forças das FAPLA-, dissidência protagonizado por um militar do braço armado da UNITA, a ex-FALA, de nome Sousa (senão me engano!) e capitão de patente militar.

Após o estabelecer dos acordos de Bicesse, pelo que se soube naltura, o referido capitão foi seriamente ameaçado ou impedido pelos companheiros e dirigentes da UNITA de conviver com um dos seus irmãos que vivia na cidade de Luena, e pelo que pareceu, militante do MPLA.

DEPOIS DE MIM VIRÃO GRANDES!..

Capitão Sousa, pediu proteção (o irmão passou palavra) ao MPLA, este acionou o SINFO (o armeiro dos trabalhos encobertos), o Capitão foi ‘levado’ clandestinamente para Luanda, tornando-se celebre, sobretudo por expor de viva voz e em primeira mão algumas das atrocidades praticadas pela UNITA, e sobretudo por vaticinar uma profecia que se tornou verdade pouco depois; “depois de mim, virão outros, pessoas com cargos grandes! Eu não sou nada” assegurou – mais palavra, menos palavra - o ‘bravo’ Capitão, tais proféticas palavras assombraram meio-mundo.

Não faltou muito, ouvimos do desaparecimento misterioso de Tony da Costa Fernandes, representante da UNITA em londres e pouco depois a extraordinária fuga do então temível ministro do interior da UNITA, o celebre General Nzau Puna, quando este, pouco antes negociou, sob a égide e mediação da ONU, a libertação de alguns prisioneiros das FAPLA ou do MPLA, durante o qual um piloto da FAPA prisioneiro, protagonizou contra todas as expectativas uma arriscada “saída para Luanda” aproveitando a presença do pessoal da não menos celebre UNAVEM na emblemática Jamba, capital do ‘Estado’ paralelo dirigido por Jonas Savimbi e a UNITA.

Não passou muito tempo e ouvirmos dizer, que ‘afinal’ o então desaparecido, Tony da Costa Fernandes, estava em contacto com o SINFO e em sintonia com o MPLA, para a estupefação geral, a profecia do Capitão cumpriu-se!

Daí para diante, foi a catadupa… raios do profeta, o individuo parecia que tinha pacto com o Diabo e com a parte principal da ‘matilha’ descontente, (Todos os Georges da UNITA, bazaram isto é; tiraram o pé!) George Chipilika, George Chicoty e tantos outros Georges; conhecidos e desconhecidos, quadros jovens que residiam temporariamente no exterior, todos a fugirem da UNITA como o ‘Capeta’ da Cruz!

SURGE A TRD e FDA

Daí ate ouvirmos, que o Capitão profético, era o representante ou agente instalador de um partido político, denominado TENDENCIA de REFLEXÃO DEMOCRATICA (TRD), e que afinal Tony da Costa Fernandes, Nzau Puna e Chipilika, estavam no epicentro da formação deste partido politico, foi apenas um palmo de tempo, o meu saudoso avô dizia, “só foi o tempo de engolir o cuspo”.

Alguns outros jovens, certos deles, bem-falantes “á alfacinhas” rumaram para outra direção, e fundaram o FORUM DEMOCRATICO de ANGOLA (FDA) – SINFO estava por detrás da formação destas formações políticas, tal como ontem esteve na base da formação dos FUMA, CPO e PAPOD - muitos então, já tinham vaticinado o colapso interno da UNITA. FDA nas eleições de 1992, obtivera um ‘promissor’ assento parlamentar e se a memoria não me esta atraiçoando, a TRD também obteve um assento (será?!)

A REFUNDAÇÃO DOS FLECHAS

Infelizmente a guerra que se seguiu após o pleito eleitoral, serviu de motivo e caminho onde ‘espontaram’ vários outros pretensos dissidentes, uns assim transformados ou rotulados a força das circunstâncias por caírem prisioneiros das forças do MPLA-JES e outros por estarem cansados da vida do ‘matagal’, após experimentarem o regalo da vida citadina – não vamos falar destes, pois sabemos por experiência própria como o exército colonial Português, formou os FLECHAS, GE’s etc., e que papel, estes tiveram contra os anteriores companheiros.

General Nunda, um dos maiores cabos de guerra de Jonas Malheiro Savimbi, decidira desertar, quando alertado por um dos seus, ‘segurança’ de que o ‘Mais-velho’ tinha intenção de o eliminar fisicamente, General Nunda, Implacável e alguns outros, por vocação emprestaram o seu saber as FAA, e aí criaram raízes, tal ‘empréstimo’ foi determinante para a ‘decepa’ de Jonas Malheiro Savimbi, e das FMU (Forças Militares da UNITA).

Eugénio Manuvakola, – então SG da UNITA -, foi outro espanto de dissidente, que suplantou todos os outros, por ter sido um dos signatários do Protocolo de Lusaka, e do estabelecimento da Paz Podre que se seguiu. Pelos vistos Manuvakola temeu, também pela sua integridade física, e rumou para Oeste, ao encontro das forças do MPLA, quer no caso do General Nunda como no caso do General Manuvakola, o SINFO teve um papel de destaque.- Não é caso para aclamar; Viva o SINFO?!

Eugénio Manuvakola secundado por Jorge Valentim, que não conseguiu esgueirar-se do anel que as forças do MPLA envolveram Luanda, fundaram a UNITA-Renovada. E pela primeira vez, foi-nos dado a ‘ver’ algo insólito na política domestica, o M a combater a UNITA e este oficialmente representado e atuante na arena politica sob o controlo do MPLA-JES, “coisas do diabo” mas, a atuação da UNITA-R foi benéfica para Angola, pois desdramatizou em muito o conceito extremamente negativo dos Angolanos com relação a UNITA.

MPLA-JES A MELHOR OPÇÃO DOS DISSIDENTES DA UNITA

Mais tarde, o Facínora Jorge Valentim integrou o MPLA, antes ouvimos os dirigentes do TRD e FDA (e a maioria do elenco partidário) integrar de igual modo o MPLA-JES, por tais dirigentes, concluírem que; “afinal era a melhor opção!”… O meu Kambá do lote 22, quando indagado porque iria votar no Nr 1, quando o Pai tivera sido morto pelas forças militares da UNITA, meio a brincar e meio a sério, respondeu; “Os que mataram o meu Pai, integram agora o MPLA e este continua a matar, por isso vou votar na UNITA, que parou definitivamente de matar, para contrapor os ‘tipos!”

A-propósito, porque certos indivíduos acham uma aberração politica, a aderência a UNITA, e acham natural a deserção, integração de quadros da ‘pole position’ da UNITA no MPLA-JES? Ou melhor, será que tal dissidência e integração, fortaleceu, melhorou o MPLA-JES?! Melhor ainda, tal enfraqueceu, piorou a performance da UNITA?

Ouvimos recentemente outras dissidências da UNITA, encabeçada por alguém pretensamente carismático; Abel Chivukuvuku… será que este vai um dia – quando a CASA ‘desabar’ - seguir o caminho de outros dissidentes da UNITA?

O projeto CASA-CE, não parece ser um projeto a volta de uma ideia, mas sim de uma única pessoa… sobretudo quando um momento antes do aparecimento da referida coligação, alguns dos atuais dirigentes de topo desta coligação, pareciam atraídos e prestes a integrar o MPLA-JES…

Só vai ver o arco-íris quem suporta a chuva. – Proverbio Popular