Luanda – O INABE devia-nos quatro meses e só nos pagou dois, neste momento estamos a aguardar os outros dois meses”, disse Simão Lamba, estudante do curso de pesca industrial (Técnicas informáticas de pescado). Segundo António Fernandes, responsável da Embaixada de Angola na Rússia, os mais de 500 estudantes nesta situação vão receber os seus complementos em atraso a partir da próxima semana.

Fonte: O País

António Fernandes reconheceu que há estudantes na Ucrânia que não chegaram a receber o seu complemento de bolsa. Justifica porém este problema com alegados atrasos nas transferências bancárias. “A transferência chegou tarde e os pagamentos desses estudantes estão a ser processados agora pelo banco russo, até à próxima semana terão na conta os seus complementos de bolsas referentes aos mês de Julho e Agosto”, frisou.

Segundo o responsável, os contratos com estes estabelecimentos de ensino variam entre três a seis mil dólares por ano, em função do curso frequentado por cada estudante.

Quanto às modalidades de pagamento das propinas bem como os respectivos títulos de bolsas, António Fernandes explica que “no caso dos bolseiros que dependem do Estado e que estão na Rússia e na Ucrânia num regime de cooperação, não pagamos propinas, pagamos só o seguro de saúde e o respectivo complemento de bolsa. Aos bolseiros integrais pagamos propinas, alojamento e seguro de saúde”.

As modalidades de pagamento dependem de universidade. Algumas exigem pagamento na moeda local e de acordo com o câmbio estabelecido, outras exigem o pagamento em dólares americanos

BOLSEIROS EM LUANDA DESCONTENTES 

Não são só os bolseiros fora do país a reclamar pelos seus direitos. Tatiana Gioreth, estudante do 6º ano do curso de medicina dentária da Universidade Jean Piaget, manifestou ao Semanário Económico o seu descontentamento com os problemas relacionados com a bolsa de estudo. Diz que a mensalidade de 24,4 mil kwanzas que recebe do INABE não é suficiente, tendo em conta que o seu curso custa 33,4 mil kwanzas.

A estudante defende que o INABE antes de disponibilizar as bolsas para os estudantes deveria analisar o tipo de curso a que cada estudante pertence, tendo em conta que os preços dependem do curso.

Tatiana Gioreth acrescenta que existem muitos estudantes que têm as bolsas do tipo A, que abrangem transporte, livros e mensalidade, e que não passam muitas dificuldades, enquanto há estudantes do tipo C que enfrentam muitas dificuldades. Segundo a estudante “as bolsas não são dadas de acordo com as necessidades dos alunos”.

Com bolsa do tipo B, Janeta Zumba, de 23 anos, estudante do curso de economia da Universidade Católica de Angola, recebe as suas mensalidades de dois em dois meses, o que equivale a transferências de 119 mil kwanzas em cada dois meses. A estudante diz haver atrasos nas transferências, mas que são maiores em determinados estabelecimentos de ensino.

Natural do Huambo, António Capadanda, estudante do 5 º ano do curso de Fisioterapia na Universidade de Bellas, está preocupado com o atraso no pagamento da propinas. O estudante afirma que o INABE pagou apenas 26 mil kwanzas, o equivalente a uma mensalidade. “Para o pagamento de dois meses são necessários 48 mil kwanzas e muitos vêem-se obrigados a completar o valor em falta”, explica.

Segundo o estudante, o INABE depositou o valor correspondente ao mês de Julho e a universidade exige o pagamento de dois meses. Para ultrapassar esta situação, os estudantes pretendem o mais depressa possível contactar o INABE. “A universidade aceitou o talão aos primeiros alunos, mas não aos que entregaram depois, respondendo que só recebia com o pagamento de dois meses”, lamentou o estudante.

Também Nelson Alemão, estudante do curso de Direito, afirma que a maior preocupação é que o INABE não deposita os valores das propinas a tempo e alguns complementos de bolsas não chegam para as propinas. E dá exemplos. Os bolseiros do curso de Engenharia e Petróleo têm a pagar propinas mais elevadas, mas o complemento de bolsas não chega para cobrir as despesas – é necessário acrescentar cerca de 11 mil kwanzas, dependendo do tipo de bolsas, o que tem criado muitos transtornos aos estudantes.

O bolseiro afirma que já foi feita uma reclamação e houve um reajuste, pois a instituição alega que é aquele o valor da bolsa que está no contrato. Os estudantes que possuem uma bolsa do tipo D, recebem 24 mil kwanzas e o estudante é obrigado aumentar mil kwanzas.
Já os estudantes do curso de Saúde pagam 35 mil, tendo por vezes que acrescentar 11 mil kwanzas para completar o valor .

Como muitos outros estudantes bolseiros, Alcina Diogo deixou a sua terra natal no Kwanza Sul no com objectivo de finalizar o ensino superior. Aos 25 anos de idade, finalista do curso de fisioterapia, encontra-se confrontada com o atraso no pagamento das bolsas.

Estudante do tipo de bolsa D, diz que o INABE depositou 23 mil kwanzas e afirma que este valor corresponde a dois meses. Alcina Diogo tem recebido 38 mil kwanzas e diz que já tentou esclarecer esta diferença de valores, porém sem sucesso, tendo os pais sido forçados a completar o valor que faltava. E decidiu por esta razão juntar-se ao um grupo de estudantes que pede uma explicação ao INABE. “Uma pessoa isolada não consegue resolver este tipo de problemas e é necessário juntar mais estudantes para nos darem alguma atenção”, sublinha.

SEIS MIL BOLSAS DE ESTUDO INTERNAS 

O INABE disponibilizou, para este ano, seis mil bolsas de estudo internas, que foram distribuídas pelas 18 províncias. De acordo com o director do INABE, Jesus Baptista, as prioridades vão para os cursos de Ciências e Engenharia com 1500 vagas, Tecnologia com 1200, Ciências Sociais com 900, Letras com 300 e Humanidades com 600.

O INABE criou um site (www.inabe.gov.ao) no qual os candidatos poderão fazer as suas inscrições. Em consequência do fraco aproveitamento de alguns dos bolseiros, no passado mês de Março e Abril decorreu em Luanda um processo de renovação de bolsas internas, na qual as instituições do ensino superior que tenham bolseiros informarão o INABE da situação académica dos estudantes. Os beneficiários em regime de protecção especial (antigos combatentes e familiares e deficientes de guerra e os seus descendentes) deverão apresentar o documento que confirme a sua condição social.