Lisboa - Está a ser admitida em meios da inteligência angolana, invocações segundo as quais a saída de Sebastião Martins, do Ministério do Interior para se concentrar nas suas obrigações de chefe do Serviço de Inteligência e Segurança de Estado (SINSE, ex-SINFO) pode ser aproveitada para promoção da disciplina e reorganização/reestruturação administrativa desta instituição.

Fonte: Club-k.net

Segurança de Estado com problemas internos

Durante o período que  Martins acumulou as duas instituições, o SINSE era gerido a “full time” por dois chefes-adjuntos, o coronel Fernando Eduardo Manuel, que responde pela área operativa e o comissário Filomeno Barber Leiro Octávio, que vela pelos órgãos de apoio instrumental (sector administrativo).

Sebastião Martins comparecia na sede dos “serviços” pelo menos duas ou três vezes por semana ao período da tarde. Foi neste período de acumulação de funções que o SINSE observou um surdo ambiente de desarmonia precipitando o surgimento de duas correntes de quadros  refletidas  na gestão  simultânea dos dois chefe-adjuntos.

O coronel Fernando Manuel é da alta confiança de Martins e é a ele a quem a maioria dos altos funcionários mais manifestavam obediência. Por seu turno, o outro chefe-adjunto, comissário Filomeno Barber Octávio é descrito como uma figura remetida ao ofuscamento por efeito de cenários de hostilidades internas.

Em reuniões do Conselho Consultivo, que reúne as altas chefias do SINSE, os directores nacionais não compareciam quando a mesma era convocada por Filomeno Barber Octávio, na qualidade de Chefe interino. Faziam-se representar por um chefe de departamento das suas respectivos direcções.

O SINSE enfrentou igualmente situações relacionadas a movimentação de verbas. A área administrava era sujeita a aguardar por Sebastião Martins, que na qualidade de titular da estrutura tinha a autorização de proceder as referidas movimentações monetárias. O mesmo se verificou em  atrasos de pagamentos, numa estrutura (propriedade do SINSE), o hotel Royal Plaza, localizado nos arredores do Lote GTO, em Talatona.

É igualmente apresentado como desafio de Sebastião Martins questões relacionadas aos quadros da instituição. Nos últimos dois anos foram constatados, por exemplo, um sub-aproveitamento dos quadros acrescido ao não reenquadramento em conformidade com as suas habilitações. Há conhecimento de quadros com formação superior com realce para a área da sociologia, psicologia e direito que terão sido submetidos a desenvolverem tarefas de OV- Observadores visuais.

Os “observadores visuais” são indivíduos da  Inteligência que servem de antenas  para captar qualquer sinais de descontentamento por parte da população ou de um grupo alvo, registar o EOC (Estado de Opinião e Comentário) endereçá-lo para um “estado-maior” pluridisciplinar para atender a demanda do regime.

Em 2010, um grupo de jovens OV despachados de Luanda a Cabinda teria ficado exposto a risco nos arredores de Massadi. O grupo respondia para um  Estado Maior ao qual se destacava um responsável de nome Hipólito José  Maria também enviado para o enclave para integrar uma comissão de gestão em substituição do então  delegado provincial, Ezequiel Pegado “Turra”.

As últimas promoções que ocorreram no SINSE, em finais de 2011, são descritas como tendo obedecido a critérios de poucas exigências. Paulo Amaral, ex-delegado do SINSE no Kwanza Sul, foi nomeado a Director Nacional da  Contra Espionagem em substituição de João Maria de Freitas Neto.

A nomeação de Amaral deu lugar a reparos por não o considerarem estar habilitado para preencher a vaga deixada por Freitas Neto, actual DG do SME, ao qual lhe reconhecem competências e experiência acrescida. Amaral que estará com 41 anos de idade é um jovem quadro que esteve a frequentar o segundo ano de direito mas que é  da consideração de Sebastião  Martins.

Uma outra nomeação que gerou reparos, nestes últimos anos, foi a de António Vieira Lopes “Tó”, actual delegado do SINSE em Luanda. A estrutura hierárquica do SINSE começa por um chefe de secção, chefe de departamento, director nacional e chefe dos serviços (equivalente a DG). Antes da  sua promoção, António Vieira Lopes estava escalado como integrante de uma “secção”.

Em condições normais, a figura a ser elevada ao cargo de “delegado provincial” teria de ser alguém a desempenhar funções equivalente a “chefe de departamento”. Veio a se saber depois que a  nomeação de António Vieira Lopes foi destinada a ajudá-lo no campo pessoal, tendo em conta o papel que desempenhou por altura da captura de Jonas Savimbi, em 2002.  Estaria a passar serias dificuldades que o deixavam em estado de saturação. Não tinha casa próprio e vivia num apartamento bastante apertado com a família.

A nível da delegação em Luanda, Vieira Lopes “Tó” era a dada altura visto como um quadro despreparado para o cargo. Meses após ter sido nomeado, movimentou as forças especiais do departamento Nacional de proteção do SINSE para acudirem a uma situação relacionada a sua filha que estava a ser dada como desaparecida. Em circunstâncias normais, a movimentação destas forças não poderiam ser feita para fins particulares ou sem autorização do Chefe da Instituição.

A Casa Militar da PR tomou nota, a dada altura, de relatos a cerca da “desorganização” que o SINSE estaria a enfrentar. Previam nomear um novo chefe para substituição de Sebastião Martins. Este por sua vez  propôs, o seu  chefe-adjunto Fernando Manuel, mas que teria sido rejeitado pela PR.

O chefe da Casa Militar, o general Helder Manuel Vieira Dias “Kopelipa” que acompanha de perto o dossiê da segurança de Estado era citado como tendo se inclinado na aposta do general João Pereira Massano, antigo inspector do Serviço de Inteligência Militar, que é da sua confiança. Ambos terão se conhecido, na Europa, na altura em que “Kopelipa” estava a se formar em telecomunicação militar na ex-Jusgolavia e João Massano na ex-União Soviética como figura que controlava a rede militar externa  angolana na Europa. Uma eventual nomeação é estimada para um cenário mais a frente, em que Sebastião Martins seria moldado para ser colocado na Casa Militar da PR.