Luanda - O Supremo Tribunal Militar continuou  a ouvir a testemunha Augusto Viana Mateus, em sede de instância dos advogados dos réus, tendo-se verificado muitas contradições, tanto nas respostas às solicitações do ministério público, como às da defesa.

Fonte: Novo Jornal

Esta semana o NJ dá à estampa algumas contradições verificadas nos depoimentos de Augusto Viana, na leitura de pronúncia no dia 10 de Fevereiro de 2010, como na entrevista que concedeu ao jornal «A Capital», há mais de um ano. A pronúncia que foi lida no dia 10 de Fevereiro dava conta que Quim Ribeiro foi pessoalmente buscar o dinheiro à divisão de Viana, por volta das 3h00 da manhã, enquanto que Augusto Viana afirmou ao tribunal que foi o réu Jabal e o seu chefe que transportaram os valores até ao Comando Provincial de Luanda.

Augusto Viana disse também na instância do ministério público que a primeira ordem que recebeu de Quim Ribeiro para matar Domingos João foi feita por telefone, justificando que o mesmo não se encontrava em Angola, e que esta chamada tinha sido feita via rede Movicel, isto em 2010. Só que naquele ano a rede da Movicel ainda não tinha rooming (que permite chamadas internacionais). Então, não havia hipótese de Quim Ribeiro telefonar para Augusto Viana através da rede Movicel.

Em tribunal, Augusto Viana afirmou que tinha boas relações com o comissário Quim Ribeiro, o que contraria as afirmações prestadas à Capital, em que manifestou o contrário: “Para mim, Quim Ribeiro foi sempre um monstro e é o monstro da actualidade. Ele tem história e não vale a pena levantarmos aqui outras questões, mas chegaram ao ponto de enganar o Presidente da República para lhe promover e nomear ao cargo de Comandante de Luanda. Um Comandante Provincial deve ser uma pessoa honesta”.

FUGIU OU FOI GOZAR FÉRIAS?

Viana disse também que a sua relação com o comandante Quim Ribeiro era de trabalho, justificando: “Ele viu as minhas qualidades… e mesmo assim fui maltratado por ele, pelo facto de observar e exigir o que a Lei diz. Ele já me maltratou perante o Comandante Geral, numa situação em que Caso Quim Ribeiro um agente foi encontrado com uma pistola aqui no acto de carnaval onde estava o Presidente da República, ele enganou o Comandante Geral a dizer que fui eu quem passou a informação.

Da forma que ele transmitiu não era a mais correcta, o comandante Quim Ribeiro não é sério”. Na entrevista concedida ao jornal «A Capital», Augusto Viana afirmava que fugiu do país para não cumprir as ordens dadas pelo seu antigo chefe, de matar Joãozinho. Já no tribunal, disse que saiu do país com ordens de Quim Ribeiro e que foi gozar férias.

A questão que se coloca é a seguinte: como é que Quim Ribeiro autorizou  que Viana gozasse férias, se o mesmo ainda não tinha cumprido a ordem de matar Joãozinho. Estas são algumas das contradições flagrantes, porque há muitas mais e são fáceis de elencar.

Algo que também deixou alguns presentes preocupados foi o facto de Augusto Mateus, nos seus depoimentos, não falar dos três milhões e 700 mil dólares. Mateus Viana apenas falou dos 1.080.000,00 (um milhão e oitenta mil dólares) e na entrevista ao jornal «A Capital» fazia igualmente referência a 1.080.000.00, enquanto que na pronúncia lida falava em três milhões e 700 mil dólares, isto é no dia 10 de Fevereiro.

Na entrevista que concedeu àquele semanário, Viana salientou que já não tinha confiança na polícia, mas esta semana, quando questionado porque é que não informou o comandante geral da PN da verdade sobre o  caso e, quando interrogado se tinha confiança nele, respondeu que se está vivo até hoje é pela confiança que tem no comandante, contrariando assim as suas afirmações no jornal. É que ao semanário «A Capital afirmara»: “Eu peço a protecção policial neste caso e aqui tenho de agradecer muito especialmente ao Dr. Sebastião Martins, ministro do Interior, ao Dr. João Maria, Procurador Geral da República. Hoje estou com vida, sem manchas, sem qualquer lesão, porque essas pessoas fazem parte do aparelho do Estado”.

EXCESSO DE HONESTIDADE

Analisando os factos e as contradições,  um jurista ouvido pelo Novo Jornal foi peremptório ao afirmar que se o tribunal tivesse feito um bom trabalho Augusto Viana não estaria a falar como testemunha-chave do processo, porque o que ele diz é de ouvir dizer.

De acordo ainda com o jurista, Viana também é suspeito neste caso. “Ele  está a passar a imagem de polícia honesto, o que, pelos seus depoimentos, não é. Eu li a entrevista dele no jornal «A Capital» e ele dizia que estava fora de Angola.

Como é que ele pode afirmar que foi o grupo de Paulo e Caricoco quem matou Domingos João e não tem provas materiais para provar isso? Acho que devemos ser mais sérios”, evidenciou, acrescentando que Augusto Viana está a mostrar excesso de honestidade. “É por isso que já é suspeito”.

Segundo ainda a fonte que temos vindo a citar, Augusto Viana está a  tentar mostrar que é bom polícia e que não se deixa corromper. “Ele diz que mentiu à Comissão de Inquérito do Ministério do Interior, porque não confiava nos seus integrantes. Isto é muito grave porque, indirectamente está a chamar-lhes “negligentes e incompetentes”.

Se não fosse a advertência do juiz da causa, ele iria mais longe. O facto de ele falar que existem poucos polícias honestos, até dá a entender que os únicos honestos são ele e o ex-ministro do Interior, Sebastião Martins”.

O jurista mostrou-se ainda surpreendido pelo facto de Augusto Viana ter levado tempo para lembrar-se se o dinheiro apreendido era em dólares e não kwanzas, como durante mais de um ano defendeu, assim como os demais réus. Esta semana aconteceu apenas uma sessão, em que a testemunha respondeu a quatro perguntas feitas pelos advogados de defesa.

O julgamento, que começou no dia 10 de Fevereiro deste ano, decorre na Base Naval de Luanda. A próxima sessão está marcada para segunda-feira, dia 22.