Luanda – Cai na minha caixa de correio electrónico, no distante ano de 2004, uma mensagem de alguém Antão completamente desconhecido para mim. José Gama da sua graça. E queria que eu desse uma palestra aos jovens na diáspora sobre o que poderia ser a sua contribuição para o desenvolvimento de Angola. Aceitei com gosto. Acertámos que o faria no meu regresso de uma missão de serviço em Nairobi, quando passasse em trânsito em Pretória.

Fonte: Club-k.net

A contribuição do Club K à história da comunicação social angolana pós-independência

Entusiasmado, o bom do Zé Gama postou a notícia no então nascente Club K, como forma de garantir o maior número possível de jovens, dando detalhes de quando chegaria, a hora, o voo, etc. o resultado foi o mais inesperado possível.

Fui assaltado, eu e a minha família na garagem do prédio onde morávamos. Lá o ZG (como gosto de tratá-lo) teve que postar outra vez dando conta do acontecido e ali vi pela primeira vez o tremendo impacto que o Club K tem no seio da juventude na diáspora e não só. Tivemos que adiar a palestra enquanto me recuperava psicologicamente. Mas fizemo-la e aí iniciou uma longa e grande amizade com o Zé Gama e o «seu» Club K.

Na qualidade de docente de Comunicação Social, não tenho pejo algum em dizer que, com todas as suas insuficiências e falhas – afinal só não erra quem não faz – o Club K constitui-se num verdadeiro pioneiro do jornalismo online. A par do Angonotícias e mais que este foi a partir do Club K que muitos de nós foi-se rendendo a pouco e pouco ao «vício» da informação online e em tempo real.

Para muitos de nós, foi pela mão deste órgão de informação que chegámos às redes sociais. Pois antes do Facebook o espaço das redes sociais era todo ele dominado por estes dois órgãos de comunicação social online. Foi aí que se realizaram as primeiras relações virtuais entre angolanos e não angolanos que gostam deste país.

Outra grande contribuição do Club K à comunicação social angolana – que eu considero uma prova positiva da irreverência dos seus mentores – é a busca da informação e a sua disponibilização em tempo quase real. Se isso hoje é possível para qualquer pessoa possuidora de um telefone celular inteligente, antes não era assim.

Mas já então era no Club K onde se encontravam notícias «fresquinhas» algumas delas reportando factos com apenas horas de vida. Ao ponto que, tornou-se hábito de muito boa gente entrar para o site do Club K logo pela manhãzinha quando chegam ao trabalho. Ainda hoje, para decisores e jornalistas, o Club K é uma importante fonte de informações, sendo muitas vezes citado – e outras não, como se queixa o ZG – por vários órgãos de comunicação social, com destaque para os semanários de fim de semana.

Nesta contribuição que o Club K dá a História da nossa comunicação social actual, não faltam desafios. O primeiro deles é a tentação de fugir ao controlo que a ética e a deontologia jornalística impõem no rigor das notícias.

É que, o Club K é mesmo um órgão de comunicação virtual. Por isso – e para desesperos dos censores – ele não pode ser censurado. Nem pode – para desespero dos «polícias kaênches» as suas instalações serem invadidas, vandalizadas, queimadas. Quase que nem pode o seu rosto mais visível, o ZG ser processado e levado a tribunal, pois nem vive cá. É por isso que a ética e o rigor no tratamento das notícias deste e de outros jornais online tem que ser apertado. Porque senão, embalados nesta impunidade – aparente, diga-se – poderão publicar notícias não verídicas que poderão atingir danosamente reputações e o bom nome de pessoas. Como já aconteceu no passado.

Outro desafio que vejo a impor-se ao Club K e ao jornalismo online angolano em geral é o controlo dos comentadores anónimos. Alguns deles chegam a atingir as raias do insulto mais violento. Outros denotam o seu carácter xenófobo ou mesmo racista, apenas porque se confrontam com uma opinião diferente da sua.

Sendo os comentadores anónimos, a responsabilidade é sempre do órgão de informação e qualquer visado está no seu direito de reclamar, ou exigir reparações, se for caso disso. Entretanto, o desafio mantêm-se pois a tecnologia ainda não permite esse controlo.

Finalmente, um terceiro desafio prende-se com os fundos de sustentação do projecto. Apesar de ser extraordinariamente barato manter um órgão de comunicação online – é apenas uma equipa e os seus conputadores e a sua INTERNET – há sempre custos a pagar, nem que seja apenas avenças aos jornalistas e repórteres e os custos da INTERNET.

E a publicidade no nosso país é o que todos sabemos: pela sua veia crítica e independente, os grandes anunciantes – organismos públicos, no caso de Angola – não anunciam os seus produtos e serviços no Club K com receio de serem conotados como sendo «do contra». E o Governo, esse não financia a imprensa privada, não obstante a legislação nesse sentido.

Dali que, as «ofertas» e os «financiamentos» dos ditos «organismos de desenvolvimento internacional» dêem para quebrar o galho. Mas esses dinheiros vêem sempre com uma agenda que nem sempre – quase nunca, diria eu – coincide com os interesses nacionais.

Algumas vezes – quase sempre – eles constituem um veículo para servir os interesses dos países «doadores». Conciliar as duas coisas – os nossos interesses enquanto angolanos e a agenda de quem «doa» é um desafio que, para além do jornalismo, estende-se para todas as áreas de trabalho que, na volta e meia, necessitam de financiamentos estrangeiros.

Enfim, com tudo isso e por junto e atacado, acho ser de justiça dizer que o Club K já tem escavado com trabalho e suor, o seu lugar na História da Comunicação Social Angolana de pós-independência. Sendo que isso foi em apenas 12 «anitos» e fruto da iniciativa de jovens adolescentes de então, é caso para dizer: é obra!