Luanda – O secretário Executivo da Juventude Patriótica de Angola, braço juvenil da CASA-CE considera que a solução para o país sair do engarrafamento social, económico e político em que se encontra passa pela mudança de regime em 2017. Rafael Aguiar espera que a mudança não implique a revolução, como percepcionam os excluídos da sociedade, e defende, para o sucesso do novo programa, que até os que hoje excluem não devem discriminados amanhã.

*Fernando Guelengue
Fonte: NJ


Cinco meses após o surgimento da Convergência Ampla da Salvação de Angola-Coligação Eleitoral (CASA-CE), que balanço faz?
É extremamente positivo. Pois, em menos de quatro meses, conseguimos mobilizar e galvanizar, ao nível nacional e na diáspora, a acção da juventude angolana de todas as identidades sociais em prol da mudança social em Angola. 

Nas eleições gerais de 31 de Agosto a CASA-CE conseguiu arrancar dos concorrentes oito deputados e está a marcar posição no panorama político nacional. O número de deputado alcançado deixa-vos satisfeitos?
Se tivermos em conta o tempo da nossa existência, este número de deputados deixa satisfeitas algumas pessoas. Se nos atermos ao número de aderentes que tivemos durante o período da campanha eleitoral, oito deputados é considerado, pela maioria dos jovens, como um resultado fraudulento. Logo, está muito aquém das espectativas. Quem o afirma são os próprios jovens.

Qual o número que corresponderia ao grau de satisfação da vossa parte?
Como já disse, para a maioria dos jovens angolanos, a CASA-CE, na realidade eleitoral, não teve menos de 50 deputados.
Se as eleições fossem livres e justas abolíamos as dúvidas sobre esta questão. Mas, como os processos eleitorais são fraudulentos, a verdade nunca vem ao de cima.

A que se deve o fracasso?
O fracasso da CASA-CE nas eleições gerais de 2012 chama-se fraude eleitoral sistemática e organizada. Isso não significa que não reconheçamos que, com o tempo de existência da CASA-CE, as dificuldades materiais e a condição humana não tenham tido influência.

O vosso eleitorado é maioritariamente jovem universitário e revolucionário. Como pensam ter o controlo dele?
A maioria do eleitorado da CASA-CE é jovem, de ambos os sexos, de todos os estratos sociais e de todos os níveis académicos. A partir de 2013, a CASA-CE vai ter um número significativo de aderentes noutras localidades, a que não tivemos acesso durante os oito meses de existência.
Para manter e angariar mais apoio da juventude angolana basta que continuemos a ser uma coligação partidária que encara a política como uma missão de servir o país e os cidadãos. Os que dirigem o país perderam a confiança, credibilidade e a força moral para continuarem à frente dos destinos dos angolanos, pois os actuais governantes piscaram para esquerda, mas curvaram para a extrema-direita e maltratam todos os que se dignam continuar firmes e indiferentes à direcção do pisca-pisca, quer estejam dentro ou fora do MPLA.
Está claro que nesta etapa da história de Angola, a CASA-CE é a esperança de um futuro de paz, de verdadeira democracia e de desenvolvimento sustentável da nossa sociedade, pois tem uma direcção patriótica, visionária e comprometida com o bem-estar de todos, independentemente da cor partidária e origem social das pessoas.

E o que os jovens angolanos esperam de vocês?
A maioria dos jovens espera que a CASA-CE se implante a nível nacional, combata com vigor e inteligência a corrupção, a partidarização das instituições do Estado, os abusos de poder contra os jovens, os intelectuais, os pobres e as mulheres. O que a juventude espera com maior ansiedade é que a CASA-CE assuma o poder político em 2015 e 2017 e distribua de verdade, a todos e sem excepção, a energia eléctrica, água potável, educação de qualidade, emprego com remuneração condigna, oportunidades de negócios fabulosos, casas condignas, terras aráveis. A juventude sabe que quem não consegue distribuir mais e melhor simples medalhas, nomes de ruas e de universidades a nacionalistas que lutaram pela independência nacional também não consegue distribuir mais e melhor o dinheiro e os bens sociais mais onerosos resultantes da exploração de petróleo e diamantes. Por isso, é que todos estão a olhar para a CASA-CE.

Durante este percurso de cerca de oito meses já se pode cantar vitória pelos resultados alcançados?
Não! Max Weber, sociólogo alemão, ao definir partido político, considera que o principal objectivo do partido político é a conquista ou manutenção do poder político, para beneficiar os seus membros. Nós entendemos que o partido político que se contenta em estar na oposição é uma empresa e não um partido político. E o partido político que só pensa conquistar o poder para beneficiar os seus partidários não merece nem conquistar nem manter-se no poder político. Pois, no primeiro caso, contribui para a corrupção política e, no segundo caso, cria condições para a exclusão social, a discriminação, conflitos e violência, ameaçando a paz e a unidade nacional. As práticas sociais discriminatórias dos detentores políticos estimulam os sectores mais radicais da sociedade angolana a pensarem que a única solução para o actual engarrafamento socioeconómico e político de Angola é a revolução. A CASA-CE tem tido um duplo esforço: convencer os angolanos de que vamos conquistar o poder por via pacífica e convencer os detentores do poder de que não devem temer a mudança pacífica, pois é, neste momento, a salvação de Angola. Hoje, o líder da mudança pacífica e qualitativa em Angola chama-se Abel Chivukuvuku.

Quais foram as dificuldades encontradas ou que continuam a encontrar para materializar os vossos ideais?
Foram substanciais: tempo, condições materiais e a partidarização política dos recursos humanos, materiais, financeiros, dos órgãos de comunicação social, das ruas, das avenidas, da água potável, da energia eléctrica, das federações desportivas de Angola. Hoje, até para alugar um quintal para realizar uma reflexão sobre o país, as pessoas nos respondem: «Estamos proibidos de alugar até uma bicicleta para a CASA-CE». Estes que proíbem alugar uma simples sala a um adversário político, podem distribuir mais e melhor os apartamentos, os diamantes, o petróleo? Claro que não! Por isso, não temos dúvidas. Controlada a fraude, a CASA-CE ganha as eleições para bem dos pobres, dos excluídos, dos discriminados, dos jovens, mas também para os que estão no poder e suas famílias. A mudança social só é qualitativa quando não exclui os discriminados e não discrimina os que excluíam.

Qual é a estratégia que utilizaram para convencer o eleitorado e atingir o número de deputados que muitos consideram ainda inferior?
Reside no compromisso da Coligação em resgatar a verdade, o amor à Pátria e à humanidade, a moral, a ética e a crença em Deus no exercício e na disputa política. Os angolanos não acreditavam mais nos políticos, antes do surgimento da nossa formação partidária. Uns contentavam-se por tudo e por nada, mesmo distantes… dos objectivos. Outros pensam que a política significa saber burlar, mentir, roubar, torturar, excluir. Outros encaram a política como uma empresa familiar, que, no final do mês, distribui milhões de kwanzas, mesmos àqueles membros da família preguiçosos, etc. A CASA-CE acredita efectivamente que, se em outros países a política continua a ser a arte e ciência mais geral e profunda de resolver os problemas da maioria, então em Angola também é possível. A chave da adesão é que quando o dirigente da CASA-CE fala sente-se que não está a mentir, não quer manipular, está a ser profundo e transparente e não há dissonância cognitiva entre o que faz, pensa e fala. Os outros, por mais que gritem que são democratas, querem combater a corrupção e a discriminação social, os seus lábios e olhos indicam que é tudo mentira. A base para resolvermos qualquer problema social continua a ser a verdade, o amor ao próximo, o espirito de sacrifício e a perícia.

A CASA-CE provou que já não existem regiões bastião

O número de abstinência foi bastante assustador. Isso influenciou o vosso resultado?
Quando as eleições não são transparentes e justas, o cidadão comum e, inclusive, os cientistas sociais encontram muitas dificuldades em trabalhar com estes dados eleitorais. Todavia, quer sejam dados fiáveis quer não, influenciaram o resultado eleitoral de todos os partidos políticos, pois, se este eleitorado todo votasse, as percentagens obtidas pelas formações políticas seriam de certeza diferentes. Mas, como os dados eleitorais em causa são questionáveis, fica difícil responder.

No interior de Angola foram bem recebidos e os militantes e simpatizantes esperam muito da CASA-CE. Como pensam controlá-los?
Contrariamente ao que sociologia política angolana ventilava, o surgimento da CASA-CE provou que já não existem regiões que podem ser consideradas bastiões deste ou daquele partido político. Basta ver a adesão que os comícios da CASA-CE tiveram no Huambo, em Benguela, na Huíla e no Soyo, etc.
A maneira de manter a simpatia que granjeámos nestas regiões é consolidar a ideia de que a CASA-CE foi criada, não para ficar na oposição, mas sim para exercer o poder político, com o objectivo de propiciar um ambiente sociopolítico em que todos, em função das suas habilidades, conhecimentos e criatividade, possam ter oportunidades iguais de realizarem os seus sonhos, sem desprimor pela intervenção do Estado na protecção dos mais desfavorecidos. Com a CASA-CE no poder, dar casa própria e condigna à juventude não pode ser comparado ao desafio que os americanos tiveram de ir à lua, pois, em pleno século XXI, é normal ter luz eléctrica, água potável, casa condigna, bom emprego.   

Pode arriscar e dizer quantos angolanos acreditam no vosso programa?
Nenhuma pessoa séria responde a esta questão sem uma base de dados. Se as eleições de 2012 tivessem sido livres e justas, diria que, até ao dia 31 de Agosto de 2012, x angolanos acreditam no nosso programa. Mas, como as eleições foram fraudulentas, o que lhe posso dizer, baseando-me na opinião dos jovens que nos interpelam nas avenidas, é que a maioria da juventude angolana, sobretudo das zonas urbanas e periurbanas, acredita no programa da CASA-CE, nos seus dirigentes, sobretudo no presidente, Abel Chivukuvuku.

Quantos angolanos estão registados na coligação?
Na verdade, só depois da Reunião Alargada da Juventude Patriótica de Angola, braço juvenil da CASA-CE, que terá lugar no dia 8 de Dezembro de 2012, no salão Lumueno, na rua directa da Samba, por detrás do Restaurante Golden Cost, é que lhe posso dizer, com exactidão, o número de membros registados. Neste momento estamos a receber os últimos dados vindos das províncias e da diáspora. Na verdade, a adesão à CASA-CE é fenomenal.

Quais as vantagens de fazer parte da Juventude patriótica?
Há inúmeras vantagens: fazer parte dos futuros líderes de Angola, beneficiar de formação intensiva e regular em várias áreas, eleger e ser eleito para órgãos de direcção, ter oportunidade de figurar na lista de candidatos da CASA-CE a deputados à Assembleia Nacional; ser eleito dirigente de distritos, municípios e províncias, no âmbito das eleições autárquicas, fazer parte de um grupo de jovens que cultiva criar uma ampla corrente de solidariedade, procurando sempre amar Angola, os angolanos e a humanidade.

Numa roda de exclusão o efeito não tem fim

Para si o que falta fazer no país que o MPLA ainda não fez?
Há coisas, embora poucas, que o MPLA fez. Por exemplo: contribuiu para a conquista da paz e para institucionalizar a corrupção, a discriminação, primeiro, com base na cor partidária, posteriormente a lealdade ao chefe.
Há muitas coisas que dizem ter feito, mas que na verdade nunca fizeram. Exemplo: dar água potável, energia eléctrica, empregos condignos, salários razoáveis à maioria dos angolanos.
Há outras coisas que reconhecem não ter feito e não estão dispostos a fazer nunca. Exemplo: reconhecer a contribuição de Holden Roberto e pares, Jonas Savimbi e pares, Simão Toco e pares, Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, Nito Alves e pares, como ícones incontornáveis para a independência de Angola; distribuir mais e melhor a riqueza nacional; outorgar cidadania angolana plena aos angolanos em função de terem nascido em Angola e não pelo facto de serem do MPLA e ou concordarem ou não com o engenheiro José Eduardo dos Santos; reconhecer que os problemas que Angola vive derivam da exclusão social, durante o recebimento da independência, e exclusão de outras inteligências no processo de construção e reconstrução física e social de Angola.

O que a CASA-CE pensa fazer?
Em primeiro lugar, corrigir o problema de exclusão social em Angola. Atenção não se pode corrigir este erro excluindo os companheiros do MPLA. Se procedêssemos assim, estaríamos a criar um círculo vicioso ou aquilo que eu tenho dito aos jovens: que numa roda de exclusão o efeito não tem fim. Em segundo lugar investir seriamente na educação e formação do angolano, na juventude, em particular. E em terceiro lugar, humanizar e aperfeiçoar o sistema de saúde nacional, diversificar a economia, protegendo o interesse nacional, sem impedir investimentos estrangeiros. Poderemos ainda criar condições para os angolanos, através do trabalho, do empreendedorismo e, não através de expedientes de corrupção e de vida fácil, usufruírem da riqueza nacional, para gerarmos qualidade de vida aos angolanos. A qualidade de vida deverá gerar produção abundante e qualitativa em termos de arte, ciência, tecnologia, elevando o nome de Angola além fronteira.

O ministro da Administração e Território, Bornito de Sousa, disse que as condições para a realização das eleições autárquicas serão apenas definitivamente criadas até ao final de 2014. Está de acordo com as razões avançadas?
Como eles só ditam regras e não dialogam na concepção, discussão e tomada de decisões, a oposição política, mesmo quando quer ser construtiva, é obrigada a discordar. Pois, como posso concordar com algo que só ele analisou e conhece a génese, o processo e as consequências?

A coligação está preparada para que ano?
Os resultados eleitorais da CASA-CE, comparativamente aos partidos políticos com maior idade cronológica, deram razão ao nosso presidente, Abel Chivukuvuku, quando defendia, durante a concepção da coligação, que o tempo só vale por aquilo que fazemos em cada minuto. Se dispondo de um ano para realizar uma missão e, 90% de cada hora for dedicado à bebedeira, obviamente, volvido um ano, nada se fez. Porém, se 90% de cada hora for dedicado ao trabalho, no final do ano, estás preparado a obter êxitos do seu trabalho.

Porquê?
A preparação é um processo que depende da gestão do tempo e de outros recursos.

Só se corrigem erros geracionais investindo na socialização da juventude

Como vê o consumo de drogas, principalmente de bebidas alcoólicas, por parte dos jovens e adolescentes?
Há uma coisa que os mais velhos, independentemente dos seus partidos, não gostam de ouvir: a pessoa é, essencialmente, resultado da educação que os pais administraram. Esta constatação não significa caucionar estes comportamentos desviantes. Só se corrigem erros geracionais, investindo no processo de socialização formal e informal da juventude, que são os futuros pais e elites da sociedade. A minimização deste fenómeno depende da maneira da correcção de um conjunto de erros: 1) outorgar à Polícia Nacional o papel de principal agente ressocializador dos adolescentes; 2) falta de uma política juvenil do Estado que conjugue os esforços dos agentes socializadores, como a família, escola, comunicação social, partidos políticos, organizações da sociedade civil numa só direcção; 3) banalização da contribuição da classe dos cientistas sociais na compreensão das reais causas e eventuais soluções.

O que se deveria fazer para desincentivar esta prática?
Há medidas de caracter microssociológico, ao nível das famílias, bairros e escolas e medidas de âmbito macrossociológico, ao nível da comunicação social, políticas públicas do Estado, contribuição da sociedade civil. Todas as medidas deveriam privilegiar a prevenção dos fenómenos, através de uma acção concertada dos agentes socializadores, repito, incluindo os partidos políticos. Pois, hoje em Angola eles são poderosos agentes socializadores.

Qual a mensagem de fim do ano que deixa aos militantes e simpatizantes da CASA-CE?
Mesmo com os maus tratos que a classe dirigente angolana dá à juventude, não se esqueçam que os jovens são os guardiões dos valores espirituais e materiais mais altos de qualquer Nação. Por favor, a Pátria não é a casa no Kilamba e nem o Prado, que parte numa esquina. Participemos activamente, com todas as nossas energias, inteligência e criatividade para que haja em Angola, paz, democracia, desenvolvimento sustentável, amor aos angolanos e angolanas e mudanças qualitativas, pois ninguém pode sentir por nós o cheiro do petróleo, o sabor da corvina, o brilho dos diamantes, nem a doçura da manga. Participar é conquistar e aumentar o seu lugar na sociedade.
Só pode participar activamente quem aumenta e melhora os seus conhecimentos; condições materiais e a sua dimensão moral e ética. Há ainda bons exemplos a seguir, apesar de a maioria decepcionar. A esperança nunca morre, a certeza é o combustível da mudança.

Que projectos têm para o próximo ano?
Muitos. Os prioritários: implantação nacional e execução do plano estratégico que foi aprovado este sábado, 8 de Dezembro, pelo Conselho Deliberativo da Juventude Patriótica de Angola, braço juvenil da CASA-CE.

O que gostaria de deixar como recomendação do ponto de vista geral?
A mudança de regime em Angola, em 2017, é a solução para sairmos do engarrafamento social, económico e político em que Angola se encontra. A mudança só será qualitativa se os excluídos de hoje não forem mais excluídos e se os que excluem hoje não sejam discriminados e excluídos, amanhã.

BIOGRAFIA

Rafael Daniel Aguiar é natural de Luanda. Licenciou-se em Sociologia, em 2008, no Instituto Superior de Ciências de Educação (ISCED/Luanda) e fez uma pós-graduação em Direito e Sociedade, pela Universidade Fluminense Federal do Brasil e simultaneamente, pela Universidade Agostinho Neto – Faculdade de Direito. Já foi vice-presidente da Associação dos Estudantes do ISCED/Luanda, Secretário para Administração e Finanças e porta-voz da Associação dos Estudantes da Universidade Agostinho Neto, Vice-presidente, investigador e conferencista permanente do Instituto de Desenvolvimento e Democracia. É docente universitário, na Universidade Agostinho Neto, Faculdade de Ciências Sociais, membro do Conselho Presidencial da CASA-CE e Secretário Executivo Nacional da J.P.A.

NOTA DE REDACÇÃO: Apresente entrevista previa ser publicada na edição n.º 256, de 14 de Dezembro, do semanário Novo Jornal, mas por razões obvias foi censurada (retirada já a partir da gráfica), segundo o entrevistado, por um dos responsáveis deste jornal de nome Mateus Fula.