Luanda - Embora a sua propensão para a música tenha surgido de forma intuitiva, a crença nos efeitos pragmáticos do autodidactismo levou o cantor e compositor Carlos Baptista a construir uma sólida carreira de sucessos, dos quais ficou na história a canção “Enquanto espero”, um dos seus temas musicais mais conhecidos pelo grande público.

*Jomo Fortunato
Fonte: JA

O amor, a observação da natureza e as ocorrências do quotidiano são os temas preferenciais das composições de Carlos Baptista. Romântico assumido, o compositor elogia a mulher, elege a esperança de um futuro melhor, e as suas canções são narrativas que encerram sempre um desfecho feliz e duradouro.


Filho de Joaquim Domingos Baptista e de Maria Domingos, Joaquim Domingos Baptista nasceu em Luanda, na Ilha do Mussulo, no dia 1 de Agosto de 1951, e começou a compor, com alguma consistência criativa, aos 22 anos, depois de um longo período de contacto com a música, tendo frequentado, de 1987 a 1989, a Academia de Música de Luanda.


Em 1973, Carlos Baptista frequentou o Centro de Preparação de Artistas da Rádio (CEPAR), estação ligada à então Emissora Oficial de Angola (hoje Rádio Nacional de Angola), onde aprendeu as formas correctas de colocação e educação vocal. No ano seguinte, surgiu a sua primeira apresentação pública no Cine Belenenses, no bairro da Samba, em Luanda, ocasião em que foi vivamente aplaudido pelo público, pelo seu timbre vocal.


Influências


Visceralmente ligado à música, embora distante da pretensão profissional, Carlos Baptista colaborou, em 1977, com o conjunto musical Interclave, e participou, um ano depois, no concurso nacional de música e canto, promovido pelo Conselho Nacional da Cultura, obtendo o prémio de melhor composição com a canção, “O tempo aliado da razão”.
Embora não tenha tido familiares directos ligados à música, exceptuando uma ligação de familiaridade distante, com o cantor e compositor Lulas da Paixão, Carlos Baptista disse que “sou um cantor romântico, razão pela qual tenho uma forte admiração pelo cantor e compositor brasileiro Roberto Carlos, sobretudo quando se junta ao seu inseparável amigo Erasmo Carlos. No entanto, gosto da generalidade dos cantores angolanos e destaco aqui o grande cantor, compositor e intérprete Carlos Lamartine, e o espiritual Artur Nunes, dois exemplos de qualidade e entrega total à música”.


Diamantes negros


Carlos Baptista gravou, em 1979, as canções, “Kuzuelesa” e o “Tempo aliado da razão”, em fita magnética, na Rádio Nacional de Angola, altura em que começou a colaborar com o conjunto musical “Diamantes Negros” com Zecax, Dina Santos, Mamukueno e Santocas (vozes), Baião (guitarra solo), Betinho Feijó (guitarra ritmo), Zeca Pilhas Secas (guitarra baixo), Massikoca (teclados), Robertinho (voz e bateria), Jesus (tumbas), e Domé Domingos Mputo, Conceição, Jesus Paulo Diogo (metais).


Em 1980, Carlos Baptista vence o concurso radiofónico do programa “Para Jovens”, da Rádio Nacional de Angola, tendo viajado, ainda com o conjunto “Diamantes Negros” da então Secretaria de Estado da Cultura, para São Tomé e Príncipe, Portugal, Polónia, República Democrática Alemã e União Soviética.


Discografia do autor

Em 1986, Carlos Baptista gravou o seu primeiro álbum “Esboço”, pela Sonovox, tendo obtido o segundo lugar do Top dos Mais Queridos com a Canção, “Enquanto espero”. Em 1987, obteve o sexto lugar ainda no Top dos Mais Queridos com a canção “Imaginação”.


O seu segundo disco, “A promessa”, surgiu em Agosto de 1992, com a etiqueta do Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD). No dia 11 de Novembro de 2010, data de celebração da Independência Nacional, aconteceu o lançamento do seu terceiro álbum “Sempre amigos”, um CD com a chancela da LS Produções, e apoio financeiro do Ministério da Cultura.


Projecto Petro Semba


Carlos Baptista fez parte do concurso “Decouvert”, edição 1988, promovido pela Rádio France Internacional, com a canção “Jindandu jia tu vulu”, e participou, em 2006, no CD do projecto “Petro Semba”, com duas canções, editado pela Sonangol, tendo sido realizado um concerto de apresentação do projecto, nas comemorações das festas da cidade do Huambo. Carlos Baptista está representado na colectânea musical, “Angola 30 anos” (2010).


Sempre amigos


Gravado substancialmente com a Banda Maravilha e músicos convidados, depois de 16 anos de silêncio discográfico, “Sempre amigos” é a canção que dá título ao mais recente CD de Carlos Baptista, um tema de amor que narra a impossibilidade do autor em voltar a apaixonar-se por uma antiga amada, por estar comprometido com a sua nova mulher.


Em “Espera por mim”, o compositor fala de um amor distante, mas a força da esperança faz aproximar que se ama. A canção “Imaginação”, gravada pela primeira vez em 1986, começa com os seguintes versos: “Nos teus olhos eu vejo/ o amor em força de luz e dia/ no teu corpo eu sinto o amor/ em força de poesia”.


Tempo de trabalho e tempo de entretenimento, é o tema narrado em “Quarenta e quatro horas”. Mar e amor, é assim a poesia em “Lumena”, nome de uma menina bonita que não deve nadar para longe, “que o mar pode bravar/ e as ondas te arrastarem”… 


No tema “Tânya”,a sexta canção do CD, o compositor elogia a bondade e a forma como ela gosta de ensinar. O tema acaba por ser um claro elogio à juventude, e à sua natural propensão para o entretenimento.


Em “Luanda à noite”, Carlos Baptista transforma, de forma metafórica, a cidade numa mulher. “Kuzuelesa”, é uma canção em quimbundo em que o autor pretende instaurar o diálogo com o seu irmão, porque, segundo a mãe ele não vai à escola. “Viajar ver e contar” é uma crónica de viagem no interior de Angola.


“Maçada” retrata a vida dos novos tempos: “Hoje em dia não entendendo esta/gente que me abraça/ me crítica/ me elogia me condena/… é difícil encontrar um bom amigo.