Luanda -  O final do ano aproxima-se velozmente, para a virada, ultrapassado que está o Natal, data apoteótica para os cristãos católicos. O fim do mundo que muitos diziam, vaticinado pelo povo Maia, que habitou a península de Yucatán, cuja cultura viveu o apogeu até 500 anos antes da chegada da colonização de Espanha, não ocorreu entre os dias 21 à 23 de Dezembro. Graças a Deus, acordamos vivos e assistimos ao 25 de Dezembro, oxalá consigamos fazer a virada, também...Mas o fim do mundo foi e é a correria em busca de um cabaz, uma oferta ou um quilo de qualquer coisa, nas lojas e supermercados, desta imensa Angola.  Estas enchentes, sim, são um verdadeiro fim do mundo.

Fonte: Folha8

Uns vão fazer o desfile da exibição e carregam carros e carros, com produtos repetidos até a exaustão, outros, para não ficarem mal, vão apenas contemplar e enchem os sacos com alguns produtozinhos em promoção e baixa de preço, tal como a sua qualidade, por ser Natal e as crianças, mesmo nuas querem ter a sensação de, pelo menos, nesta data, receberem do Pai Natal, no caso, os pais de casa, algo para cobrir a anémica barriga, nem que seja com uma camisola ou blusa de fardo e poderem ver a panela não entrar em greve, ao ferver uma lasca de peixe pungu ou bacalhau resequidos.  


Por isso se veêm pessoas do povo, carregadas de sacos de compras, como que reconciliadas com a desgraça de todo um ano.


Um amigo ao ver este cenário enviou-me a seguinte mensagem: afinal não estamos assim tão mal.


Para ele, a ilusão do riso inocente, cúmplice de uma pobreza que cresce, rasgado no rosto de um (a) autóctone, em dois dias, são o antídoto dos restantes 363 dias do ano.


Engano. Os sacos multiplicados, “acompanhando” certos  corpos e as enchentes nas lojas e mercados, dos indígenas não significam a abundância social, mas o sonho do Pai Natal, tão fielmente seguido e retratado pelos povos de Angola e do mundo inteiro, que mesmo na pior das desgraças sonha com uma nova aurora.


O cenário está bastante blindado para a maioria, despojada das suas riquezas e direitos, por uns poucos, que se aboletaram e aboletam, todos os dias, com os milhões e milhões de dólares dos milhões de autóctones angolanos, transformados em famintos e indigentes, pela desmedida ganância e política de corrupção de quem nos (des)governa.


E, se, legitimamente, o povo tenta reclamar, o presidente não dá ordens para bater, prender ou assassinar, mas recorda as tropas da repressão o poema do nacionalista  António Jacinto: “porrada de refilares”, pois, ele, também, nasceu e cresceu pobre e encontrou a pobreza colonial, daí  não ser legítimo, que no pedestal do seu infindável poder, “não possa viver eternamente como bilionário”.    


Mas, ainda assim, o meu amigo, defende, que, uns, de nós, exageram nas críticas, logo, não gramam dos “camaradas” do governo. “Pois não é crime haver angolanos ricos!” Certo. Não é crime.


Crime é ser rico, locupletando dinheiro do erário público. Particularmente, não defendo um presidente pobre, mas não condenarei nunca, um presidente pobre, eleito sem fraude, sem o controlo absoluto da comunicação social pública e do sistema eleitoral, honesto e comprometido com os mais elementares anseios e sofrimento dos seus povos.  


Condenarei sempre, o que outro amigo me escreveu, dizendo: com o já não há o que se oferecerem entre si, os dirigentes, adoptaram uma nova moda: contrataram uma empresa especializada em “cabazes para cães”, com vários kits, em função das preferências e cargo do visado. Podemos imaginar, em função desta minoritária tribo dirigente, os tipos de “cabazes caninos”, trocados entre si, melhor, entre os “cães dirigentes”, que durante o ano, têm direito a picanha e bife de primeira classe, todos os dias. Mas a isso, pasme-se, eles não chamam corrupção ou insensibilidade. Consideram sensibilidade em relação aos animais. Logo, como a maioria de nós é bicho e um bando de ingratos, pois não sabe reconhecer que o ar que nos alimenta a vida, não pagamos taxa alguma, aos nossos incansáveis governantes. Bando de insensíveis…


Sinceramente, por isso, eu coloquei na minha carta enviada ao Pai Natal, que o Presidente da República, oferecesse ao seu povo, apenas Pão, Água, Sal e Luz, neste Dezembro, uma vez já ter tomado a brilhante ideia de acabar com o culto de personalidade à sua pessoa, mandando retirar a foto na Moeda Nacional: o Kwanza e no Bilhete de Identidade, substituindo-a, pela dos heróis do passado, como Nzinga Mbandi, Mandume, Ngola Kiluanji, Ekuikui Kimpa Vita entre tantos outros.


Aí está uma boa prenda, que os “ingratos” não querem reconhecer, no lamaçal de tanta boçalidade e arrogância, surge este alento espiritual de repartição de uma riqueza virtual, por parte de quem, não se cansa de trabalhar e repartir bem e cada vez melhor.


Vejam-se os casos de Manuel Vicente, da Isabel dos Santos, de Manuel Hélder Vieira Dias Kopelipa, Tchizé dos Santos, Zénu dos Santos, Leopoldino, José Leitão, Coreon Dú dos Santos, incansáveis trabalhadores, por nós, e todos, absolutamente, todos estes e quem os secundam, uns pobrezinhos.


Na realidade, reconheçamos, depois de ouvirmos a mensagem de Ano Novo do Presidente da República, somos uns ingratos.

Daí que, da minha parte, endereço um voto de Viva o “camarada” Presidente, grande líder de vários povos sofridos, oprimidos, discriminados, sem liberdade, sem voz e cada vez mais famintos desta nossa imensa Angola, que, “tão bem lhe outorgou” os votos atípicos para uma vitória, igualmente, atípica nas eleições de 31 de Agosto de 2012.


Bom Ano Novo e Revolucionário 2013.