É o sistema, estúpidos - parte II

Depois defini o sistema, de acordo ao livro do antigo jurista, empresário e bancário, que, tinha “caído em desgraça” e, decidiu escrever sobre o sistema: este definia o sistema da seguinte forma: ” O Sistema, são “umas pessoas, não necessariamente “todas” do partido governante, dominam a sociedade e influem em todas as suas decisões. É, “o modo de organizar(-se) as relações reais de poder no seio de uma sociedade...”, como um “grupo de poder” que domina sobre a “inteligência, a política, o sector público, o sector privado” e cuja “estrutura, é um travão a existência de liberdades reais”, e que, exerce a sua influência, sobre os meios de comunicação social...” ; neste caso, alguns jornais, revistas, atos sociais, obras benéficas, etc. devidamente preparados, formam parte  da ponta mais visível do sistema...” e, etc. O poder real é tão forte, que o próprio Presidente da República, pode ser “vitima” do sistema!

Mas, o sistema em países como Angola, tem forma diferente, dos outros países, principalmente países com muito mais anos de estrutura de estado, governo, empresarial, laboral,  familiar, Associações da sociedade civil, estabelecida. Em Angola tudo está-se a formar...a nova elite do país é recentíssima e começa a estabelecer estas relações de cumplicidade e auto proteção, quando interessa! O próprio presidente reconheceu, que há uma certa “promiscuidade” entre os interesses privados e oficiais! E os grandes bancos, as grandes empresas, ainda são todas oficiais...de modos que, tudo converge a cúspide da pirâmide, onde tudo chega  de forma oficial ou oficiosa...! e, se as pessoas que a ele têm acesso, têm o poder de intimidar e parar “assuntos e acontecimentos”, este grupo, é muito restrito e, está composto pela família direta e alguns colaboradores diretos, que serão chamados para dar explicações...e aqui, reside o seu “power”: podem mentir o chefe, dar outro sentido ao assunto, fazer intrigas, levantar cabalas, etc.! é próprio dos jogos de poder!

Portanto, de acordo com aquelas definições, quem faria parte do “sistema” em Angola? Creio, que há um grupo principal, e depois, vários subgrupos, dependendo se o interesse é público ou privado; no grupo principal, podíamos identificar a “família presidencial”, o DG da Sonangol, o Secretário do Conselho de Ministros-SCM, o Presidente da ANIP, o Diretor Nacional do Tesouro em Luanda...e nas Províncias, os Governadores Provinciais!

Explico: por exemplo, todo e qualquer interesse no negócio petrolífero, principal fonte de receita do país, tem que passar pelo parecer do DG e daí, para o PR...se estes não estão de acordo, não há negócio! Todo e qualquer projeto de investimento “grande, importante” no país, tem que passar pela ANIP e deste, deve entrar na Agenda do Conselho de Ministros...antes de entrar para Agenda, há consultas com o PR...se não estiverem de acordo nesta cadeia, ANIP-SCM-PR, não há projeto! Quando há necessidades de verba, fala-se diretamente com o Diretor Nacional do Tesouro...o Ministro, nem é achado! se este, não estiver bem disposto, ou “dá largas”, ou dá um parecer desfavorável...a não ser palavra ao contrario do Chefe ou alguém por ele delegado, não sai dinheiro! A propósito, João Lourenço, tinha conseguido “colar” aí o seu cunhado...foi descoberto! Está agora desterrado na Espanha, mas não saiu de mão vazia...eles têm, a Pérola do kikuxi! Tudo isto, num circuito público de grande envergadura...!

Um pouco mais em baixo, há outro subgrupo que controla, os negócios “mais pequenos”: aqui, digamos que dominam os Diretores dos Bancos do país e, toda uma plêiade de funcionários seniores, que “agilizam” as licenças, os alvarás, as autorizações, que preparam as listas de candidatos numa outra vertente, que dão pareceres...e cuja característica comum, é o silencio, o conformismo, a conivência, o tráfico de influências,  para garantir o lugar! Normalmente,  estes estão bem relacionados-associados a nova elite empresarial do país: todo e qualquer negócio que escapar a estes, eles entram em acção, e numa mistura de cumplicidade  oficial e privada, começa “cabala”...se não entram no negócio, em um momento determinado, todo o processo para! Entram em encena frases como, “ordens de cima”, “ordens oficiais”,etc.! Não há a quem recorrer, por mais que dei-as voltas, o negócio está parado...está é a outra sub-rede! outras frases mais: “épa, não te metas aí”,etc.,etc.! aqui, está a parte invisível do sistema, filhinhos de papai, directores de bancos,etc.!

Altos chefes militares, polícias, membros dos órgãos máximos do partido governante, e alguns quadros intermédios, são neste campo, como operativos...o suporte do sistema...têm o seu poder, mas depois daqueles, de cima! Não tomariam decisão ao contrário, a pedido daqueles de cima!

Como se combate este “circulo vicioso”? Primeiro, tem de haver, das mais altas instancia do país, vontade política de cambiar todo o sistema! Ativando e apoiando um sistema de justiça, célere e eficaz, que resolva os diversos interesses em jogo com imparcialidade! Se um cidadão, vê os seus interesses afetados por estes jogos de  interesse, deve ter no sistema de justiça, uma proteção! Caso contrário, entra no sistema, e prolonga o circulo vicioso!

Quer promover algum empreendimento..., cumpre todos os requisitos legais..., se as licenças não saem, se há demasiadas e lentas barreiras administrativas, políticas,  devo ter no sistema de justiça, proteção! Senão, associo-me com gente do poder, e prolongo o circulo vicioso!
O poder político em Angola, tem que ativar e incentivar o uso do sistema judicial...os jogos de interesse, sempre existirão...mas não podem estar tão baixos como a nível da pequena empresa!

É por tanto, necessário, que se dissemine por todo o país, órgãos de justiça...deve haver em todos os municípios, os diversos tribunais, para poder acelerar a agilizar os  diversos conflitos  que surgem na dinâmica das relações sociais. Dirão alguns, que o governo sabe disso...claro que sabe, tal como sabe, que não se deve fornecer água imprópria para consumo a população! E ligando com outros textos, são estes, os tais problemas estruturantes! Ou atacamos as causas dos problemas, ou andaremos aqui “mareando la perdiz”!

É o sistema, estúpidos...vem da famosa frase: “é a economia, estúpidos”, que deu a vitória eleitoral, ao candidato, Willian Jéferson Clinton -1992, que suponho, todo o mundo conhece”.


* João Ondaka yasunga ( Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.)
Fonte: Club-k