Luanda – Antes de mais manifesto a minha solidariedade para com as famílias enlutadas e daqueles que ainda se encontram com estado grave de saúde por conta do infortúnio que a Igreja Universal do Reino de Deus - IURD com a sua mega campanha sobre o dia do Fim causou a muitas famílias angolanas no dia 31/12/12.

Fonte: Club-k.net

CAPITULO I – A BUSCA DA FÉ DE UNS E A FRUSTRAÇÃO DE OUTROS

Início da noite do dia 31/12/12, o Bairro Nelito Soares é surpreendido com uma enchente de pessoas e carros, vindos de várias artérias da cidade capital, homens, mulheres, velhos, crianças, coxos, cegos, mendigos, miseráveis e outras pessoas afluíam ao recinto da cidadela desportiva na ânsia de poderem resolver as suas preocupações, de ouvir a palavra do senhor embora propagada por elementos de origem de fé duvidosa, na expectativa de serem abençoados para que em 2013 tenham um ano melhor.

Para muitos como eu esta actividade trazia grandes e graves transtornos uma vez que como morador do bairro não conseguia entrar nem sair com a família do nosso bairro por conta da desorganização do trânsito e não só, muito embora existisse a polícia, bombeiros, obreiros e demais cidadãos na organização do evento. Situação que obrigou a várias famílias a passarem a virada do ano dentro das viaturas porque o trânsito estava parado.

Na estrada bem como nos passeios era visível na mão dos supostos fiéis os poster’s com um F em chamas, como se trata-se de uma cerimónia de exorcismo ou pratica ao oculto, bem como a maioria destas pessoas trajavam-se de branco e muitos enveredando tshirts com a publicidade do evento.

A alegria no rosto de muitos era visível, pois pensavam que o poço de fé estava dentro da cidadela e que aquele dia era o garante da resolução dos problemas. Outros estavam preocupados pois queriam chegar a pressas ao recinto, uma vez que estavam atrasados e nem sequer sabiam onde entrar.

CAPITULO II – A TRAGÉDIA

Enquanto muitas famílias celebravam a virada de mais um ano, outras digladiavam-se na cidadela para terem acesso ao tal dia do F, e supostamente pessoas sofriam na carne e nos ossos a dor de serem apertados, empurrados, pisados, esmagados e asfixiadas.

Até ao momento, ninguém sabe ao certo o que se passou só há registos de mortes e feridos com números duvidosos. Há famílias que reclamam o desaparecimento dos seus familiares que supostamente foram a cidadela e até hoje não regressaram as suas casas.

Para estas pessoas cujo paradeiro é incerto, porque é que a IURD não utiliza o seu canal televisivo bem como pôr spots na rádio para auxiliar as famílias nas buscas destas pessoas? Estão a espera que estas famílias saiam as ruas e batam latas para encontrar os seus?

CAPITULO III – DE QUEM É A CULPA?

Diante desta tragédia surgem os oportunistas que em jeito de minimizarem o sucedido e desviarem-se da responsabilidade vão tecendo opiniões absurdas, é o caso do pastor/bispo-palhaço da IURD que prestou declarações a televisão onde em momento algum assume que poderia ter havido falha por parte da sua igreja, teve também o representante da cultura para os assuntos religiosos que parecia mais um advogado da igreja universal, as declarações do pessoal da policia que em nada ajuda e de alguns psicólogos e sociólogos associados ao sistema que como abutres só aparecem em cenários tristes e podres para darem o tal show-off desnecessário.

Porém há que realçar que dever-se-ia criar uma comissão de inquérito, composta por elementos dos ministérios do Interior, da Cultura, da Justiça e do Governo Provincial de Luanda para apurar de facto quais as causas reais desta tragédia. Lembro que a cidadela desportiva já foi palco de mega eventos como o show da banda Kassav e fruto da boa organização nada aconteceu.

CAPITULO IV- COMO DETERMINAR ESTE ACONTECIMENTO

Existem muitas possibilidades para investigar este trágico acontecimento, pelo que eu iria mais pelos aspectos organizativos do próprio evento ou seja há que saber o seguinte:

1. Quantas portas de acesso ao recinto estavam abertas? Como estavam a ser supervisionadas estas entradas e qual a estratégia traçada para facilitar o acesso do pessoal ao interior do recinto em caso de enchentes nas portas?

2. Quantas saídas de emergência estavam disponíveis no local?

3. Quantas pessoas estavam previstas para a actividade e quais as medidas tomadas para o caso de exceder o número previsto?

4. A que horas foram abertas as portas para o acesso do pessoal ao evento? O horário previsto para início do evento foi cumprido?

5. Quantos efectivos da polícia, bombeiros, médicos, enfermeiros, voluntários e outros foram mobilizados para ajudarem na organização do evento? Como estavam distribuídas as tarefas destas pessoas? Quem era o responsável pelo controlo destas pessoas e respectivas tarefas? Antes do evento houve uma reunião entre os organizadores? Que medidas de segurança foram tomadas?

6. Diante do sucedido quais foram as medidas tomadas para com as vítimas e respectivas famílias?

7. Quem autorizou a utilização da cidadela para este evento? Qual foi o critério que observou para conceder tal autorização?

CAPITULO V – E AGORA?

Esta é uma pergunta que os implicados neste filme de terror de curta metragem e de mau gosto que é o dia do F não consegue esclarecer. Como ficam as famílias lesadas e amigos das vítimas?

Tenho acompanhado pelas notícias, que a IURD esta a apoiar as famílias com comida e que em breve vão dar as caixas (caixões) para o enterro. Mas que brincadeira é esta afinal de contas? A vida de uma pessoa vale um mísero prato de comida e uma caixa? Será que o pessoal é tão miserável que está a aceitar isso? Ou é em nome da tal FÉ, que os estão a induzir a aceitarem estes restos?

Daqui para frente como ficarão estas famílias? Como lidar com a falta dos seus? Para a IURD isso deve ser normal a julgar pela naturalidade que estão a encarar o problema. Se fosse o caso de falta de dinheiro aí sim estariam super, híper e mega preocupados uma vez que estariam a mexer na sua fonte de receita fácil.

CAPITULO VI - O PASTOR/BISPO- PALHAÇO

Ontem vi trechos da entrevista a um palhaço porque é isso que ele é, que ao falar sobre o acidente da cidadela quis isentar a sua igrejinha de culpas, tendo ido mais longe quando disse que para a “brincadeira” do dia do F previa-se 70.000 pessoas mas que o número de fiéis excedeu as expectativas e estavam cerca de 150.000 pessoas dentro do recinto desportivo.

Por um pouco pensei que estivesse a falar do estádio de Rungrado May Day da Coreia do Norte cuja capacidade é de 150.000 pessoas ou do estádio de Salt Lake na Índia cuja capacidade é de 120.000 pessoas, ambos no ranking dos maiores estádios de futebol do mundo. Mas não, o palhaço estava mesmo a falar da Cidadela Desportiva…

Senhor pastor/bispo-palhaço, que mecanismos é que utilizaram para o senhor dizer com certeza que na cidadela havia 150.000 pessoas? As pessoas ao entrarem no recinto eram contadas?

Outra palhaçada é na entrevista o mesmo apresentar supostos papéis de autorização para feitura da brincadeira do dia do F, e nem sequer mostrou alguma decência ou mesmo deu-se o trabalho de fingir que estava abalado com o acontecido, não estava preocupado com a imagem da sua máquina de fazer dinheiro (IURD) a custa de pobres almas.

Só não entendi, o senhor é angolano ou brasileiro? Porque se for angolano porquê do sotaque sujo e arrojado? E se fores brasileiro então entenderei a sua falta de solidariedade para com estas pobres almas.

CAPITULO VII – QUE FINAL TERÁ A NOVELA DO DIA DO  “F”

Infelizmente não consigo visualizar um final para esta novela que IURD nos brindou, mas deixo algumas considerações:

- Para aqueles que morreram, jamais voltarão a brindar as suas famílias com sua presença e serão recordados apenas pelos seus parentes e amigos;

- A IURD, não assumirá quaisquer responsabilidades perante ao sucedido uma vez que tal atitude poderá estragar o seu negócio;

- As autoridades que devem investigar este caso poderão confrontar-se com aspectos de vária ordem quer políticos ou administrativos que acabarão por beneficiar os “culpados”;

- Seria bom que as famílias lesadas constituíssem advogados para levarem os promotores desta barbaridade as barras do tribunal, vermos estes pagarem pelos danos causados de forma (in)voluntária a estas famílias.

Antes de terminar deixo uma frase de minha autoria para os tais fiéis pensarem e mudarem de atitude: “ O ser humano não é imortal. Porém, não precisa acelerar a sua mortalidade com a negligência de actos promovidos por organizações de caracteres duvidosos (certas igrejas). ”