Luanda - Se Hugo Kalumbo pudesse estar frente a frente com José Eduardo dos Santos, dir-lhe-ia apenas que «viesse a público pedir desculpa ao povo angolano pela sua incapacidade de cumprir o papel de Presidente e que deixasse o cargo à disposição dos que têm vontade de governar, de servir – e não de se servir».

Fonte: SOL

O activista cívico de 23 anos foi um dos organizadores da manifestação de 22 de Dezembro, em Luanda, que exigia saber o paradeiro de dois companheiros desaparecidos em Maio de 2012. Kalumbo e outras sete pessoas foram detidas durante seis dias por alegados distúrbios na via pública e danos patrimoniais. Todos vão aguardar julgamento em liberdade.

Descontente com a situação política e social em Angola, Kalumbo e outros activistas fundaram, em 2011, o Movimento Revolucionário (MR), que organizou a manifestação contra o Governo de 7 de Março de 2011 e a subsequente marcha, a 2 de Abril do mesmo ano, pela liberdade de expressão no país.

Na internet, contam com o site Central 7311 (em homenagem à manifestação de 7 de Março), plataforma online para dar voz aos insatisfeitos. «Não temos um número exacto, mas em Luanda seremos cerca de dois mil», adianta Kalumbo.

Um movimento cívico

Salomão ‘Alemão’ Francisco, de 25 anos, outro detido do dia 22 de Dezembro, juntou-se ao MR na manifestação de 2 de Abril: «Revi-me nos ideais. É a questão da democracia, da liberdade, da paz, de ter água, luz eléctrica, mais educação, mais justiça social», relata. O jovem trabalhador e estudante, que quer «fazer parte deste grupo mesmo apanhando porrada e indo preso», esclarece que o MR «tem membros de todos os partidos políticos e membros apartidários». «São sobretudo jovens», conta.

À descrição, o colega Gabriel Chakussanga, ligado ao MR desde a sua fundação e também detido a 22 de Dezembro, acrescenta que o Movimento Revolucionário está representado «no Uíge, Benguela, Huambo e Luanda, não tem um líder nem contribuições financeiras de nenhum partido».

As duas versões da manif

O dia 22 de Dezembro começou com a concentração de cerca de 300 pessoas no Largo da Independência, em Luanda. A marcha, autorizada pelas autoridades, deveria ter seguido até ao Palácio da Justiça – mas, antes de chegarem ao destino, os manifestantes foram interceptados pela polícia antimotim, na Rua Presidente Marien Ngouabi, na Maianga.

Hugo Kalumbo estava na frente da manifestação, a «manter calmos os companheiros e a tentar localizar o responsável pela operação policial».

Segundo o activista, que já foi sete vezes detido, a Polícia «começou a espancar, com porretes, alguns manifestantes». Seguiram-se «lançamentos de bombas de gás lacrimogéneo, balas de borracha que atingiram manifestantes e balas reais, mas só para o ar».

Ao SOL, o comandante-geral da Polícia Nacional, Ambrósio de Lemos, defendeu a detenção dos suspeitos. O responsável declarou que a força foi levada a intervir após «actos de vandalismo como o arremesso de pedras contra viaturas e a obstrução da circulação» na Rua Presidente Marien Ngouabi. Ambrósio de Lemos negou ainda que a marcha pelo centro de Luanda tivesse decorrido sem acompanhamento policial. «Foram acompanhando à distância».