Benguela – Um «esquema», no qual estarão envolvidos uma empresa de lixo e outra de fiscalização, terá permitido que vários milhões de Kwanzas tenham sido desviados dos cofres locais do Estado. Em terras de Ombaka suspeita-se que estejam também envolvidos nesse processo de saque alguns responsáveis do Executivo do general Armando da Cruz Neto, que terão escancarado desmesuradamente as portas dos cofres do palácio cor-de-rosa.

Fonte: SA

Com o maior ou menor grau de cumplicidade, alguns funcionários do Governo de Benguela terão colhido proventos financeiros com o pagamento de facturas falsas à AmbiÁfrica, uma empresa ligada à recolha de resíduos sólidos. Documentos em posse do Semanário Angolense atestam que a referida empresa terá recebido dinheiros dos cofres do Estado, sem que tivesse prestado serviços ao Executivo local.

Há indicações de que o director do Ordenamento do Território, Urbanismo e Ambiente do Governo Provincial de Benguela, Zacarias Camwenho, seja o principal «cérebro» do esquema que culminou com a subtracção fraudulenta dos dinheiros do Estado.

Ao que se apurou, a AmbiÁfrica terá emitido durante sete meses várias facturas a cobrar o pagamento de supostos serviços de recolha de lixo na zona «F» do município de Benguela, que compreende os bairros Kapiandalo, Calomburaco, Mina, Taka, Caungo, Graça e Damba--Maria. Para o efeito, esta empresa terá contado com a cumplicidade de uma outra denominada Eco-Urb, que, numa determina determinada altura, tinha contratada pelo Governo de Benguela para fiscalizar os trabalhos das operadoras de limpeza na província.

Dados em posse do SA dão conta que a empresa que supostamente fazia trabalhos de recolha de lixo terá «chafurdado no lixo» de Novembro 2011 a Maio de 2012, um período que, curiosamente, coincide com o afastamento rocambolesco da Sonauto deste próspero negócio.

Embora não tivesse sido possível apurar com exactidão as somas monetárias supostamente desviadas, cálculos feitos «por alto» por algumas fontes contactadas pelo SA apontam que as mesmas dariam para a construção de quatro escolas, com seis salas cada.

As suspeitas de envolvimento de funcionários do Executivo de Armando da Cruz Neto no «negócio do lixo» são adensadas pelo facto do desbloqueamento de verbas ter sido feito a partir «cima», ou seja, com base em ordens superiores. «O director do Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística (GEPE) do Governo provincial, Manuel Valódia Sardinha, podia libertar as verbas, sem ordens superiores?», eis uma pergunta que alguns benguelenses levantar.

A resposta à pergunta pode, eventualmente, ser encontrada na medida tomada, em 14 de Novembro de 2011, pelo director do Ambiente, que, naquela data, terá decidido afastar a Sonauto e, no seu lugar, substitui-la pela AmbiÁfrica, «sem razões aparentes», segundo adiantaram as fontes deste jornal.

Sintomático ou não, o facto é que Zacarias Camwenho ordenará na altura que a substituição fosse efectuada na zona «F», onde curiosamente, a Sonauto prestava serviços, depois de ter saído vencedora de um concurso público promovido pelo próprio Governo de Benguela.

Executivo promete inquérito

O semanário Angolense contactou o responsável da empresa de fiscalização urbana Eco-Urb, Júlio Cordeiro, no sentido de se pronunciar sobre o assunto, uma vez que as facturas falsas emitidas AmbiÁfrica terão sido «autenticadas» pela sua empresa na qualidade de fiscalizadora, tendo ele, ao invés de confirmar ou desmentir a informação, ter partido, de forma grosseira, para a ameaça.

Deixando transparecer que estava seriamente perturbado, disse depois que só prestaria informações caso fosse previamente autorizado ao fazê-lo pelos responsáveis da Direcção do Ambiente do Executivo benguelense.

As tentativas de ouvir a versão do director do Ambiente, Zacarias Camwenho, não foram bem-sucedidas, já que, segundo se soube, ele «está ausente do país». A secretária do referido responsável negou-se a fornecer o endereço do correio electrónico do visado, alegando não estar autorizada a fazê-lo. Ninguém ligado ao gabinete de Camwenho se mostrou disponível a falar sobre o assunto.

Confrontado com os documentos em posse do Semanário Angolense, o vice-governador para o sector Técnico e Infra-estruturas, Henrique António Calengue, promete que o Executivo local irá «criar uma comissão de inquérito para apurar os factos e os seus resultados serão divulgados».

Convidado a comentar sobre o assunto, o jurista Botelho Vale de Jesus disse que caso se confirmem as denúncias todos os envolvidos incorreriam em crimes de peculato e abuso de confiança, pelo que deveriam ser responsabilizados tanto do ponto de vista penal, como também cível.

Questionado sobre qual seria a medida a tomar pelo governador de Benguela, sublinhou que o general Armando da Cruz Neto devia ser a primeira entidade interessada no esclarecimento desse alegado escândalo de corrupção política, «sob pena do seu governo cair em descrédito».