De acordo com os despachos das principais agências internacionais ontem, o julgamento do Angolagate vai prosseguir normalmente após a rejeição do Tribunal de Recurso de Paris dos requerimentos que pretendiam o exame prévio das respectivas contestações.

As contestações foram levantadas pela defesa do principal réu Pierre Falcone, e pelo advogado destacado pela República de Angola ao processo, Mestre Francis Teitgen.

Falcone e Angola insurgiram-se contra a decisão dos juízes do Angolagate de deliberar sobre a sua contestação somente no exame da questão de fundo, na altura do desfecho do julgamento, tendo procurado, junto da Câmara de Apelação, que este forçasse o tribunal ao pronunciamento imediato.

Mas, numa ordem emitida sexta-feira passada e publicada somente ontem, segunda-feira, Christiane Beauquis, a presidente do Conselho de Administração do 9o Tribunal de Apelação de Paris, indeferiu em direito a contestação e deu luz verde ao tribunal para continuar o seu julgamento.

Nas suas alegações, os autores da contestação frisaram entre outros que alguns documentos apreendidos durante a instrução não deviam ser tornados públicos para não violar a soberania do Estado Angolano.
 
Frisaram, também, que Falcone agira como mandatário de Angola, país que o nomeou ministro-conselheiro na Delegação Permanente junto da UNESCO desde 2003, gozando por isso de imunidade diplomática.
 
Desde o início do julgamento no dia 6 de Outubro corrente, a defesa tem multiplicado as manobras dilatórias para tentar inviabilizar o julgamento.
 
Clearstream

Questionou, neste âmbito, a integridade do juiz de instrução, Philippe Courroye, por suspeitas reuniões que mantivera com o ex-chefe das Informações Gerais da Polícia, julgado próximo do antigo presidente Jacques Chirca, Yves Bertrand, cujos blocos de apontamentos foram apreendidos no escândalo ‘Clearstream’.

A defesa pediu que esses blocos fossem integrados no processo e o ex-ministro do Interior, Charles Pasqua, arguido no ‘Angolagate’, anunciou, no sábado passado, a sua intenção de apresentar uma queixa contra Yves Bertrand, após publicação na imprensa de extractos destes cadernos.

Ontem, foi a vez de Me William Goldnadel, advogado de Arcadi Gaydmak, o ex-parceiro de Pierre Falcone refugiado em Israel, a anunciar que o seu cliente, igualmente, processaria Yves Bertrand pela difusão dos apontamentos caluniosos contra si, constantes nos tais blocos.


Outras figuras, como Arnaud Montebourg, eminente escritor, e Jean-Noel Xícaras, ex-jornalista e ex-chefe da Rádio Monte Carlo (RMC), anunciaram a mesma queixa.

Todos eles foram antrecipados pelo próprio presidente francês em exercicio, Nicolas Sarkozy, o qual formalizou queixa contra Yves Bertrand, no caso ´Clearstream´, por  ´´ denúncias caluniosas, falsificação e violação da intimidade da vida privada.

A reviravolta

O procurador acabou por anunciar, na segunda-feira a disponibilidade de remeter os controversos blocos de notas à 10 Sala do Tribunal de Paris, que julga o ´Angolagate´.

Os 23 blocos foram apreendidos no início de 2008, em conexão com outro caso, chamado ´Cleartream´, e trechos dos mesmos mostram que o entao chefe das Informacoes Gerais da Policia, de 1992 a 2 2004, andou a respingar informacoes sobre a privacidade de varias muitas personalidades.

Na semana passada, ainda, o vice-procurador, Victor Romain, opôs-se ao pedido dos advogados da defesa que queriam o acesso aos citados blocos nestes termos:  "A nossa opinião sobre a utilidade destes livros para o julgamento em curso não mudou. São perfeitamente estranhos ao debate e sem nenhum interesse, além de serem bastante incompreensíveis e serem alvos de queixas por falso e denunciações caluniosas, o que deixa espantoso sobre a sua credibilidade.

Na reviravolta de ontem, afirmou: ´´a serenidade das discussões que temos recomenda quen nós,  procuradoria-geral da república, tomemos a iniciativa de remeter esses cadernos para a nossa audiência", completou o magistrado.

Sarkozy, Chirac

Sarkozy acredita que os seus rivais andaram a conspirar contra a sua candidatura ao aproximar as eleicoes presidencias de 2007.

Várias personalidades da direita e esquerda partilham a ideia de que, entre 1997 e 2002, Yves Bertrand co-geria, no Eliseu,  com Dominique de Villepin, então secretário geral da Presidência, uma 
"oficina na sombra ", para coletar informações susceptíveis de prejudicar os adversários de Jacques Chirac.

Foi neste contexto, aferem estas suspeitas que Yves Bertrand, enviou, à Justiça, em 2004, as falsas listagens de contas bancárias da empresa Clearstream.

O procurador, já teve, neste âmbito, de ouvir em instrucao o também ex-primeiro-ministro, Dominique de Villepin, por "cumplicidade em calúnias ". Villepin negou qualquer conspiração, sustentantdo que ´´fazia apenas o meu trabalho´´.

O certo, agora, é que todos os 42 réus do Angolagate esfregam as mãos de contento, pois os seus advogados podem vasculhar, doravante, os famosos apontamentos do escandalo Cleaerstream.

Com uma convicçao: encontrarão nos mesmos dados que irao esvaziar o julgamento em curso do Angolagate.

Fonte: Apostolado