Luanda – Conheci muito distante o jovem Kituxi (nalgumas vezes que fui a Paróquia de S. Paulo de Luanda) e, pelo que ouço e leio sobre ele faz-me pensar na grandeza da sua alma depois de ter atravessado o calvário da doença que o vitimou: "um câncer na face". Infelizmente, constato que em Angola o sentido da vida vai perdendo o seu valor e se vai ganhando espaço nas coisas fúteis.

Fonte: Club-k.net

De facto, a coisa mais fácil de se fazer hoje é enterrar um morto (depois de vê-lo morrer) porque os funerais estão sempre cheios e concorridos. Oh Kituxi, tu foste tão-somente mais uma vítima de uma má gestão daquilo que devia ser para todos.

Em tempo oportuno faltaram-te os protectores solares (que em Angola são caríssimos, isto quando se encontram) e, quando a tua enfermidade se agudizou faltou-te o apoio e a solidariedade das instituições e das pessoas que mandam nelas... Mas tu não és filho de ninguém!?!

Muito provavelmente padecestes das horríveis dores de um câncer da pele sem teres direito aos paliativos para, pelo menos, atenuar as dores que te torturavam e consumiam...

Agora que estas lá nos esplendores, depois de teres atravessado o rio para entrares no convívio dos nossos ancestrais, reza para que este mal que os insensíveis, os corruptos e os incompetentes te causaram (roubando a tua jovem existência) não se transmita aos albinos mais vulneráveis e empobrecidos pela miséria.

Dizem que tu soubeste-te defender contra a ignorância discriminatória, contra os que pensavam que o teu ser 'albino' te diminuía na dignidade; dizem que soubeste demonstrar que eras inteligente e esperto tal como alguém outro de pele menos clara ou mais escura (como se esse acidente tivesse importância alguma, que cabe só na estupidez dalguns iluminados).

A tua existência foi breve, mas marcante. Agora que estas ali no seio dos nossos antepassados... Perdoa e reza pelas pessoas e pelas instituições que te negaram o tratamento e a vida.

Para a insensibilidade (ou a incompetência) deles a tua morte de câncer é a morte de mais um albino, quase pessoa, quase superstição... E nada mais. Aliás, como tu, mais jovens ou mais velhos, quantos morrem nas tuas condições ou piores do que tu? e, que importância faz?

De facto é, se calhar... Mas dentro daquele pobre albino havia uma dignidade e uma alma que eles não conseguiram assassinar!!!

Posso imaginar a tua dor e o teu sofrimento, porque tal como tu, uma irmã minha sucumbiu em condições similares e hoje repousa o sono dos antepassados... Esta é a minha oração para ti, meu amigo que nunca conheci!

OBS: Me perdoem os homens das instituições sanitárias... Mas, creio ser exagerado o pouco que não fazeis.

NOTA: Texto extraído no mural do autor no Facebook